Há uma tendência generalizada em fazer de nossos programas educacionais e de muitas de nossas escolas uma fábrica de cérebros pré-programados. A educação voltada para as necessidades de mercado e não para as qualidades vocacionais do indivíduo. Não mais se escuta a voz do coração do estudante. “Escutar o outro, como Jesus ao demonstrar em toda sua pedagogia, é o ponto de partida para acolher, compreender, problematizar e transformar a realidade” (TBCF 27).
É verdade, há louváveis exceções. O sucesso da educação vai da separação dos interesses coletivos das necessidades individuais. O contrário seria uma tarefa de laboratórios cibernéticos, onde a máquina robotizada recebe volumes infindos de informações, apreende, mas nada aprende com elas. Está programado para ouvir uma voz, um “enter” de comando, nunca a voz do coração, da razão. (Quase mudo o título para Coração de Estudante, mas deixemos assim…). O texto base da CF 2022 continua insistindo na questão da escuta, pois “para escutar o “todo” é necessário não se perder diante do “tudo” Frase filosófica por excelência, mas bem explicada em seguida: “O excesso de informações de notícias verdadeiras e falsas, de certezas sobre opiniões, constitui um desafio para o bem escutar, ou seja, para escutar o conteúdo essencial de um presente ruidoso” (31).
Essa é a nova realidade do mundo globalizado, onde as informações nos chegam à velocidade da luz. Mas sem luzes que clareiem a mente confusa dos nossos jovens. “Aprendemos com mais facilidade sobre as coisas, mas não temos o mesmo desempenho para aprender sobre nós mesmos” (36). Há um isolamento mais corrosivo do que aquele que nos forçou a pandemia, como também aqueles que nos obrigam à guerra em seus bastidores democráticos. “É necessário educar para reverter essa tendência de esvaziamento do coletivo e da crise do compromisso comunitário” (39). Sair do cada um pra si, sem Deus pra todos. “As invenções surgidas a partir das grandes guerras e pandemias indicam que nossa capacidade de responder rapidamente costuma acontecer quando o objeto da aprendizagem está fora de nós” (42). O instinto fala mais do que a razão.
Por isso há que se pesar as informações que nos chegam. Dizem que uma criança moderna recebe centenas de milhares de vezes mais informações do que um faraó do Egito ou um rei da Mesopotâmia. Essas informações geram conhecimento e sabedoria e nos aproximam da realidade, mas igualmente afugentam e amedrontam muitos de nós. “Viver, em qualquer tempo histórico, é também conviver com o imprevisível e com as ambiguidades da vida” (51), tais como pandemia e guerra. No entanto, o papel da educação deve sempre visar a formação humana, que leva o indivíduo a participar do seu momento histórico “de modo integral e solidário” (54), nunca omitindo-se. As crises da pandemia e da guerra despertam “interesses para perspectivas humanistas da educação. É preciso educar para viver em comunhão. Educar para conceber a democracia como um estado de participação” (57).
Não há como fugir dessa nova realidade: o mundo conflituoso e doentio que marcará toda uma nova geração de crianças e adolescentes. Os mestres dessa geração, mais do que nunca, devem “falar com sabedoria e ouvir com amor”. Com a voz da experiência, mas os ouvidos sensíveis aos apelos do coração sedento. E, como o profeta atento à vontade de Deus, não à ignorância dos homens, dizer sempre: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” (1Sam 3,9).