Amados irmãos e irmãs,
Celebramos hoje o 3º Domingo do Tempo Pascal, e a Liturgia da Palavra nos convida a reconhecer o Ressuscitado que se faz presente nas realidades concretas da vida e que transforma o desânimo em missão, o fracasso em fecundidade, o medo em coragem.
No Evangelho (João 21,1-19), Jesus aparece novamente aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades, onde eles estavam pescando. Era noite, e “naquela noite nada apanharam” (Jo 21,3). Essa cena retrata bem a experiência de frustração que muitas vezes enfrentamos: trabalhamos, nos esforçamos, mas os resultados parecem não vir. No entanto, “ao amanhecer, Jesus estava na margem, mas os discípulos não sabiam que era Jesus” (Jo 21,4).
Jesus então lhes diz: “Lançai a rede à direita da barca e achareis” (Jo 21,6). Eles obedecem e, surpreendentemente, a pesca é abundante. João, o discípulo amado, reconhece a presença do Ressuscitado e exclama: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Esse reconhecimento só é possível para quem ama profundamente e vive em intimidade com Cristo. A experiência pascal passa pelo olhar da fé que sabe perceber o Senhor presente nas ações mais simples do cotidiano.
Depois da refeição, Jesus dirige-se a Pedro, que o havia negado três vezes, e lhe pergunta também três vezes: “Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo 21,15-17). A cada resposta afirmativa de Pedro, Jesus lhe confia a missão: “Apascenta os meus cordeiros… Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15.16.17). O amor a Cristo é a única base legítima para a missão. E ao final, Jesus conclui com o mesmo convite do início da caminhada: “Segue-me” (Jo 21,19). O Ressuscitado reconcilia Pedro com seu passado e o envia para apascentar o rebanho, agora com mais humildade e profundidade.
A primeira leitura, tirada dos Atos dos Apóstolos (At 5,27b-32.40b-41), mostra Pedro e os demais apóstolos sendo interrogados pelo Sinédrio por continuarem a anunciar Jesus, mesmo após terem sido proibidos. Pedro responde com firmeza: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5,29). Mesmo depois de serem açoitados, “saíram do Conselho muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus” (At 5,41). A fidelidade à missão brota da experiência do Ressuscitado e sustenta o testemunho mesmo diante da perseguição.
Na segunda leitura (Ap 5,11-14), o vidente João contempla a liturgia celeste: “Vi e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono… Eram milhares de milhares” (Ap 5,11), e todos aclamavam: “Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder, a riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor” (Ap 5,12). Este é o centro de nossa fé: o Cristo ressuscitado, imolado como Cordeiro, glorificado e adorado no céu e na terra. Toda a criação se une em louvor: “Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor, a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos” (Ap 5,13).
Queridos irmãos e irmãs,
A liturgia deste domingo nos ensina que a presença do Ressuscitado não se restringe aos momentos extraordinários. Ele se manifesta na beira da praia, no cotidiano, no trabalho, na fragilidade humana. E pergunta a cada um de nós: “Tu me amas?” (Jo 21,15). Amar o Senhor implica estar disposto a segui-Lo, mesmo quando a missão for exigente, mesmo quando houver falhas e quedas no caminho. O Ressuscitado sempre nos reergue e nos envia de novo.
Que possamos, como Pedro, renovar nosso amor ao Senhor e deixar que Ele transforme nossa vida. Que saibamos, com o auxílio de Nossa Senhora, dizer com fé e alegria: “É o Senhor!” (Jo 21,7), e que, como os anjos e santos no céu, rendamos a Ele todo louvor e glória. Amém.