Os Jogos Olímpicos foram abertos no dia 5 de agosto de 2016 e encerrados no último final de semana, 21 de agosto. As Paralimpíadas serão abertas em 7 de setembro e finalizadas em 18 de setembro do mesmo ano. A grande cerimônia de abertura ocorreu no Estádio do Maracanã, assim como a cerimônia de encerramento. O evento contou com a disputa de 42 esportes olímpicos. Foram 19 dias de competição, com 306 provas que valeram medalhas: 136 provas femininas, 161 provas masculinas e nove mistas. Foi um evento grandioso, com 10.500 atletas de 206 países.
A Olimpíada Rio 2016 foi um encontro marcante para nós brasileiros, para os atletas e suas delegações e para todos aqueles que vieram para o nosso Rio de Janeiro. A primeira marca, além das belezas naturais desses Jogos Olímpicos, foi o acolhimento do nosso povo “carioca”. Assim como, olhando para cima do Corcovado temos o Cristo de braços abertos, foi também assim que os vários atletas e suas delegações e todos os turistas foram recebidos.
Sabemos que foi um evento com presença de pessoas de várias nacionalidades. Não só os que vieram competir, mas também aquelas pessoas que vão assistir aos jogos. Foi um evento marcado pela cultura do encontro. Encontro de pessoas de várias culturas e etnias e religiões diferentes. Foi um grande momento para desenvolver um maior diálogo entre as pessoas, sobretudo neste momento histórico de conflitos que vivemos no cenário mundial.
Vimos nestes Jogos Olímpicos que competir não significa querer mal ao outro, mas, competir, significa ter a maturidade para disputar e confraternizar. É isso que as Olimpíadas devem nos levar: o acolhimento e o amor ao próximo. Assim estivemos e sempre estaremos desenvolvendo bem o nosso papel de anunciadores da misericórdia do Senhor. No caso das Olimpíadas, o esporte acabou unindo as pessoas que às vezes estão separadas pela distância, política ou até mesmo religião, mas no esporte participam de uma disputa em comum.
Durante os Jogos, a Vila Olímpica contou com uma assistência religiosa, pois tivemos uma capelania inter-religiosa na Vila Olímpica. A Igreja Católica, como maior expressão de abertura ao Ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, teve na pessoa do Pe. Leandro Lenin, um capelão da Vila, para organizar essa assistência religiosa para com os irmãos, com a responsabilidade de promover a liberdade religiosa.
O Centro Inter-religioso da Vila dos Atletas esteve a serviço dos atletas de todas as religiões, além do ecumenismo entre nós cristãos. Um modo de organizar o serviço corrente da Vila porque, pelo conceito, a Vila dos Atletas é casa deles e, por isso, deve oferecer de um tudo, inclusive o aspecto religioso.
A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. A tradição e sua presença na sociedade baseiam-se em dois pressupostos antropológicos: a) as pessoas são mortais; b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento entre as gerações. Os aspectos específicos da tradição devem ser vistos em seus contextos próprios: tradição cultural, tradição religiosa, tradição familiar e outras formas de perenizar conceitos, experiências e práticas entre as gerações. A tradição toma feições peculiares em cada crença. Pode-se destacar a presença da tradição nos grandes grupos religiosos: Religiões Indígenas, Candombleísmo, Umbandismo, Espiritismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo, Confucionismo, Taoísmo, Zoroastrismo, Xintoísmo. Cada atleta tinha o direito de pedir assistência para sua necessidade religiosa.
Nestas Olimpíadas vimos vários atletas manifestando a sua fé. Foram belas manifestações durante as disputas, ao vencer as competições e também com algumas belas entrevistas. Creio que seria um belo trabalho de pesquisa olhar os atletas, tanto na disputa como nos momentos mais tensos, como nas entrevistas quando manifestaram sua religiosidade. Em geral foram muitos cristãos e cristãs. Apenas para citar alguns casos, temos o exemplo de Usain Bolt, conhecido como o raio nas pistas do atletismo, sempre terminava a prova fazendo o sinal da cruz; uma atleta ao cruzar a linha de chegada, campeã, agradeceu a Nossa Senhora; alguns russos também Ortodoxos manifestaram sua fé, outros atletas Budistas fizeram a sua manifestação de fé.
Contudo, sabemos que a maioria dos países e o próprio Brasil é laico. País laico não é país ateu, mas é um país que garante a liberdade religiosa a todas as tradições e expressões religiosas. Aliás, o país laico, além de não impor nenhuma religião, deve respeitar a fé dos seus cidadãos. O espírito de manifestações religiosas na Olimpíada esteve em conexão com a mensagem do Papa Francisco: “Diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida (cf. 2 Tm 4, 7-8), almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião. E aos brasileiros, que, com sua característica alegria e hospitalidade, organizam a Festa do Esporte, desejo que esta seja uma oportunidade para superar os momentos difíceis e comprometer-se a ‘trabalhar em equipe’ para a construção de um país mais justo e mais seguro, apostando num futuro cheio de esperança e alegria! Que Deus abençoe a todos”!
A festa da hospitalidade olímpica nos deixou uma grande lição: com Cristo podemos ser solidários e construtores da Paz. Que o Cristo Redentor, do alto do Corcovado, nos ajude neste bom propósito!