A realização da reunião do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) no Rio de Janeiro, neste ano de 2025, trouxe novamente ao coração da Igreja latino-americana a convicção de que somos uma Igreja que caminha, escuta e serve, inserida profundamente na vida do povo.
O solo carioca — marcado pela beleza da criação e pelas dores das periferias humanas — foi terreno fecundo para os diálogos, partilhas e escuta sinodal dos bispos, assessores e representantes das diversas conferências episcopais do nosso continente. Como pastores, fomos ao encontro uns dos outros para renovar a missão confiada por Cristo: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19).
Voltar ao Brasil para uma reunião do CELAM é, de certo modo, revisitar Aparecida, cuja 5ª Conferência em 2007 marcou um divisor de águas em nossa pastoral. O documento que ali nasceu, guiado pela inspiração do Espírito e com a decisiva colaboração do então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, nos lançou no dinamismo da conversão pastoral e missionária.
Hoje, sob a liderança do Papa Leão XIV, filho da América do Norte e com significativo trabalho na América Latina, reafirmamos o compromisso de uma Igreja em saída, sinodal, pobre com os pobres e comprometida com a justiça social, o cuidado da Casa Comum e o protagonismo dos leigos.
A cidade do Rio de Janeiro acolheu a reunião do CELAM como expressão viva das tensões do continente: ao mesmo tempo em que ostenta belezas naturais e riqueza cultural, também sofre com a violência, as desigualdades, a exclusão social e os gritos dos jovens, das famílias e dos pobres.
Foi nesse chão contraditório, mas profundamente evangelizador, que os pastores da América Latina e do Caribe se reuniram para escutar o clamor do povo, discernir os desafios pastorais e sonhar juntos os caminhos da Igreja para os próximos anos. O processo sinodal global, que vivemos desde 2021, foi presença viva nas nossas reflexões e propostas.
A reunião concentrou-se em três grandes eixos, profundamente interligados:
- Escuta sinodal: Continuamos a aprender a arte de escutar, com o coração livre de preconceitos. Escutar os jovens, os indígenas, as mulheres, os consagrados e os leigos em todas as suas realidades.
- Discernimento pastoral: A complexidade do nosso tempo exige pastores atentos aos sinais de Deus na história. A pobreza crescente, as migrações forçadas, as ameaças à democracia e a secularização desafiam a fé vivida no cotidiano.
- Missão profética: A Igreja latino-americana quer continuar sendo voz profética diante das injustiças, da destruição da natureza e da idolatria do poder e do dinheiro. O Evangelho deve iluminar os povos com esperança, libertação e comunhão.
Na pluralidade dos rostos presentes — bispos, religiosas, teólogos, agentes de pastoral — sentimos a riqueza de nossa Igreja. As contribuições do Brasil, da Amazônia, do Cone Sul, da América Central e do Caribe apontaram para uma Igreja que não teme os conflitos, mas dialoga com firmeza e mansidão.
A presença viva dos leigos nos lembrou que a missão não se realiza apenas no altar, mas também no mundo do trabalho, da cultura, da educação, das redes sociais e da política. A voz dos jovens ressoou com vigor: querem uma Igreja mais coerente, mais acolhedora, mais corajosa.
Como fruto dessa reunião, reafirmamos:
- O compromisso com a evangelização inculturada e com uma catequese que forme discípulos maduros e comprometidos;
- A prioridade pastoral para os pobres, migrantes, povos originários e mulheres em situação de exclusão;
- O investimento em comunidades eclesiais missionárias e sinodais, com estruturas pastorais mais leves e participativas;
- O incentivo a uma formação integral do clero, aberta ao diálogo e à escuta das realidades sociais;
- A coragem para assumir posições proféticas, mesmo diante de estruturas de poder opressoras.
O CELAM nasceu carioca. O seu primeiro presidente foi o Cardeal Jaime de Barros Câmara. A volta do CELAM ao Rio de Janeiro renova a alma dos bispos que peregrinam na América Latina. Ali, mais uma vez, demonstra-se, pela ação missionária da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, pelo testemunho de seu Arcebispo, do clero e do povo santo de Deus, que a Igreja da América Latina e do Caribe é uma Igreja viva, pobre, alegre, acolhedora e fiel ao Evangelho. Somos chamados a continuar caminhando, não como donos da verdade, mas como peregrinos da fé, irmãos e irmãs que se ajudam mutuamente a seguir Jesus.
Peçamos à Mãe Aparecida, estrela da evangelização neste continente de esperança, que nos ajude a viver com fidelidade a missão recebida: ser pastores com o cheiro das ovelhas, comprometidos com o Reino e com os pobres.
Que o Espírito Santo continue conduzindo o CELAM e toda a nossa Igreja a ser sinal do amor de Deus neste continente tão amado.