Antigamente, quando alguém estreava numa atividade profissional ou esportiva, ou iniciava uma mudança de vida, dizia-se que estava recebendo seu batismo de fogo naquela área ou simples iniciação. Receber um batismo de fogo era quase uma festa, merecedora de aplausos e congratulações. Momento de muita euforia para aquele que atingia um clímax na realização de um sonho ou de muita expectativa para quem desejasse vida nova, mudança de rumos.
Mais ou menos essa era a definição que Joao Batista fez de sua atividade profética às margens do rio Jordão. Dizia ser aquele tempo um momento de transformação, a hora das mudanças. A conduta social daquele povo exigia nova mentalidade para se criar os vínculos da fraternidade e solidariedade entre eles. “Quem tiver duas túnicas dê uma…” Era preciso respeitar as leis, mas igualmente fazer por merecer aquilo que se conquistava com o próprio suor. Os impostos devidos só seriam justos se não ultrapassagem os critérios estabelecidos. Respeitar o direito do outro, suas posses e bens honestamente conquistados. “Não tomeis à força dinheiro de ninguém…” Nunca se deveria levantar falso testemunho, pois era esse o grande pivô da discórdia e instabilidade nas relações comunitárias. Continua sendo.
Então João declarou a todos, em alto e bom som: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte,,, Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16). Estava estabelecida a diferença entre um batismo para iniciantes e a imersão maior e definitiva do Batismo que Jesus iria nos oferecer: o Fogo! Eis porque a Igreja denomina o gesto sacramental do batismo como rito de iniciação cristã. Início que culmina com o sacramento do Crisma, o rito da maioridade na fé. Somente após a unção sagrada do crisma é que podemos nos dizer adultos na caminhada cristã. Somente após a vinda do Espírito, em Pentecostes, é que os discípulos de Jesus assumiram com profissionalismo e destemor os desafios e as exigências da vida cristã. Tornaram-se destemidos defensores daquilo que acreditavam e testemunharam em vida. Receberam o verdadeiro Batismo de Fogo, a força necessária para perseverarem na fé e defesa dos valores cristãos. As luzes e bolas de fogo que pairavam sobre eles durante Pentecostes não eram mero simbolismo ou força de retórica evangélica, mas realização de uma promessa: “A palha, ele a queimará no fogo que não se apaga” Tudo aquilo que é supérfluo e insignificante para nossa vida de fé será posto de lado, destruído e abandonado à beira do caminho, pois o que nos interessa é maior que tudo o que aqui temos e vemos.
“A paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus” (Fl 4, 7) Isso sim, é fogo! O fogo de todas as nossas paixões purificadas e canalizadas para o verdadeiro Amor. Esse é o verdadeiro batismo anunciado às margens daquele rio no deserto. Virá então Cristo Jesus, Senhor e Diretor de nossas almas, nossas vidas em constante busca de seu significado e razão de ser e nos dará as respostas que buscamos. Para tanto, estejamos preparados. Com o coração puro e a alma aberta ao entendimento dos mistérios que cercam nossas vidas. Assim, atentos, mereceremos o diploma que sonhamos, a graça de sermos chamados filhos de Deus com a unção de seu Batismo de Fogo… o fogo do verdadeiro Amor.