A Virtude da Esperança

    Estamos vivendo o “Ano da Esperança” em nossa Arquidiocese. Unindo-nos ao “Ano da Paz” no Brasil e ao da “Vida consagrada” proclamado pelo Papa Francisco, temos vários temas importantes para aprofundar em nossa reflexão. Temos confiança no Senhor que conduz a história: “Qualquer coisa que pedirdes em meu nome, eu vo-la farei” (Jo 14,14). “Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória” (Jo 17,24).
    O próprio Senhor é o nosso intercessor no Céu e nos promete conceder-nos tudo o que lhe peçamos em seu nome. Pedir em (meu) Seu nome significa, em primeiro lugar, ter fé na sua Ressurreição e na sua misericórdia; e significa pedir aquilo que, humana e sobrenaturalmente, convém à nossa salvação, objeto fundamental da virtude cristã da Esperança, e fim da própria vida do homem.
    Existe uma esperança humana: a do lavrador que planta, a do marinheiro que empreende uma travessia, a do comerciante que inicia um negócio… Pretende-se alcançar um bem, um fim humano: uma boa colheita, a chegada a bom porto, bons lucros. E existe a esperança cristã, que é essencialmente sobrenatural e, portanto, está muito acima do mero desejo humano de felicidade e da natural confiança em Deus.
    Por essa virtude tendemos para a vida eterna, para uma felicidade sobrenatural que não é senão a posse de Deus: ver a Deus e acolher o Seu Amor, amando-O sem medida. E ao tendermos para Deus, fazemo-lo utilizando os meios que Ele nos prometeu e que nunca nos faltarão se nós não os rejeitarmos. O motivo fundamental pelo qual esperamos alcançar este bem infinito é que Deus nos estende a sua mão, levado pela sua misericórdia e pelo seu amor infinito, num gesto a que nós correspondemos com o nosso querer, aceitando com amor essa mão que Ele nos estende.
    Pela virtude da Esperança, o cristão tem a certeza de estar tendendo para o seu fim, de modo análogo ao do homem que, empreendendo uma viagem, tem a certeza de estar no bom caminho e de chegar ao seu termo se não abandonar esse caminho. “A certeza da esperança cristã não é, pois, a certeza da salvação, mas a certeza absoluta de que caminhamos para ela” (As três idades da vida interior pg. 740).
    O Magistério da Igreja ensina que “todos devem ter firme esperança na ajuda de Deus. Porque, se formos fiéis à graça, assim como Deus começou em nós a obra da nossa salvação, também a levará a bom termo, produzindo em nós o querer e o agir” (Fl 2,13). O Senhor não nos abandonará se nós não o abandonarmos, e dar-nos-á os meios necessários para ir avante em todas as circunstâncias e em todo o tempo e lugar. Escutar-nos-á sempre que recorremos à santidade nas nossas tarefas, no meio do trabalho e nas condições em que decorre a nossa vida. Dar-nos-á mais graça se as dificuldades forem maiores, e mais força se for maior a nossa fraqueza.
    A Esperança Cristã deve ser ativa, de modo a evitar a presunção; e deve ser firme e invencível, de modo a rejeitar o desalento. Há presunção quando se confia mais nas forças próprias do que na ajuda de Deus e se esquece da necessidade da graça para toda obra boa; ou quando se espera da misericórdia divina o que Deus não nos pode dar em vista das nossas más disposições, como seria o perdão sem verdadeiro arrependimento, ou a vida eterna sem que fizéssemos o menor esforço por merecê-la.
    A causa da desesperança nunca está nas dificuldades, mas na ausência de desejos sinceros de santidade e de chegar ao Céu. Quem ama a Deus e quer amá-Lo ainda mais, aproveita as próprias dificuldades para manifestar o seu amor e para crescer nas virtudes.
    Devemos andar pela vida com os objetivos bem determinados, com o olhar posto em Deus, pois é isso o que nos leva a desempenhar com entusiasmo as nossas tarefas temporais, sejam trabalhosas ou não. Então compreendemos que todos os bens terrenos, sem deixarem de ser bens, são relativos e devem estar sempre subordinados à vida eterna e a tudo o que lhe diz respeito. O objeto da esperança cristã transcende de um modo absoluto tudo o que é terreno.
    Esta atitude perante a vida, que é a que sustenta a esperança, exige uma luta diária alegre, por que a tendência do homem é fazer desta vida uma cidade permanente, quando, na realidade, está nela de passagem. A luta interior bem definida na direção espiritual, o exame geral diário, o recomeçar seguidamente, com humildade, sem desânimo, é a melhor garantia da nossa firmeza na esperança.
    Rezemos juntos: “Senhor Jesus, ao olharmos o nosso mundo, ficamos assustados (as). São muitas as dores! São muitos os sofrimentos! Há pessoas que deixaram de acreditar em si mesmas, na vida e em Vós. Há pessoas que se tornaram prisioneiras do consumo, das soluções fáceis e imediatas, nem percebendo que geralmente são falsas. Elas já não conseguem perceber a beleza da fraternidade, a alegria da caridade, o sabor da partilha, o perfume do convívio e a grandeza de crer. Ajudai-nos, Jesus, a testemunhar a esperança! Inundai-nos com a vossa esperança para a transmitirmos a todos os irmãos e irmãs, em especial aos que estão sofrendo. Jesus, Senhor da Esperança, fazei-nos servos da esperança. Amém”!