As palavras de Isabel apresentam o fundamento da grandeza de Maria elevada de corpo e alma para o céu: “Ditosa aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1,45). O Papa Francisco asseverou que “a Mãe do Senhor é o ícone perfeito da fé [,,,] Na Mãe de Jesus, com efeito, a fé trouxe todo o seu fruto”. É que na plenitude dos tempos a Palavra de Deus foi a ela dirigida e ela a acolheu com todo o seu ser no seu coração. Ela, com efeito, engajou toda sua vida na vontade de Deus o que ela bem expressou ao dizer ao Anjo da Anunciação: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). O “sim” de Maria foi total, sem condições, um contrato sem cláusulas restritivas, um cheque em branco. Sua entrega à obra salvadora foi irrestrita. Ora, o mistério de sua Assunção aos céus no final de sua vida se relaciona integralmente com a maternidade divina. Seu “sim” repercutira junto da Santíssima Trindade e “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Aquela que se tornara “theotokos”, a Mãe de Deus, e já havia sido chamada por Gabriel a “cheia de graças” (Lc 1,28) no final de sua existência deveria, de fato, imediatamente após sua morte, ressuscitar. Foi levada para junto do Pai do qual era Filha amantíssima, do Filho que dela tomara a natureza humana, do Espírito Santo do qual era esposa virginal. É com imensa alegria então que a Igreja celebra esta sua assunção aos céus. Júbilo dos filhos de Deus que são ao mesmo tempo filhos e filhas de Maria. Este gaudio se fundamenta, portanto, no fato de que nossa Mãe, a nova Eva que nos gerou para a vida sobrenatural, já se acha lá junto do trono de Deus depois de se tornar na terra a Virgem dolorosa, corredentora da humanidade junto da Cruz de seu Filho. Sua Assunção prefigura nossa ressurreição futura e somos destinados ao mesmo itinerário de glória através das vicissitudes terrenas, dos sofrimentos inerentes a um vale de lágrimas. Paira, contudo, para todos os seus filhos e filhas a certeza de que ela no céu os acompanha nesta terra e oferece todas as graças para não se desviarem de seu destino sublime. Assim sendo, a solenidade da Assunção de Maria é um convite para todos. Seria um erro de consequências horrípilas se apenas fossemos tomados pela alegria da vitória de nossa Mãe e Rainha e não atinássemos que ela se tornou gloriosa porque muito amou. Um dia estaremos junto dela se soubermos a seu exemplo amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Este amor é transformante e transfigura todo o ser humano como ocorreu com Maria. Supõe um “sim” sem condições, uma livre resposta de fé à proposição do Deus que é amor. Ela foi, realmente, a mulher fiel em sua fé e associada à salvação de todos, aderida inteiramente aos planos divinos. Assim ela está a lembrar a todos a necessidade de um combate contínuo contra as forças do mal numa fidelidade completa aos dez mandamentos de Lei do Senhor. São João Paulo II na sua Encíclica “Mãe do Redentor” mostrou como é grande, como ela é heroica a obediência da fé da qual Maria deu provas incontestes face aos decretos insondáveis de Deus. Através desta fé, ela se uniu perfeitamente a Cristo num total despojamento na imitação de Jesus. É preciso que seus filhos e filhas a imitem. É necessário viver intensamente tudo que ela expressou no cântico de louvor a Deus, o “Magnificat”. Neste hino não há a exaltação da riqueza, da soberba e do poder, pois o Todo-Poderoso que fez nela grandes coisas derruba os príncipes dos tronos e exalta os humildes. É esta humildade que resplandeceu em Maria que abre o coração para partilhar em Deus esta maravilha da comunhão com sua vontade santíssima. Tudo isto abrindo para todos as perspectivas concretas da esperança da conquista da salvação eterna. Para isto cada um deve se interrogar sobre a maneira como a fé em Cristo pode transformar sua vida e a fazer mais frutuosa como ocorreu com Maria. Ela deseja que seus filhos e filhas não se deixem levar pelas ilusões dos meios de comunicação social e pela sordidez de sites pornográficos que impedem a muitos a viver a vida da graça santificante. Ela deseja que seus filhos e filhas não se deixem aprisionar nos delírios de uma sociedade de consumo. Ela quer que o amor de Deus dilate todos os corações nas dimensões do coração de seu divino Filho. Ela augura uma sociedade fraterna e responsável que abra as portas para todos e não para uma minoria privilegiada. Ela conclama a todos à luta pelos valores que engrandecem o ser humano destinado a alcançar a mesma bem-aventurança que ela já desfruta lá no céu, onde está a nossa espera. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.