O Tempo Quaresmal – tempo de reflexão, tempo de oração, de jejum e conversão – nos convida a vivenciar além das nossas particularidades e, a Igreja no Brasil, nos incentiva a sair de nossas zonas de conforto para refletir sobre temas de nossa realidade e atualidade das quais, também, necessitamos de conversão nos pensamentos e ações perante a estes enfoques. Assim, a Campanha da Fraternidade 2020 nos convida a refletir sobre a VIDA, o DOM e COMPROMISSO que todos nós somos inseridos a vivenciar.
Ao desdobrar sobre este tema, o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), passagem bíblica tão conhecida por nós do “Bom Samaritano”, em que denuncia a indiferença pelo próximo por aqueles que deveriam ser exemplo (o sacerdote e o levita); e a postura inesperada do samaritano onde a “compaixão nasceu do seu modo diferente de olhar, do seu modo diferente de perceber aquela realidade” (cf. CF 2020, §7).
Com isto, no faz refletir em que, “não se deve questionar quem é o destinatário do amor. Importa identificar quem deve amar e não tanto quem deve ser amado, pois todos devem ser amados, sem distinção. Não importa quem é o próximo. Importa quem, por compaixão, se torna próximo do outro” (Lc 10,36) (cf. CF 2020, §8). Afinal, em tempos em que a indiferença e o egoísmo imperam em nossa sociedade, segue o desafio para nós cristãos “sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado” (cf. CF 2020, §16) e buscar um olhar que se comprometa com o DOM da VIDA, com a busca incessante do objetivo geral da CF 2020: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.”
Ora, o olhar no próximo é transmitido com as ações vindas do coração e vivenciando os mandamentos do amor: “Amarás o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma,
e de todo o teu entendimento! Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37; 39) e “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (Jo 13, 34).
Portanto, os elos comunitários devem ser reforçados a todo momento, retirando qualquer meio que o INDIVIDUALISMO e a INDIFERENÇA tornam-se empecilhos em nossa sociedade para vivenciar o AMOR, sufocado pelo egoísmo, pelos aspectos econômicos-políticos-sociais que, também, interferem na propagação de uma sociedade cada vez mais injusta e desumana, onde os mais pobres, aqueles que necessitam de mais amor, sofrem pelo devido desequilíbrio devido a incapacidade do Estado de exercer o seu maior papel: o guardião da vida.
Embora possa haver tanta desesperança e contrapontos que nos desanimem, Deus nos convida a sermos ousados, ser a diferença na sociedade, assim como os santos. E nós, brasileiros e brasileiras, temos o maior exemplo de “Boa Samaritana”, a nossa amada Santa Dulce dos Pobres, o Anjo Bom da Bahia, que não mediu esforços em socorrer os mendigos, pobres e doentes; verdadeira imagem da samaritana. Assim: “Hoje, mais de vinte anos depois de sua páscoa para a vida eterna, temos um grande modelo de santidade, com carisma missionário e cuidadoso, em nossas vidas. Vida doada é vida santificada! Mulher corajosa, boa samaritana no meio em que viveu. Irmã Dulce é hoje para nós exemplo de fé, amor, cuidado com a vida e compromisso cristão com aqueles que mais necessitam.” (PASSARELLI, Gaetano. Irmã Dulce: o anjo bom da Bahia. 3.ed. São Paulo: Paulinas, 2012).
“É preciso que todos tenham fé e esperança em um futuro melhor. O essencial é confiar em Deus. O amor constrói e solidifica.” (Santa Dulce dos Pobres). Com estas palavras de incentivo daquela que viveu entre nós e nos é dado como modelo do amor para o próximo, que neste tempo quaresmal seja o meio para a conversão do egoísmo, individualismo ou indiferença que ainda possa habitar os nossos corações e que vá além destes quarentas dias em que a Campanha da Fraternidade é vivenciada; perpetuando as ações do amor e para o amor até o retorno do Salvador, onde possamos ouvir da boca do próprio Cristo: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mt 25, 34b – 36). E que a Santa Dulce do Pobres, interceda a Deus por nós para a continuação da construção da civilização do amor!
Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!
Saudações em Cristo!