“Agora, portanto, permanecem três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor” (1Cor 13,13).
Na Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, iniciamos em toda a Igreja o tempo quaresmal, um tempo em que somos convidados a nos voltarmos mais para Deus e buscar a nossa conversão. O Tempo da Quaresma é um grande retiro que fazemos junto com a Igreja por quarenta dias. Durante o período quaresmal, a Igreja nos propõe três práticas: jejum, oração e caridade. Uma está ligada à outra, ou seja, para o meu jejum ser concreto, tenho que rezar, e a caridade é o desdobramento dessas duas ações.
A caridade seria o gesto concreto do meu jejum. O meu jejum só terá sentido, se eu der aquele alimento que eu deixei de comer para os pobres. Se deixar de comer carne durante os quarenta dias, dar aquilo que economizou nesses dias aos pobres. A mesma coisa se deixar de comer carne vermelha, frango ou tomar refrigerante. Dar aquilo que deixou de comer e beber ou em dinheiro para o gesto concreto da Campanha da Fraternidade, na coleta de Domingo de Ramos. Somos chamados a poiar os pobres que nossas Dioceses e o Fundo Nacional de Solidariedade assistem nos diversos projetos.
A caridade deve nortear a vida do cristão, não somente no tempo quaresmal, mas durante todos os dias do ano. A caridade é uma virtude cristã que deve ser cumprida. A caridade é uma das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Essas três virtudes caminham juntas. A fé nos ilumina e nos dá esperança para continuarmos a nossa caminhada; a esperança nos faz acreditar em dias melhores; e a caridade é desdobramento dessas duas, pois se recebemos aquilo que pedimos a Deus, também devemos dar, para que a nossa fé seja concreta.
O apóstolo São Paulo já dizia sobre essas três virtudes que norteiam a vida do cristão e que dentre essas virtudes, a maior delas é a caridade. “Agora, portanto, permanecem três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor” (1Cor 13,13). A caridade é entendida pelo apóstolo como o amor. O simples fato de amar o próximo, da dar um bom dia para o vizinho, estender a mão para quem necessita, partilhar o alimento, é colocar em prática o mandamento do amor e, dessa forma, exercer a caridade.
A caridade é a virtude perfeita, ela é a perfeição do amor. No mundo de hoje, tão dilacerado por ódio, rancor, violência e tantas coisas tristes, é preciso povoá-lo de fé, esperança e amor. Fé para nos sustentar, esperança para acreditarmos num mundo melhor e o amor (caridade) para que, através de nossas atitudes, construamos uma cultura de paz e amor.
A caridade e o amor são palavras sinônimas. A caridade é o amor. Muito mais do que só dar alimento ou roupa para quem mais precisa, a caridade vai mais a fundo, é sentir a dor do outro e ter compaixão, curar as feridas daquele que está machucado, principalmente, daquele que está ferido na alma. É conhecer a sua dor e procurar com ela resolver o seu problema.
Dentre as três práticas que a Igreja nos convida a viver na Quaresma, a esmola define a nossa relação com os outros; a oração define a nossa relação com Deus e o jejum define a nossa relação com as coisas. Devemos nos perguntar como anda a nossa relação com Deus, com os outros e com as coisas. A nossa relação com Deus deve ser 24h por dia, não somente quando vamos à missa, mas em casa, no trabalho, no carro. A relação com os outros se dá sempre, pois sempre estamos em contato com alguém e com as coisas podemos meditar o quão estamos apegados com alguns bens materiais e acabamos por deixar Deus de lado.
“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu. Quando, pois, der esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á”. (Mt 6, 1-4)
Da mesma forma que Jesus fala da oração e do jejum, Ele fala da caridade. Devemos praticar a caridade sem olhar a quem, não sair dizendo que fizemos a caridade. O jejum e a oração, basta Deus saber, pois Ele nos dará a recompensa. Como o próprio Jesus diz em outra passagem: “que a tua mão esquerda não saiba, o que fez a tua direita”.
Não precisamos mostrar a ninguém as nossas penitências, nem as nossas boas obras e nossa vida de oração. Não devemos praticá-las para agradar aos homens, mas sim a Deus. Precisamos viver a oração, o jejum e a esmola, é tempo de ajudar os irmãos. Pondo em prática esses três pilares da quaresma, venceremos as tentações, da mesma forma que Jesus venceu.
Pratiquemos estes três pilares da Quaresma durante este tempo. Apeguemos mais em Deus, deixemos aquilo que nos afasta de Deus de lado e pratiquemos mais o amor. Façamos esse grande retiro espiritual que somos chamados a fazer durante esses quarenta dias, e que possamos ser transformados pela Palavra de Deus e celebrarmos a Páscoa de maneira plena. Que ao chegar à Páscoa, possamos dizer que vivenciamos bem esse período quaresmal e que a graça de Deus nos alcance. Amém.