Deus, rico em misericórdia

    No segundo domingo da Páscoa, conhecido antigamente como “Domingo In Albis”, isto é, “Domingo Branco” (quando os batizados na Páscoa entregavam as suas vestes brancas depois de uma semana de mistagogia), hoje, muitas pessoas recordam o dia da sua Primeira Comunhão, ou da sua Comunhão Solene. Isso porque, em anos mais recentes, era neste dia que se celebrava, preferencialmente, a primeira comunhão das crianças. Era uma forma ligar a Eucaristia à Páscoa, completando, desta forma a alegria pela ressurreição de Jesus.

    Com o Papa São João Paulo II, esse domingo foi dedicado recentemente à Divina Misericórdia, convidando-nos a nos aproximarmos de Deus sem medo de sermos menosprezados ou rejeitados. É um ensino bastante diferente daquilo que muitos de nós aprendemos na infância, quando éramos alertados a ter medo de Deus porque Ele nos iria castigar pelos pecados cometidos.

    A motivação para colocar o segundo domingo da Páscoa como o Domingo da Divina Misericórdia, encontra amparo na consciência de que “foi na ressurreição que o Filho de Deus experimentou de modo radical a misericórdia do Pai, que é mais forte do que a morte” (São João Paulo II, Carta Encíclica Dives in Misericordia). Depois de ter passado pela dor do abandono e pela morte na cruz, “Cristo revelou o Deus do amor misericordioso, precisamente porque aceitou a Cruz como caminho para a ressurreição”. A experiência que o próprio Cristo fez da misericórdia do Pai, levou-o a nos ensinar que Deus é Pai de Misericórdia, que vai ao encontro do filho que o havia abandonado cobrindo-o de beijos, conforme nos ensina a parábola do Pai de Misericórdia, também conhecida como Parábola do Filho Pródigo (Lc 15,11-32).

    É neste domingo que a Igreja faz memória da Instituição da Sagrada Confissão (= Penitência), que Jesus instituiu no mesmo dia de sua Ressurreição. Aparecendo aos Apóstolos reunidos no Cenáculo – no domingo da Ressurreição – Jesus disse: “Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados, os pecados lhes serão perdoados; aqueles a quem não perdoardes os pecados, os pecados não serão perdoados” (Jo 20,22).

    No Plano da salvação, o Pai enviou o Filho para o perdão dos pecados; e o Filho enviou a Igreja. Ele quis que o perdão dos pecados fosse dado não de maneira vaga e abstrata, mas de maneira concreta, pelos ministros da Igreja, os sacerdotes do Senhor. Por isso, o sacerdote ao perdoar nossos pecados diz: “Pelo ministério da Igreja… eu te absolvo de todos os teus pecados”. Que consolo! Que alegria, saber que o Sangue precioso do Senhor derramado na Paixão lava a nossa alma de todos os pecados. Não há misericórdia maior; não há amor mais profundo; não há certeza mais firme de perdão.

    A festa da Divina Misericórdia, ‘é celebrada no segundo Domingo da Páscoa e foi oficialmente instituída e estendida a toda a Igreja Católica no ano 2000, pelo Papa São João Paulo II. Esta festa tem sua origem na proclamação da Divina Misericórdia por meio do gesto eloquente de Jesus na cruz, doando a sua vida pela salvação da humanidade.

    Uma visão, no dia 22 de Fevereiro de 1931: na Polônia assim revela a revelação particular de Santa Faustina: “a noite estando no meu quarto vi o Senhor Jesus vestido com uma veste branca: uma mão levantada para abençoar, enquanto com a outra tocava sobre o peito a veste, levemente, da qual saiam dois grandes raios, um vermelho e o outro pálido (branco). Depois de um instante Jesus me disse: “pinte uma imagem segundo o modelo que viste, e embaixo escreve: Jesus eu confio em ti!”. E Jesus continuou: “Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia”. Esta festa está em profunda relação com a liturgia deste Domingo, pois se lê o Evangelho da aparição do Ressuscitado e da instituição do Sacramento da reconciliação, como instrumento comunicador da misericórdia e do Perdão de Deus.

    A imagem de Jesus misericordioso representa o nosso Salvador Ressuscitado que leva ao mundo a sua paz com a salvação realizada por meio da sua paixão e morte na cruz. Como lemos no relato da morte do Senhor, quando o soldado lhe transpassa o peito, do seu coração saem sangue e água. Na imagem vemos sair do seu peito de Jesus dois raios. Jesus fez grandes promessas a aqueles que venerarem a imagem de Jesus misericordioso: A salvação eterna; progresso no aminho de perfeição cristã; a graça de uma morte feliz e outras graças se os homens pedirem com confiança.

    Contudo, esta festa não é somente um dia particular de adoração a Deus no mistério da sua misericórdia, mas é um tempo de graça para todo homem. Dizia Jesus a Santa Faustina: “desejo que a festa da misericórdia seja de reparo e refúgio para as almas, especialmente a dos pobres pecadores”.

             Por isso, neste segundo Domingo da Páscoa, que a Divina Misericórdia nos ensine a sermos misericordiosos com todos e com cada um e levar ao mundo a alegria pascal que a Ressurreição traz para todos os batizados!

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