A missão do Bispo

    Neste dia 29 de fevereiro, uma bela notícia ecoa no mundo: temos um novo Bispo Auxiliar para a nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro: Mons. Luiz Henrique da Silva Brito!
    Nascido aos 19 de maio de 1967, em São Gonçalo, em nosso Estado do Rio de Janeiro, concluiu o Curso de Filosofia e cursou Teologia em nosso Seminário São José como seminarista da Diocese de Campos RJ. Em nosso seminário foi prefeito de disciplina. Cursou também o Instituto Superior de Direito Canônico de nossa Arquidiocese. Fez Mestrado em Teologia Moral na Pontificia Università dela Santa Croce, em Roma. Foi ordenado presbítero no dia 14 de dezembro de 1991, por D. João Corso, na Catedral Diocesana Santíssimo Salvador, em Campos dos Goytacazes-Rj, e atualmente é Pároco da Paróquia São Benedito na mesma cidade de Campos. Hoje, foi nomeado Bispo titular de Zallata e auxiliar em nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
    Quanto maior o poder, maior a responsabilidade! Esta realidade não poderia ser diversa em nossa amada Igreja Católica. No entanto, no cristianismo, poder significa serviço, entrega e doação. Quanto mais elevada na hierarquia eclesiástica, mais comprometida na entrega e martírio de si mesmo deve estar a pessoa que ocupa um cargo.
    Ilumina-nos o mesmo Cristo que se despojou, assumindo a forma de escravo e fazendo-se obediente até a morte de cruz (cf. Fl 2,5-8). Nosso Mestre e Senhor que, na última ceia, com palavras e gestos prova que veio para servir e lavar os pés (cf. Jo 13). São Paulo expressa maravilhosamente a realidade do serviço, quando afirma que para todos fez tudo, para salvar alguns e tudo por causa do Evangelho (cf. I Cor 9, 20-23).
    Os bispos, sucessores dos Apóstolos, assumem na liberdade a responsabilidade plena de se entregarem ao serviço do Evangelho, sabedores que carregam um tesouro em vasos de barro (cf. II Cor 4,7). Eles são constituídos Pastores da Igreja com a missão de ensinar, santificar e guiar, em comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro e com os outros membros do Colégio Episcopal. (Apostolorum Successores, Introdução).
    A nossa pátria definitiva é o céu, e o bispo não deseja e nem pode entrar sozinho. Guiados por seu báculo pastoral, estarão todos os fiéis e irmãos no sacerdócio que Cristo lhe confiou. Uma enorme responsabilidade, uma cruz que cada sucessor carrega junto com Cristo rumo ao calvário. Nessa caminhada, as tentações da solidão e do abandono se apresentam. Mas esta é uma ilusão do inimigo. Só podemos cumprir plenamente nossa missão em comunhão com o Sucessor do Apóstolo Pedro e com nossos irmãos no episcopado. Na fraternidade e amor recíproco, o jugo é leve e a carga é suave (cf. Mt 11, 28-30), e carregaremos em nossos rostos a alegria do ressuscitado.
    Nossa única missão e desejo é que Cristo seja mais amado e conhecido. Para isso, oramos, trabalhamos e nos sacrificamos, junto com a graça de Deus, para que Cristo reine no coração de cada pessoa, na cultura e em todas as estruturas da sociedade. Este esforço nasce da convicção de que a fé, a esperança e a caridade são as virtudes que norteiam a humanidade rumo à realização plena em Cristo. São realidades transcendentes que irrompem no espaço e tempo e nos elevam a um plano superior, onde os valores e virtudes como a paz, a justiça, a fraternidade e a generosidade são possíveis. Não estamos fadados ao fracasso, Cristo nos redimiu, mas a força da salvação deve realizar-se na história de cada pessoa e atualizar-se no coração de nossa cultura.
    Cristo é a resposta
    Dominados pelo ardor missionário, surgem perguntas que inquietam o coração de qualquer Pastor. Como, na atualidade, cumprir nossa missão de transmitir o amor em todas as suas dimensões? Como aplicar de modo concreto o munus docendi, sanctificandi e regendi na cultura e sociedade contemporâneas?
    Contemplando o imenso rebanho que devemos ensinar, santificar e guiar rumo à adesão plena em Cristo e munidos das responsabilidades e graças que competem ao serviço episcopal fica o desafio a ser respondido não apenas com palavras, mas com nossas vidas: o que se espera de um bispo hoje?
    Esta resposta só pode ser dada em Cristo, o Bom Pastor, imagem perfeita que explicita a vocação e missão episcopal. O Bispo é chamado a identificar-se com Cristo de forma muito especial na sua vida pessoal e no exercício do ministério apostólico, de modo que o pensamento de Cristo (1Cor 2, 16) lhe penetre totalmente as ideias, os sentimentos e os comportamentos, e que a luz que irradia da face de Cristo ilumine o governo das almas, que é a arte das artes. (Apostolorum Successores, n.2)
    O bispo, de maneira eminente, deve ser Alter Christus. O fiel deseja ver a Cristo ao olhar nossas vidas, ações e palavras. O bispo é a estrela que aponta e guia até o menino Jesus. É a esperança que não se desvanece. A prova de que Deus existe. O bispo é representante de Cristo, mas de um modo diverso a outras representações. Não se reduz a falar e agir no lugar de uma pessoa ausente, pois Cristo jamais está ausente. Ao contrário, é a presença de Cristo em nossas vidas e em nossa missão que torna eficaz a ação e ministério episcopal. Toda nossa eficácia possui Cristo como fonte.
    Ensinar num mundo confuso, mas sedento de Deus
    Atualmente, vivemos numa grande confusão acerca das escolhas fundamentais da nossa vida e das interrogações sobre o que é o mundo, de onde vimos, para onde vamos, o que devemos fazer para fazer o bem, como devemos viver, quais são os valores realmente pertinentes. (Bento XVI, Audiência Geral de 14 de abril de 2010.)
    Nessa situação se faz peremptório o Munus Docendi, mostrando a força e a beleza da luz de Cristo, capaz de transformar e dar nova vida a tudo que toca. Ensinamos algo que não é nosso, mas que nos foi dado como dom. Como administradores, devemos guardar com fidelidade e transmitir com novidade. A juventude de nossa fé é deixar que Cristo toque e transforme todas as coisas (cf. Ap 21,5).
    É necessário trabalhar, e muito, com eficácia, utilizando todos os meios lícitos e bons. Mais do que nunca devemos estar presentes nos areópagos da contemporaneidade. Contudo, todo o esforço e trabalho seriam inúteis se não estamos unidos à verdadeira videira (cf. Jo 15, 1ss), que se apresenta através também da tradição, do Magistério, de Pedro e da colegialidade Episcopal. O Espírito Santo, com sua força e graça, é quem dá os frutos. Se estivermos aliados a Ele, não há o que temer, não há por que render-se a estratégias que mancham o Evangelho.
    A fidelidade e o dinamismo da fé
    A fidelidade não está em contradição com o dinamismo da fé, pois se por um lado não inventamos, não criamos ou proclamamos ideias próprias, pois a doutrina é de Cristo e não nossa, por outro lado não significa que devemos ser neutros, quase como um porta-voz que lê um texto do qual, talvez, nem se apropria. (Bento XVI, Audiência Geral de 14 de abril de 2010)
    O dinamismo da fé nasce da interiorização, através da oração, da liturgia e da vivência da fé. Ela permite com que Cristo entre no profundo de nosso ser e nos transforme na liberdade de filhos de Deus. Esta fé, feita própria, fortalece a comunidade, e a comunidade é lugar de encontro e promoção da mesma.
    Daqui brota o Munus Sanctificandi. Deus é o único santo, e nós somos por participação na vida divina. Promover a vida de oração pessoal e comunitária, litúrgica e sacramental é o que o povo espera. O povo de Deus deseja se encontrar com Cristo. Quer entrar em contato com a fonte de felicidade plena. Querem olhar para a vida com os olhos de esperança. Desejam aprender a amar o próximo como Deus amou. O povo tem sede de justiça, de paz e felicidade, pois tem sede de Deus. Os pastores devem conduzir o rebanho para a fonte que jorra água de vida eterna (cf. Jo 4, 14).
    A tríplice concupiscência surgida pelo pecado original não é a condição primária do ser humano. Seu coração bate por sede de infinito e eternidade, ao mesmo tempo em que possui uma tendência a permanecer no contingente. Há uma tensão em nosso ser. Os sacramentos, a liturgia, a oração, a direção espiritual são meios necessários para nos liberar dessa tensão e nos conduzir a uma vida de santidade madura e, por conseguinte, a alcançar a felicidade que todos almejam.
    A visão de que o cristianismo está constituído essencialmente por normas e proibições é equivocada. A essência de nossa fé é o encontro com Cristo, é o amor, e das exigências do amor nascem naturalmente um modo de viver e pensar novos.
    Simplesmente bons pastores
    Nossas ovelhas desejam simplesmente que sejamos Pastores, que nosso Munus Regendi seja serviço, pois não são nossos os tesouros da Igreja, mas de Cristo. A autoridade é entrega, e será plena e real se for enraizada em Cristo, para que cada fiel seja levado, no Espírito Santo, a cultivar a própria vocação segundo o Evangelho, a uma caridade sincera e ativa e à liberdade com que Cristo nos libertou”. (Presbyterorum ordini, n. 6).
    Para governar, é necessário que a cada dia Cristo governe mais nossas vidas. Governar, no cristianismo, não é dominar. Geralmente, diz-se que o significado da palavra hierarquia seria “domínio sagrado”, mas o verdadeiro significado não é este, é “origem sagrada”, ou seja: esta autoridade não provém do próprio homem, mas tem origem no sagrado, no Sacramento (Bento XVI, Audiência Geral de 26 de maio de 2010).
    A missão episcopal é divina, como todas as vocações suscitadas por Deus. Grande é nossa tarefa, maior ainda nossa responsabilidade. E fico feliz em saber que não caminho sozinho. Fico feliz em saber que tenho a companhia de meus irmãos no episcopado, agora aumentado em mais um que será ordenado Bispo no dia 12 de maio de 2012, sábado, às 08:30 horas, em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião, aqui no Rio de Janeiro. Estarão comigo, como ordenantes, os Bispos D. Roberto Francisco Ferreria Paz, Bispo Diocesano de Campos, e D. Roberto Gomes Guimarães, Bispo Emérito de Campos.
    Temos a honra de guiar, educar e santificar milhões de pessoas que vivem na Cidade Maravilhosa. Porém, sem nossos irmãos sacerdotes seria impossível cumprir tais tarefas. A eles agradeço com minhas orações e sacrifícios por todo trabalho e esforço que têm desempenhado.
    Agradeço também a todos os vocacionados e seminaristas que, atraídos pela beleza do chamado de Cristo, foram generosos e disseram sim. Tenham a certeza de que vale a pena entregar toda a vida a Cristo, vale a pena entregar toda a vida ao rebanho de Deus. Não há maior satisfação do que conduzir as pessoas pelas mãos ao encontro com Cristo.
    Agora a nossa Arquidiocese conta com três Seminários: o Seminário Maior São José, o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos e o Seminário Missionário.
    Agradeço também todos os religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, leigos e leigas. O carisma e entrega de vocês é um dom do Espírito Santo que, em comunhão à missão e pastoral da Igreja local, produzem frutos de santidade. Agradeço ao povo carioca pelas orações e caridade, pelos milhões de fiéis que se entregam com fidelidade à vocação no estado de vida que Deus lhes confiou.
    Agora convido todos os irmãos e irmãs para participarem conosco deste belo momento de nossa Arquidiocese que, nesse ano do Discipulado e da Fé, se prepara para a Jornada Mundial da Juventude, como estamos vivendo nestes dias com a visita do Pontifício Conselho para os Leigos.
    Agradeço a Deus pela graça de servir à Arquidiocese (no último dia 26 completei 15 anos de minha primeira nomeação episcopal, e no dia 27 foram três anos de minha transferência para esta Sé carioca).
    Temos agora mais um bispo auxiliar para compartilhar os serviços. Realmente sinto que o povo tem tomado posse de seu Arcebispo e dos Bispos Auxiliares, recordando a frase com que concluí meu discurso na missa de início de meu ministério aqui no Rio de Janeiro. Amo meu sacerdócio, amo minha Igreja!
    Que Maria, rainha dos apóstolos, acenda em nossos corações um amor cada vez maior a Seu filho, e um desejo incansável de levar o Evangelho a todas as criaturas.