“A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo. Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com saudades, as paisagens de outrora, que agora vêem submersas de lixo” (LS 21). Assim o papa Francisco bem resume a motivação de sua encíclica Louvado Sejas, voltada exclusivamente para as questões ambientais e o desleixo que toma conta da humanidade. “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”, diz em seu apelo. Fazer aqui um resumo das riquíssimas e oportunas colocações desse documento é tarefa impossível. Seguirei os temas de cada capítulo, não sem antes recomendar aos leitores a leitura integral dessa reflexão comum a qualquer habitante desse Planeta, independentemente de seu credo ou mesmo sua negação religiosa. Qualquer vivente que tenha um mínimo de respeito e admiração pela casa que ocupamos nesse Universo já professa a religião da gratidão, essa que vê em tudo que nos rodeia a mão misteriosa dum Criador.
A interveniência de uma autoridade religiosa em assunto tipicamente temporal não foge de uma meta espiritual. Alerta-nos contra nossa própria autodestruição, cujos sinais tem sido crescentes e preocupantes. A cultura do descartável hoje nos domina. O clima nos surpreende ano a ano. “Há um consenso científico indicando que estamos perante um aquecimento climático”. Da mesma forma, “isto é particularmente agravado pelo uso intensivo de combustíveis fósseis” (23). E vaticina: “Se a tendência se mantiver, este século será testemunha de mudanças climáticas inauditas e destruição sem precedentes dos ecossistemas” (24). Constata ainda a crescente tragédia dos imigrantes em fuga da miséria e da degradação ambiental, além da escassez de água potável, já sob controle de grandes empresas e possível “fonte de conflitos deste século” (31). Poderemos brigar por um copo d água?
A crescente desigualdade social, cultural e tecnológica e tem nos levado ao caos ambiental. “O crescimento desmedido e descontrolado de muitas cidades que se tornaram pouco saudáveis para viver, devido não só à poluição, mas também ao caos urbano…” (43). Há ainda a desigualdade entre povos. “O ambiente humano e o natural degrada-se em conjunto” (48) Ignoramos que o desequilíbrio desses ambientes “afeta particularmente os excluídos”, maioria no planeta sobre os quais pesam os desconfortos e intempéries da natureza. Pouco ouvimos desse grito surdo. “Estas situações provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo” (53).
O papa nos pede ações e reações mais contundentes. Não bastam remendos paliativos, acordos tímidos e cautelosos com o fator econômico. Progresso significativo não é um controle mais eficiente de certas taxas emissoras de gases, ou coletas seletivas sem o devido reaproveitamento ou combate à corrupção. “Cresceu a sensibilidade ecológica das populações, mas é ainda insuficiente para mudar os hábitos nocivos de consumo” (55).
Louvado seja Deus por essa reflexão oportuna. Quando nos dermos as mãos na perspectiva de um objetivo comum, renascerá a esperança por um mundo novo. “A esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas” (61). Francisco, reconstrói a minha casa! – clama mais uma vez a voz da consciência humana, a voz de Deus.