A Igreja celebra neste domingo a festa da Dedicação da Basílica de Latrão, a Catedral do Papa, Bispo de Roma, chamada “a primeira entre todas as Igrejas”, ou seja, a Igreja-mãe de Roma. Surgida no século IV e dedicada ao Divino Salvador, foi erguida em Roma pelo imperador Constantino. Esta festa é celebrada em toda a Igreja como sinal de unidade com o Papa. Após a paz constantiniana, a Basílica do Latrão tornou-se a residência dos Papas, e nela se realizaram numerosos e importantes Concílios Ecumênicos. A dedicação daquela basílica marcou a passagem e a saída da assembleia cristã do interior das catacumbas para o esplendor das basílicas.
Nossa atenção, porém, não se detém apenas na evocação histórica do fato. Na dedicação da Basílica Lateranense, cada comunidade cristã da Igreja Latina recorda e celebra a dedicação da própria igreja — pequena ou grande que seja. Mais ainda: temos hoje a ocasião para refletir sobre o significado da Igreja enquanto edifício sagrado, onde nos reunimos a cada domingo. Consideremos, enfim, “o mistério do templo”.
O que representa, para a liturgia e para a espiritualidade cristã, a dedicação de uma igreja e a própria existência do templo enquanto lugar de culto? Desde o Antigo Testamento, o templo foi considerado pelos judeus como o lugar da presença especial de Deus. No deserto, Deus manifestava-se na Tenda do Encontro, onde Moisés falava com o Senhor como quem fala com um amigo. Nesses momentos, a coluna de nuvem — sinal da presença divina — descia e permanecia à entrada da Tenda (Ex 33,7-11). Era o lugar onde estaria presente o Nome de Deus — o Ser infinito e inefável — para escutar e atender aos seus fiéis.
Quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém, pronunciou estas palavras na festa de sua dedicação:
“É possível que Deus habite verdadeiramente sobre a terra? Se o céu e os céus dos céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que edifiquei! Mas atende, Senhor meu Deus, à oração do Teu servo e às suas súplicas; ouve o hino e a prece que o Teu servo faz hoje na Tua presença, para que os Teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, da qual disseste: ‘O meu nome estará nela’. Ouve as súplicas do Teu servo e de Israel, Teu povo, quando orarem neste lugar; ouve do alto da Tua morada, no céu, e atende” (1Rs 8,27-30).
O templo — ensina São João Paulo II — “é casa de Deus e vossa. Apreciai-o, pois, como lugar de encontro com o Pai comum” (Homilia em Madri, 3/11/1982). A igreja-edifício representa e significa a Igreja-assembleia, formada pelas pedras vivas, que são os cristãos, consagrados a Deus pelo Batismo.
As igrejas são o lugar de reunião dos membros do novo Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são, sobretudo, o lugar onde encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia — presente com sua Divindade e sua Santíssima Humanidade, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. “Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles que chegavam necessitados de todas as cidades e aldeias” (cf. Mc 6,32).
Devemos, pois, ir à igreja com reverência, pois não há nada mais sagrado do que a Casa do Senhor. Que respeito devem inspirar-nos as nossas igrejas, onde se oferece o sacrifício do Céu e da terra — o Sangue de um Deus feito homem!
A Basílica do Latrão é a Catedral da Igreja de Roma, a Catedral do Papa. À sua entrada, há uma inscrição que diz: “Mãe de todas as Igrejas da Cidade e do mundo.” Compreendamos bem: a Igreja de Roma — isto é, a Arquidiocese de Roma — é a Igreja de Pedro e de Paulo, aquela que preside a todas as outras dioceses do mundo, a mais venerável de todas as Igrejas da terra.
Santo Inácio de Antioquia, por volta do ano 97, referia-se a ela com indizível veneração. Numa carta dirigida aos cristãos romanos, o santo bispo escrevia:
“À Igreja objeto de misericórdia na magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu único Filho; amada e iluminada na vontade daquele que conduz à perfeição todas as coisas que existem, segundo a fé e o amor de Jesus Cristo, nosso Deus; àquela que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, de bem-aventurança, de louvor e pureza; colocada acima das demais na caridade; que possui a lei de Cristo e o nome do Pai.”
O Papa, como Bispo de Roma, é cabeça do Colégio dos Bispos e sinal visível da unidade da Igreja na fé e na caridade. Por isso, hoje nos unimos à Igreja de Roma na festa da dedicação — da consagração — de sua Catedral, a Basílica do Latrão.
A Catedral de cada diocese é a Igreja do Bispo, sucessor dos Apóstolos. Quanto mais significativa, portanto, é a Catedral do Bispo de Roma, sucessor de Pedro. Por isso, ela é considerada a “Mãe de todas as Igrejas da Cidade e do mundo.”
Assim sendo, a festa de hoje nos convida também a rezar pela Igreja de Deus que está em Roma e pelo seu Bispo, o Papa Leão XIV. Convida-nos a estreitar nossos laços com Roma e com o Papa, retomando a consciência do papel que ele exerce como Vigário de Cristo, a quem o próprio Senhor confiou sua Igreja, por meio de Pedro e de seus legítimos sucessores.
Num mundo tão complexo, com tantas ideias, opiniões e modas; num cristianismo que vê surgir inúmeras seitas sem fundamento teológico, sem seriedade e sem enraizamento na Tradição Apostólica — difundindo-se pela força do dinheiro e pela conivência de meios de comunicação ávidos de lucro, causando terrível dano à fé dos simples e desavisados —, reafirmemos nossa comunhão firme, profunda e convicta com a Igreja de Roma e com seu Bispo, a quem Cristo entregou, de modo particular, as chaves do Reino e a missão de confirmar na fé os irmãos.
A comunhão com Roma é garantia de permanecer na comunhão sonhada por Cristo para a sua Igreja; é garantia de permanecer na fé apostólica, transmitida uma vez por todas aos santos; é, enfim, a segurança de não cair em um cristianismo alheio ao que o Senhor Jesus pensou e instituiu.



