Vivi a envolvente experiência de uma sedutora e bem contada história cinematográfica. O filme Dois Papas, do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, a princípio me cativou e roubou-me alguns aplausos, especialmente pela impecável atuação e similaridade física dos atores principais com seus representados, que foram capazes de prender o público num enredo recheado de fatos reais e da licenciosidade poética do produtor brasileiro. Verdade e ficção bailam à nossa frente sem que possamos identificá-las de imediato. Um recurso comum a filmes dessa espécie, que mostram histórias verdadeiras costurando a realidade com a tendenciosa linha da mentira bem contada. Fica então a pergunta: o que está por trás dessa brilhante película que a sétima arte humana nos oferece?
Vejam que não deixo de aplaudir a beleza desse filme. Mas tenho meus pés pisando cautelosamente o chão da realidade. Primeiro porque ninguém de princípios mundanos vai contar gratuitamente uma história de fé, sem a astúcia demoníaca dos que tentam destruir a solidez da Igreja. O mundo não aceita a doutrina cristã sem antes questionar, pressionar, criticar e ridicularizar muitos dos seus princípios ou dogmas contrários à futilidade de uma vida sem regras. Esse é o poder sonhado e incansavelmente perseguido pelo Pai da Mentira, cuja sutileza e sagacidade atua em todos os campos da inteligência humana. Até na sua arte. Em especial, na envolvente arte cinematográfica. O Demônio sabe disso.
Tanto sabe, que são incontáveis os produtos dessa arte com o dedo satânico da crítica, persuasão ou simples ridicularização da fé cristã nos últimos tempos. Títulos como “A última tentação de Cristo” (1998), “Je vos salue, Marie” (1985), “A paixão de Cristo” (2004), “Jesus Cristo Superstar” (1993) e mais recentemente a triste paródia brasileira denominada “A primeira tentação de Cristo”, que superou em muito a ousadia diabólica na arte de publicar suas blasfêmias contra a fé. Não podemos menosprezar a inteligência do Demônio. Então repito a pergunta similar àquela de Pilatos: onde está a verdade?
A astucia diabólica do filme em questão está em confrontar posições de dois líderes contemporâneos. O enredo se limitou a diálogos de várias reuniões “imaginárias” entre o Papa Bento XVI e o então cardeal Jorge Bergoglio, o futuro Papa Francisco. Diálogos pessoais não poderiam ser gravados ou documentados por terceiros. Aqui começam as mentiras. Depois é evidente a preocupação do redator em realçar a suposta empatia entre os dois personagens, rotulando ao primeiro como “incapaz de dialogar com o mundo” e ao segundo como “mente aberta e revolucionária para as reformas necessárias dentro da Igreja”. A contraposição é pano de fundo para a surpreendente renúncia de Bento, que supostamente tramou e articulou a escolha de Francisco. Como se a ação do Espírito fosse apenas uma carta marcada e bem planejada anteriormente. A esse respeito, muito bem disse o bispo espanhol D. José Ignacio Munilla: “Tudo isso tem um objetivo que está absolutamente a serviço da heresia de nossos dias, que é a contraposição entre a verdade e a caridade, que se apresenta de uma maneira recorrente”. Bento XVI seria o amante do radicalismo exigido pela Doutrina, representado aqui pela fidelidade aos dogmas, à verdade e à fé, conquanto Francisco seria um forte inimigo das posições de seu antecessor, que defenderia uma maior abertura da Igreja à realidade do mundo, condescendente com situações de homossexualidade, aborto, sacerdócio feminino, etc, etc… Eis a dualidade de posições sutilmente manipulada, capaz de mostrar aos incautos uma Igreja dividida. Esse é o risco de um filme isento do senso crítico. Ridicularizar nossa fé e nossas posições antagônicas. Simplesmente isso.