Cremos na Ressurreição dos mortos

    Sem contestação a doutrina de Cristo: “Os mortos hão de ressuscitar” (Lc 20,37). É a verdade que se professa no Credo: “Creio na ressurreição da carne”. Santo Agostinho tem uma orientação sumamente importante: “Que teu Credo seja para ti como um espelho! Olha-te nele para ver se crês tudo que declaras crer. Alegra-te cada dia por teres fé”. Hoje, mais do que nunca, quando a doutrina pregada por Jesus é tão deturpada, sobretudo no que diz respeito à vida eterna, esta realidade sublime que um dia se dará para o ser humano precisa ser, de fato, fixada, refletida e vivida intensamente. É farol nas estradas da vida e consolo supremo para quem inexoravelmente, em qualquer estágio de sua existência, caminha para a morte. São Paulo mostrou que a ressurreição é até o fundamente da fé do cristão. Sem ela esta fé se esvai. Assim falou o Apóstolo aos Coríntios: “Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns, dentre vós, dizem que não há ressurreição dos mortos. Se não há ressurreição dos mortos, tampouco Cristo ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, então é vã a nossa pregação também, e vã é igualmente na vossa fé […] Mas, ao contrário, sim, Cristo ressuscitou dos mortos como primícia dos que repousam” (1 Cor 15, 12-14). 20). Aí o alicerce de toda religião cristã. Após a morte a alma subsiste por ser espiritual e já se encontra ou na companhia de Deus no céu, ou se purificando no purgatório, ou, para sempre, separada do Ser Supremo, se tiver conhecido a perdição eterna. O corpo tomba na corrupção, mas no dia do juízo final, Deus dará uma vida incorruptível aos corpos que estarão unidos à alma. Será um corpo transfigurado em corpo de glória como explicou São Paulo aos Filipenses(Fl 3,21). Aos Coríntios ele desceu a detalhes: “Semeia-se  desprezível, ressuscita glorioso; semeia-se  na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeia-se corpo animal, ressuscita corpo espiritual; semeia-se corpo animal, ressuscita corpo espiritual” (1 Cor 15, 42-45). Nisto é que se deve prestar bem atenção, pois na mídia certos articulistas que abordam temas religiosos negam peremptoriamente a ressurreição do corpo.  A Onipotência divina se manifesta, portanto,  também sobre o corpo mortal que é sepultado e o corpo ressuscitado que se tornará glorioso, revestido de incorruptibilidade  e imortalidade. É lógico que tudo isto ultrapassa o entendimento meramente humano e se torna accessível somente pela fé. A ressurreição dos mortos, porém, está intimamente associada à Parousia de Cristo. Foi declarado aos Tessalonicenses: “O próprio Senhor ao sinal dado, à voz do arcanjo, ao clangor da trombeta divina, descerá do céu; então ressuscitarão primeiro os mortos em Cristo; depois os vivos, os que ficarmos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o ar, ao encontro do Senhor; e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tes 4,16-17). São Paulo ensina então o grande fruto que se deve tirar desta verdade: “Consolai-vos,pois, mutuamente, com estes pensamentos” ( v.18). Fulge, assim, a luminosa esperança cristã que deve alumiar todos os caminhos neste presente exílio, dado que “as tribulações deste mundo não têm proporção alguma com a glória que um dia se revelará em nós” (Rm 8,18). Isto leva à observância corajosa dos mandamentos divinos, jamais cedendo às paixões terrenas. Oferece ânimo para cumprir os deveres de cada dia. A honrar os compromissos e, entre eles, os feitos solenemente diante de Deus no sacramento do matrimônio. Leva, de fato, à fidelidade conjugal e à total lealdade para com Deus. É, deste modo, que o cristão se prepara com toda segurança para a passagem da morte para a vida perene na Casa do Pai, aguardando o dia venturoso da ressurreição final. Regrar toda a existência segundo os desígnios de Deus resulta de todas estas reflexões. Uma consciência da fragilidade das vantagens temporais não vendo nelas o fim último do destino humano. São João Crisóstomo num de seus mais belos sermões alertou aqueles que pensam que, um dia, não vão dar contas a Deus das ações praticadas nesta terra. São os que se fecham nos limites da vida presente, pensando que além dela não existirá mais nada e daí o desprezo pelas virtudes. Então, tais pessoas não se afastam das más ações e se abandonam a seus desejos desregrados. Aqueles, porém, que esperam a ressurreição dos mortos colocam todos os seus esforços na temperança, na equidade, no cultivo de tudo que é virtuoso e bom. Foge da imodéstia, da brutalidade, da insolência, da perversidade. Têm em vista o que aconselhou São Paulo: “Glorificai a Deus em vosso corpo” (1 Cor 6,26), pois, realmente este corpo um dia ressuscitará imortal e impassível para estar com Cristo por toda a eternidade.