A morte da razão

    “Vivemos em um tempo de monstros. Em muitas partes do mundo, a razão está adormecida”.
    Salman Rushdie
    Escritor anglo-indiano (1)

    Não faz muito tempo, a razão – nossa capacidade de pensar, avaliar – era a base para a busca da verdade. Não é mais. Hoje, o que vale é “o que você está sentindo no coração”. É assim na política, na sociedade, em muitos seguimentos populares, nas redes sociais, na música, na TV, no teatro, no cinema, enfim, no mundo das artes, na religião e também na igreja.
    Com tanto progresso da ciência e do avanço tecnológico, no entanto vivemos terríveis incompatibilidades e a morte da razão. O modo de pensar em sua abissal ortodoxia está sepultado. Compreender o ser humano no contexto social, político, econômico, cultural e religioso é complicadíssimo! A rede híbrida, a simbiose e a idiossincrasia decretam na arena mortal da pós-modernidade o cemitério da razão. Pensar inclitamente é muito difícil em nosso tempo. O sistema faz imperar a microcefalia do pensamento.
    O mundo está em chamas pelo terrorismo, fanatismo, fundamentalismo, intolerância, racismo, discriminação, opressão e exclusão. Guerras, crises, a calamidade dos refugiados, a indústria do tráfico, a máquina da corrupção, a fome, a pobreza e o domínio da violência. A massa não tem capacidade de pensar, devido o esquema que determina a manipulação, a alienação, o condicionamento e a cadeia da escravidão mental, física e espiritual. É a ditadura da robótica, em fazer fantoches e zumbis. A desconstrução do pensamento é a morte da razão. É a demolição da ortodoxia, da epistemologia pela banalidade e o descaso com a sapiência.
    O livro A Morte da Razão de autoria do teólogo e filósofo evangélico americano Francis Schaeffer, é um exemplo do que foi a vida de um homem que buscou fazer pensar sua geração em que viveu os conturbados anos 60. Foi publicado, pela primeira vez, em março de 1968, fruto das fitas de gravação de suas palestras aos universitários da ABU (Aliança Bíblica Universitária) na Inglaterra.
    Schaeffer talvez seja um personagem pouco compreendido hoje, vulnerável aos estereótipos que simplificam uma figura extraordinária, que deixou um legado importante na formação de líderes em vários continentes. Quanto ao livro, talvez se poderia discordar das “culpas” que ele distribui a certos personagens da história. Porém é preciso reconhecer que ele faz o importante exercício de buscar ler o que está nas entrelinhas, no não dito, sobre como as mentalidades mudam e as implicações dessas mudanças na vivência e na proclamação da fé cristã.
    Schaeffer buscava desvendar o pano de fundo histórico das tendências do pensamento moderno. O pensamento humano teria se tornado fatalmente autônomo da revelação bíblica. O ser humano e sua pretensa autonomia estariam agora no centro do conhecimento e da definição da realidade.
    Ele foi um profeta de seu tempo e dos tempos que ainda viriam, incluindo o nosso. Quem o conheceu revela-nos que ele era não só um leitor voraz, mas também um profundo conhecedor da cultura popular de sua época, o tipo de pessoa que subia uma montanha para passar horas discutindo com hippies sobre o que norteava suas vidas. Uma pessoa sensível, um coração de evangelista, uma mente brilhante, um livro extraordinário, atual, para nos inspirar a pensar profundamente e ficarmos conectados com a nossa própria geração (2).
    O célebre filósofo grego Aristóteles afirmou: “Nada caracteriza o homem do que o fato de pensar”.
    Precisamos urgentemente de grandes pensadores como Francis Schaeffer. Vivemos a escassez de grandes líderes, de grandes pensadores e de grandes homens de Deus como Schaeffer.

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