Ação de Graças: O Dom de Cuidar e a Missão do Amor

    Neste dia em que o calendário nos aponta o Dia de Ação de Graças de 2025, meu coração de pastor se volta para uma dimensão muitas vezes silenciosa, mas essencial da nossa existência: o dom da saúde e a bênção daqueles que dedicam suas vidas a preservá-la. Se, por um lado, a tradição desta data nos remete à colheita e aos frutos da terra, eu proponho que olhemos hoje para uma colheita diferente, humana e sagrada: a recuperação da vida, o alívio da dor e o consolo na enfermidade.

    Quando percorro os corredores dos hospitais, vejo ali verdadeiros santuários. Não são templos de pedra, mas templos de carne e osso, onde o Cristo sofredor aguarda nossa visita e nosso cuidado. Por isso, a minha Ação de Graças hoje se dirige a Deus pela existência da filantropia na saúde. Este termo grego, “filantropia”, traduz-se como “amor à humanidade”. E não existe forma mais concreta de amar a humanidade do que debruçar-se sobre o leito de quem sofre, sem perguntar se aquela pessoa pode pagar, de onde ela vem ou qual a sua história. O amor cristão apenas vê a necessidade e age.

    Agradeço, em primeiro lugar, pelas mãos incansáveis que sustentam essa missão. Penso nos médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e em todo o pessoal administrativo e de limpeza que transforma hospitais em casas de acolhida. Muitas vezes, a sociedade enxerga apenas a estrutura física, o prédio, os equipamentos. Eu vejo almas. Vejo vocações. Cada profissional de saúde que atua em instituições filantrópicas e caritativas realiza, diariamente, o milagre da multiplicação. Eles multiplicam recursos escassos, multiplicam a paciência, multiplicam a esperança onde a ciência, por vezes, encontra seus limites.

    Neste Dia de Ação de Graças, precisamos reconhecer o valor imensurável da gestão fraterna. Manter portas abertas para o atendimento público, gratuito e universal, em um país com as dimensões e os desafios do Brasil, exige mais do que competência técnica; exige Providência Divina e compromisso ético. As instituições que assumem essa tarefa não visam o lucro, mas a vida. Elas carregam a cruz de administrar dificuldades financeiras e burocráticas para garantir que o pobre não fique desassistido. E Deus, em sua infinita bondade, jamais desampara a obra que é Sua. Por isso, eu louvo ao Senhor pela coragem dos gestores que, mesmo diante das tempestades, mantêm o barco da saúde navegando, guiados pela bússola da caridade.

    Agradeço também pela lição diária que a saúde nos ensina: a humildade. A doença nivela a todos. Diante da fragilidade do corpo, caem as máscaras do orgulho, da posição social e da vaidade. No hospital, somos todos apenas seres humanos necessitados da misericórdia de Deus e da competência do outro. Essa consciência deve gerar em nós uma gratidão profunda por cada dia em que acordamos sem dor, por cada respiração plena, por cada batimento cardíaco que não percebemos. A saúde é um “silêncio” do corpo que nos permite viver; quando ela “fala” através da dor, aprendemos a valorizar o que antes passava despercebido.

    Quero destacar a importância da solidariedade que sustenta essas obras. A filantropia na saúde não se faz sozinha. Ela é um corpo vivo que precisa da comunidade. Agradeço a cada doador, a cada voluntário, a cada pessoa que, no anonimato, contribui para que o remédio chegue, para que o lençol esteja limpo, para que o alimento seja servido. Vocês são os cireneus modernos, ajudando a carregar a cruz de tantos irmãos. A Igreja, fiel ao mandato de Jesus que disse “curai os enfermos”, reafirma hoje seu compromisso inegociável com a defesa da vida, desde a concepção até o seu declínio natural.

    O Evangelho do Bom Samaritano ilumina nossa reflexão neste dia. O samaritano não apenas sentiu compaixão; ele agiu. Ele cuidou das feridas, levou à estalagem e pagou pelas despesas. As nossas instituições de saúde filantrópicas são essa “estalagem” moderna. Elas acolhem aquele que a sociedade muitas vezes deixou à beira do caminho. E, ao fazê-lo, restauram não apenas a saúde física, mas a dignidade ferida. Agradecer a Deus por essas obras é reconhecer que o Amor ainda caminha entre nós, vestindo jaleco branco, segurando a mão do idoso, acalentando a criança febril.

    Peço a Deus que renove as forças de todos os que trabalham na área da saúde. Que o cansaço físico não apague a chama da vocação. Que as dificuldades materiais não sufoquem a mística do serviço. Que cada hospital, cada posto de atendimento, cada clínica beneficente seja um farol de luz e humanização. A tecnologia avança, e damos graças por isso, mas nenhuma máquina jamais substituirá o toque humano, o olhar de compaixão e a palavra de conforto. A técnica trata a doença; o amor cura a pessoa.

    Neste 2025, elevo minha prece para que continuemos a construir uma sociedade onde a saúde não seja um privilégio, mas um direito sagrado, garantido e protegido pelo esforço conjunto de todos nós. Que saibamos defender e valorizar as entidades que, historicamente, têm sido o braço direito do sistema de saúde, chegando onde muitos não chegam.

    Encerro esta reflexão com um convite: que hoje, ao redor de nossas mesas, ao agradecermos pelo alimento, reservemos um momento de silêncio e prece pelos doentes e por aqueles que cuidam deles. Que a nossa gratidão se transforme em compromisso solidário. Que o Senhor da Vida, o Médico das Almas e dos Corpos, abençoe a todos nós e nos dê a graça de sermos, onde quer que estejamos, promotores da vida e da esperança.

    Deus abençoe a todos!

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