“Aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso” (Mt. 29,11).

    Eis o convite de Cristo nesta Solenidade do Sagrado Coração de Jesus em tempos de Pandemia, um convite para confiar em seu amor, em seu coração e aí encontraremos repouso e em paz viveremos, superando todas as adversidades, pois esperamos superar este momento difícil. Queremos refletir neste pequeno artigo sobre a Solenidade do Sagrado Coração, que por sua vez liturgicamente celebramos, compreender ainda historicamente, esta devoção popular que muito ajuda a Espiritualidade cristã e a cada batizado a ser fiel ao seu compromisso com o Amor à Cristo. Faremos um percorrido histórico sobre a devoção do Sagrado Coração de Jesus e finalizaremos com uma breve hermenêutica teológica referente a liturgia desta solenidade.

    Os Santos Padres muitas vezes falaram do “Coração de Cristo” como símbolo de seu Amor, tomando-o da Escritura: “Beberemos da água que brotaria de seu Coração quando saiu sangue e água” (Jo 7,37; 19,35). Na Idade Média, São Boaventura considerava como modelo de nosso amor, paciente por nossos pecados, a quem devemos reparar entregando-lhe nosso coração. No século XVII estava muito expandida esta devoção. São João Eudes, já em 1670, introduziu a primeira festa pública do Sagrado Coração. Em 1673, Santa Margarida Maria de Alacoque começou a ter uma série de revelações que a levaram à santidade e ao impulso de formar uma equipe de apóstolos desta devoção. Com seu zelo conseguiram um enorme impacto na Igreja, desde aí está devoção se solidificou de maneira mais quantitativa e qualitativa. Fundando assim o Apostolado da Oração, que pretende conseguir nossa santificação pessoal e a salvação do mundo mediante esta devoção, contava já em 1917 com 20 milhões de associados. E em 1960 chegava ao dobro em todo o mundo. A maior instituição de todo o mundo. Em 1856 Pio IX estendeu sua festa a toda a Igreja. Em 1899 Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus (o Equador tinha se consagrado em 1874).

    Passando séculos, agora na modernidade São João Paulo II, sempre cultivou essa devoção e sempre a incentivou a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, ele afirmou: “Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero, hoje, dirigir, juntamente convosco, o olhar dos nossos corações para o mistério desse coração. Ele falou-me desde a minha juventude. A cada ano, volto a esse mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja”. Seguindo pelo Papa Emérito Bento XVI, em uma de suas homilias no ano sacerdotal, em 2010, afirma: “Celebramos a festa do Sagrado Coração de Jesus e, com a liturgia, por assim dizer lançamos um olhar dentro do Coração de Jesus que, na morte, foi aberto pela lança do soldado romano. Sim, o seu Coração está aberto por nós e aos nossos olhos; e deste modo está aberto o Coração do próprio Deus”, realiza uma comparação ao Sagrado Coração com o Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas.

    Atualmente nosso Santo Padre, Papa Francisco: No primeiro Ângelus deste mês, o Pontífice recordou que o mês de junho é dedicado de modo particular ao Coração de Cristo, uma devoção que une os grandes mestres espirituais e as pessoas simples do povo de Deus. “O Coração humano e divino de Jesus – disse ele – é a fonte onde sempre podemos haurir a misericórdia, o perdão, a ternura de Deus. Podemos ir à esta fonte detendo-nos sobre uma passagem do Evangelho, sentindo que no centro de todo gesto, de toda palavra de Jesus está o amor, o amor do Pai. E podemos fazê-lo também adorando a Eucaristia, onde este amor está presente no Sacramento. Então – conclui Francisco –, também o nosso coração, pouco a pouco, se tornará mais paciente, mais generoso, mais misericordioso. “Jesus, faz com que meu coração se assemelhe ao Seu”, foi a oração do Santo Padre, afirmando ter aprendido com a sua avó a recitar essas palavras, convidando os fiéis a fazerem o mesmo.

    Para finalizar nossa reflexão, realizando assim uma exegese histórica desta devoção e uma compreensão exegética desta devoção litúrgica, que por sua importância tornou-se Solenidade, refletimos em Oséias, capítulo 11, primeira leitura, se distingue pela amplidão de horizontes e a elevação de pensamento. É aí apresentado o amor de Deus por Israel sob a imagem de um pai que alimenta, guia e ama seu filho. Este amor é tão grande que, apesar de Israel se ter tornado indigno dele, Deus não quer a punição, mas a misericórdia.

             A Solenidade do Sagrado Coração de Cristo nos convida a refletir: a pensar mais em nós do que nele, para chegarmos a entrever seu amor; a ver que somos fruto do seu amor, e que por isso devemos também ser amor para Ele. Dessa reflexão brotará um canto de libertação (cf. Salmo Responsorial: Is 12). Na segunda leitura (Ef 3,8-12.14-19) podemos compreender o desejo mais profundo do homem é amar e ser amado. Um amor não correspondido é um tormento tão grande que pode levar à loucura e ao suicídio. Não sem motivo, o Concílio nos lembra que “Deus não criou o homem deixando-o só; desde o princípio criou-os homem e mulher” (Gn 1,27), e a sua união constitui a primeira forma de comunhão de pessoas (GS 12). E no Evangelho de João 19, 31-37, compreende a uma exaltação do Amor; mostra que tudo é devido ao amor; da criação à redenção, o eterno destino de glória na plenitude do Amor-Deus. Nada mais viril, nada mais forte do que o amor divino-humano do Cristo, nada mais valoroso, mais nobre do que reconhecer e retribuir este amor. Eis a relação do homem com o Sagrado Coração, uma relação de amor, que gera e produz frutos, principalmente nesse momento de fragilidade humana, compreender o AMOR DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS À TODOS, onde nos impulsiona a amá-lo, respeitá-lo e confiar em amor incondicional principalmente em tempos difíceis, como a atual conjuntura de pandemia, por isso:  “Aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso” (Mt. 29,11).

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