A terceira beatitude oferece a chave da mansidão (Mt 5,5). Esta se situa entre o discernimento daquele que sofre uma ação agressiva do próximo e a amabilidade que se deve ter mesmo em situações conflitantes. Não se confunde com a fraqueza, mas leva a diagnosticar o que se passa com o outro, para, no momento, oportuno dar-lhe explicações por vezes necessárias, evitando exacerbações condenáveis. O caminho é a humildade, tanto que se deve rezar sempre: “Jesus manso e humilde de coração, fazer o meu coração semelhante ao vosso!”. É preciso, além disto, o reconhecimento de que somente Deus é perfeito e o ser humano pode, tantas vezes, errar. Isto oferece oportunidade para a clemência, pois capta o limite do outro, cujas frustrações se manifestam em atitudes bruscas ou perturbadoras. Cumpre saber escutar e não se exasperar, estando continuamente atento às carências do próximo. A mansidão oferece oportunidade para a construção de um ambiente mais confortável que facilita a marcha para o Reino de Deus. Trata-se de experiências transformadoras, mas que exigem toda calma da parte de quem se sente agredido pela impertinência alheia. A retificação desta conduta consiste num sentir e não na revolta para poder perceber até onde e quando poderá tranquilizar quem é fastidioso, agressivo e inoportuno. O escopo do cristão deve ser imitar a Cristo em tudo para formar em si mesmo o Filho de Deus, tendo atitudes que Ele mesmo praticou com os outros em sua passagem por este mundo. Deste modo, se pode tornar os outros felizes. Eis porque a tolerância precisa ser sempre um distintivo do cristão. É o que falta ao mundo de hoje eivado de violência por toda parte. Não apenas nas relações internacionais marcadas por guerras, por discussões que ocasionam tantas mortes, mas ainda nos lares, pela impaciência com os idosos ou inválidos, pela agressividade verbal e não verbal, pela pressão psicológica através de ações que molestam o próximo. É necessário sempre seguir as orientações que se encontram na Bíblia como no salmo 37: “Os pacientes possuirão a terra e gozarão as delícias de uma paz perfeita” (Sl 37,11). Trata-se de uma ventura estável, uma bênção celeste. Cumpre, sobretudo, formar Jesus dentro do próprio coração. No capítulo 12 de seu Evangelho São Mateus traça o retrato do “Servidor de Deus” que não querela nunca, não procura altercações, não clama, não apaga uma mecha fumegante até fazer triunfar a justiça (Mt 12, 15-21). Esta justiça significa que a doçura de Jesus não é covardia, mas fortaleza, firmeza, que levam a não agredir o próximo ofensor e produzem a serenidade diante das irritações alheias. Exemplo magnífico deixou Jesus perante as impertinências de seus opositores e durante todos os episódios de sua Paixão No Horto das Oliveiras não admitira nenhuma brutalidade e curou mediamente a Malco que teve a orelha direita cortada por Simão Pedro, a quem Ele deu esta ordem: “Mete a espada na bainha” (Jo 18, 10-11). Cristo foi um arauto da não-violência, ensinando a conter os instintos da agressividade, a ter o autocontrole. Na carta a Tito, São Paulo entre os deveres dos cristãos recorda: “Não sejam amantes das contendas, mas remissivos, mostrando a todos os homens a maior mansidão” (Tt 3,2). Aos Coríntios ele havia proclamado que “a caridade não se irrita” (1 Cor 13,5). Doçura e tolerância deve ser, de fato, o lema do verdadeiro seguidor de Jesus. Tiago e João que não tinham sido recebidos num povoado, indagaram a Cristo se deveriam ordenar que descesse fogo do céu para consumir seus moradores. Foram logo repreendidos pelo Mestre da mansidão que lhes disse: “Vós não sabeis de que espírito sois animados, porque o Filho do homem não veio para perder as almas dos homens, mas para os salvar” (Lc 9,53-55). A mansidão leva sempre a um grande respeito para com o próximo, sobretudo, nos momentos os quais ele esteja envolvido em profunda irritação. É o que se lê na Primeira Carta de São Pedro que ensina a tratar os outros “com maneiras suaves e respeitosas” (1 Pd 3,16). É desta maneira que o cristão se reveste da mansidão do Mestre divino, vestimenta obtida por seus méritos infinitos.