Não. Não há nada de errado com o título. O contrário da dependência é ser livre, soberano. Por isso, a maior e a melhor das aspirações da vida humana é sua independência, seu livre arbítrio que lhe proporciona escolhas, lhe permite opções entre acertos e desacertos, entre caminhos e descaminhos, entre amores verdadeiros e paixões efêmeras, entre a vida e a morte. Quem imagina e aceita impedimentos nas suas decisões pessoais, assim, sem mais nem menos? Qual povo, em sua história de ideais coletivos, não aspira à liberdade e ao direito de administrar suas próprias escolhas, para si e para os seus? Tudo isso sabemos de cor e salteado com nossos conceitos de soberania.
Algo, porém, não exala bons fluidos nos quarteis de Abrantes. Na teoria, a prática é outra – dizem estes – mas ninguém, por mais impudico ou mal intencionado em suas ações politico-sociais, é capaz de apagar o DNA da liberdade humana, essa que mesmo tolhida e desrespeitada, permanece irretocável e inquebrantável em sua força de mobilização das massas. De nada lhes serve o jogo de artimanhas e falcatruas políticas, de distorções jurídicas, de contradições religiosas… A consciência popular é clarividente. Engana-se uma ou duas vezes, mas nunca para sempre… Um dia a casa cai. E cai em cima dos engenheiros do engodo, do oportunismo, da malversação dos fatos… Porque toda Verdade, além de soberana, também é independente. Não precisa de margens turbulentas ou plácidas para revelar sua face de amor e esperança sempre contida no rosto do povo. A imagem do cruzeiro sempre resplandece como sinal de vitória.
Às vezes a linguagem enigmática de uma parábola restringe o fulgor de uma crítica, um alerta que se ouse fazer. Tal qual o presente. Estamos dependentes de um sistema, uma circunstância, um momento ou transição que seja, mas não estamos aprisionados. A maior e mais sagrada ferramenta de um povo soberano e seu poder de escrutínio, seu direito ao voto. Esse uma faca de dois gumes, pois dependendo da forma consciente de seu uso é que construiremos o futuro que sonhamos. Ou desdenhamos. O poder do voto é a espada alçada aos céus, no grito de uma liberdade realmente desejada, que nos sinaliza a vida ou a morte dos sonhos acalentados. O desastre é proporcional à consciência deste. Se a maioria tem conhecimento dessas ameaças, então temos a oportunidade de correção de rumos. Mas se apenas uma minoria se dá conta das trevas, dos furacões, maremotos e terremotos a rondar esplendidos e ingênuos berços, oremos: Salve, salve!
Um voto é o sagrado direito da escolha. Não se cumpre esse dever como uma mera ação simbólica, mas direito de cidadania. Através desse direito o cidadão constrói sua própria dignidade, fazendo ecoar na pessoa do escolhido os direitos e deveres que toma para si próprio. Se a escolha for negligente, azar o seu. Arque você com sua irresponsabilidade. Mas se por trás de um voto consciente houver toda uma cadeia de valores sociais, comunitários e até convicções pessoais ou religiosas, com certeza, esse governo, essa liderança, esse escolhido para representá-lo terá a unção do sagrado, a autoridade do Soberano que nos conduz e governa sem dependermos de maiores tutelas. Sem bolsas, sem alforjes, sem esmolas… Sem os grilhões da espada ou de qualquer jugo de morte. Porque o homem livre é aquele de dá um voto de confiança aos próprios sonhos e crenças. “A espada! A espada está afiada e polida” (Ez 21,14). Depende de seu voto.