Viver bem neste mundo, na lógica do projeto de Deus, quer dizer andar na direção do reino, inaugurado por Jesus de Nazaré, na doação de sua própria vida. Ele não somente despojou-se de tudo, mas se identificou com os sofredores de toda natureza, para com eles caminhar e curar seus males e feridas, restaurando-os e dando-lhes vida digna. O reino continua hoje, com a doação daqueles que assumem a mesma causa de Jesus, tornando-se pobres, no mesmo espírito do Mestre. Os pensamentos de Dom Helder Câmara são profundos e como podem ajudar a melhor compreender este contexto, ao afirmar: “Caminhar é ir ao encontro de metas. Significa mover-se para ajudar muitos outros a moverem-se, no sentido de tudo fazer para criar um mundo mais justo e humano”, um mundo marcado por sinais de paz.
Guardemos no íntimo do coração o que disse o Papa Francisco no dia 08/06/2014: “Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica! Tentamos tantas vezes e durante tantos anos resolver os nossos conflitos com as nossas forças e também com as nossas armas; tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas. Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão”.
O Evangelho do sermão da montanha inicia com a declaração maravilhosa e solene, proclamada pelo Filho de Deus, na qual o reino de Deus nos é anunciado como uma boa notícia aos pobres, revelando-lhes a paz duradoura, ao ecoar um grito de alegria, feito por Jesus de Nazaré, pela chegada de novos tempos, ao mesmo tempo, como uma proposta rigorosa e exigente a um estilo de vida, no desprendimento e despojamento: “Bem aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o tipo de mal contra vós por causa de mim” (Mt 5, 11).
Vivemos num mundo em que experimentamos muitos sinais de morte, embora nunca nos acostumando com esta dura realidade de violência, divisão e guerras. Como este contexto pesa sobre a humanidade e o Santo Padre, consciente e sensível, insiste indizivelmente, ao firmar: “Este nosso encontro de imploração da paz para a Terra Santa, o Médio Oriente e o mundo inteiro é acompanhado pela oração de muitíssimas pessoas, pertencentes a diferentes culturas, pátrias, línguas e religiões: pessoas que rezaram por este encontro e agora estão unidas conosco na mesma invocação. É um encontro que responde ao ardente desejo de quantos anelam pela paz e sonham um mundo onde os homens e as mulheres possam viver como irmãos e não como adversários ou como inimigos”.
As bem-aventuranças querem nos colocar diante das tensões e dos desafios. Mas para nós, pessoas de fé, de maneira alguma, as situações duras e sinais de morte nos apontam para o fim. O Deus que enviou o seu Filho Jesus e o ressuscitou, nos ensina a viver bem aqui na terra, com os pés firmes no chão, e assim, sonhando com a glória futura. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 12).
Quando a injustiça e tudo aquilo que gera ausência de paz, surpreendendo-nos e deixando nosso coração marcado pela dor e sofrimento, peçamos que a tristeza se transforme em alegria e esperança, certos de que o critério para o nosso julgamento e o da história é a prática da justiça e da paz. Somos, portanto, desafiados a colocar a nossa própria vida diante do projeto de Deus, no amor que se traduz em justiça, verdade e paz. É deste modo que, a piedade divina se transforma em misericórdia e generosidade, como diz tão bem o Profeta Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício” (Os, 6, 6).
Jesus nos promete e nos assegura a felicidade, não apenas num futuro longe e distante, lá no céu, na eternidade, mas já aqui na terra. A vontade de Deus é que o seu reino se concretize neste mundo, através da pessoa humana, no seu seguimento. Todo aquele que deseja e tem como sonho maior o reino de Deus, precisa experimentar a alegria da transformação interior, no uso dos bens propostos pelo mundo, mas imbuídos de sabedoria, num grande desejo de abraçar os bens que são eternos, que não passam, tendo nos olhos, na mente e coração a promessa do Filho de Deus, na busca da paz, que é sua própria felicidade. “Bem aventurados os promotores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Assim seja!