A Jornada dos jovens no Domingo de Ramos

     

    Acontece em Roma, no Colégio Internacional Maria, Mater Ecclesiae, a reunião pré-sinodal presidida pelo Papa Francisco destinada a escutar (voz, sensibilidade, fé, dúvidas, questionamentos) os jovens convidados de todas as partes do mundo, católicos ou não, cristãos ou não. Desde o dia de São José (19) até o sábado antes do Domingo de Ramos (24) estão tendo oportunidade de contribuir com o próximo Sínodo dos Bispos (a quem as conclusões serão transmitidas) que tem como tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Além das contribuições presenciais com seus testemunhos, perguntas, conferências e grupos de estudos os outros jovens do mundo podem contribuir através do sistema online de participação via internet.

    Sempre no Domingo de Ramos os jovens participam na Praça de São Pedro no Vaticano da Jornada Mundial da Juventude. Neste ano serão esses jovens dessa reunião pré-sinodal que terão essa oportunidade. A cada ano o Papa envia ao mundo o tema da jornada. A cada três (3) anos (aproximadamente) acontece a Jornada Mundial da Juventude em uma outra data com convocação mundial e não apenas em nível diocesano como ocorre no domingo de Ramos.

    Este ano estamos vivendo a 33ª Jornada Mundial da Juventude que foi criada por especial desejo do saudoso Papa São João Paulo II e o tema deste ano é “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus”, escolhido pelo nosso querido Papa Francisco.

    O Santo Padre, ao tomar essa passagem de Lucas 1,30, tem em mente propor a jovem Maria como modelo à juventude em geral, com um especial destaque àqueles e àquelas que buscam sua santa vocação ou passam pelas dificuldades, ora mais ora menos penosas, que o cotidiano da vida nos impõem. Esse medo é normal ou natural, mas o Senhor Jesus está do nosso lado e ainda nos oferece duas ajudas importantes: a Virgem Maria, foco principal da Mensagem do Papa neste ano, e a Igreja, que além dos sete sacramentos – embora nem todos recebamos cada um deles – oferece ministros dignos e sérios para ajudar a juventude em suas escolhas e discernimentos.

    Reflitamos sobre alguns dos pontos principais da mensagem do Santo Padre. Essa palavra que o Papa dirige a você, jovem, neste ano de 2018, prepara o Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, bem como a Jornada Mundial da Juventude, a se realizar no próximo ano no Panamá. É importante que você reze e se empenhe para ambos os eventos que hão de ser marcantes na história da Igreja, da Humanidade inteira e da vida pessoal de cada um(a) que está na bela e desafiadora fase cronológica denominada “juventude”.

    O primeiro ponto da Mensagem do Papa Francisco, “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus, é o “não temas!”, parte mais longa da reflexão. Diz ele que a saudação do Anjo Gabriel causou, com razão, espanto em Maria e, por isso, em nome de Deus, o próprio Anjo a tranquiliza. Afinal, Deus, a quem o Anjo representa, sabe das nossas dificuldades. Daí propor o Papa a seguinte fala: “E vós, jovens, quais são os medos que tendes? Que é que vos preocupa mais profundamente? Um medo ‘de fundo’, que existe em muitos de vós, é o de não ser amados, bem-queridos, de não ser aceitos por aquilo que sois. Hoje, há muitos jovens que, na tentativa de se adequar a padrões frequentemente artificiais e inatingíveis, têm a sensação de dever ser diferentes daquilo que são na realidade. Fazem contínuos ‘foto-retoques’ das imagens próprias, escondendo-se por trás de máscaras e identidades falsas, até chegarem quase a tornar-se eles mesmos um ‘fake’, um falso. Muitos têm a obsessão de receber o maior número possível de apreciações ‘gosto’. E daqui, desta sensação de desajustamento, surgem muitos medos e incertezas. Outros temem não conseguir encontrar uma segurança afetiva e ficar sozinhos. Em muitos, à vista da precariedade do trabalho, entra o medo de não conseguirem encontrar uma conveniente afirmação profissional, de não verem realizados os seus sonhos. Trata-se de medos atualmente muito presentes em inúmeros jovens, tanto crentes como não-crentes. E mesmo aqueles que acolheram o dom da fé e procuram seriamente a sua vocação, por certo não estão isentos de medos. Alguns pensam: talvez Deus me peça ou virá a pedir demais; talvez, ao percorrer a estrada que Ele me aponta, não seja verdadeiramente feliz, ou não esteja à altura do que me pede. Outros interrogam-se: Se seguir o caminho que Deus me indica, quem me garante que conseguirei percorrê-lo até ao fim? Desanimarei? Perderei o entusiasmo? Serei capaz de perseverar a vida inteira?”.

    São medos e questões comuns a todos os seres humanos, mas é preciso conhecê-los, nomeá-los e enfrentá-los, sempre confiante na bondade divina. Nunca se entregar ao medo, de modo algum. É preciso fé (cf. Mc 4,40). “De modo particular – continua o Papa – para nós, cristãos, o medo nunca deve ter a última palavra, mas ser ocasião para realizar um ato de fé em Deus… e também na vida. Isto significa acreditar na bondade fundamental da existência que Deus nos deu, confiar que Ele conduz a um fim bom mesmo através de circunstâncias e vicissitudes muitas vezes misteriosas para nós. Se, em vez disso, alimentarmos os medos, tenderemos a fechar-nos em nós próprios, a barricar-nos para nos defendermos de tudo e de todos, ficando como que paralisados. É preciso reagir! Nunca fechar-se! Na Sagrada Escritura, encontramos 365 vezes a expressão ‘não temer’, nas suas múltiplas variações, como se dissesse que o Senhor nos quer livres do medo todos os dias do ano”. Confiemos!

    A quem se sente chamado por Deus para uma vida de total entrega ao Senhor, no sacramento da Ordem, do Matrimônio ou na Consagração de vida, religiosa ou leiga, o Papa fala da importância da abertura à voz do Senhor, à semelhança do que ocorre no primeiro livro de Samuel: “O jovem Samuel, quando ouve a voz do Senhor, não a reconhece imediatamente e três vezes foi ter com Eli, o sacerdote idoso, que acaba por lhe sugerir a resposta certa a dar à chamada do Senhor: ‘Se fores chamado outra vez, responde: ‘Fala, Senhor; o teu servo escuta’ (1 Sm 3, 9). Nas vossas dúvidas, sabei que podeis contar com a Igreja. Sei que há bons sacerdotes, consagrados e consagradas, fiéis-leigos – muitos deles também jovens –, que vos podem acompanhar como irmãos e irmãs mais velhos na fé; animados pelo Espírito Santo, serão capazes de vos ajudar a decifrar as vossas dúvidas e a ler o desígnio da vossa vocação pessoal. O ‘outro’ é não apenas o guia espiritual, mas também quem nos ajuda a abrir-nos a todas as riquezas infinitas da existência que Deus nos deu. É necessário abrir espaços nas nossas cidades e comunidades para crescer, sonhar, perscrutar novos horizontes! Nunca percais o prazer de gozar do encontro, da amizade, o prazer de sonhar juntos, de caminhar com os outros”. Importa, no contexto da autêntica vida cristã, nunca deixar de lado o silêncio e a oração, a leitura e a meditação da Bíblia e os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia.

    Nenhum(a) jovem pode, de acordo com o Santo Padre, se fechar em seu próprio mundo: “Não deixeis, queridos jovens, que os fulgores da juventude se apaguem na escuridão duma sala fechada, onde a única janela para olhar o mundo seja a do computador e do smartphone. Abri de par em par as portas da vossa vida! Os vossos espaços e tempos sejam habitados por pessoas concretas, relações profundas, que vos deem a possibilidade de compartilhar experiências autênticas e reais no vosso dia a dia”.

    O segundo ponto da fala do Papa é Maria: “‘Eu te chamei pelo teu nome’ (Is 43, 1) […]. Quando chama pelo nome uma pessoa, Deus revela-lhe ao mesmo tempo a sua vocação, o seu projeto de santidade e de bem pelo qual essa pessoa será um dom para os outros e se tornará única. E mesmo quando o Senhor quer ampliar os horizontes duma vida, decide dar à pessoa chamada um novo nome, como faz com Simão, chamando-o ‘Pedro’ […]. Assim, queridos jovens, ser chamados pelo nome é um sinal da nossa grande dignidade aos olhos de Deus, da sua predileção por nós. E Deus chama cada um de vós pelo nome. Vós sois o ‘tu’ de Deus, preciosos a seus olhos, dignos de estima e amados (cf. Is 43, 4). Acolhei com alegria este diálogo que Deus vos propõe, este apelo que vos dirige, chamando-vos pelo nome”. Coragem, Deus o (a) conhece pelo nome e o (a) ama como ninguém.

    Achaste graça diante de Deus”, é o terceiro ponto da fala do Santo Padre: “A presença contínua da graça divina encoraja-nos a abraçar, com confiança, a nossa vocação, que exige um compromisso de fidelidade que se deve renovar todos os dias. Com efeito, a senda da vocação não está desprovida de cruzes: não só as dúvidas iniciais, mas também as tentações frequentes que se encontram ao longo do caminho. O sentimento de inadequação acompanha o discípulo de Cristo até ao fim, mas ele sabe que é assistido pela graça de Deus. A graça (cháris, em grego) é o dom gratuito criado por Deus para nos fortalecer em cada momento da nossa vida.

    “Coragem no presente”, sem a coragem fruto da graça divina em nós, nada se faz de bom e duradouro neste mundo. Quem tem coragem se lança ao serviço do(a) outro(a) como Maria disposta a servir Isabel: “À jovem Maria foi confiada uma tarefa importante, precisamente porque era jovem. Vós, jovens, tendes força, atravessais uma fase da vida em que certamente não faltam as energias. Usai essa força e essas energias para melhorar o mundo, começando pelas realidades mais próximas de vós. Desejo que, na Igreja, vos sejam confiadas responsabilidades importantes, que se tenha a coragem de vos deixar espaço; e vós, preparai-vos para assumir estas responsabilidades”.

    Mais: “Convido-vos ainda a contemplar o amor de Maria: um amor solícito, dinâmico, concreto. Um amor cheio de audácia e todo projetado para o dom de Si mesma. Uma Igreja impregnada por estas qualidades marianas será sempre uma Igreja em saída, que ultrapassa os seus limites e confins para fazer transbordar a graça recebida. Se nos deixarmos contagiar pelo exemplo de Maria, viveremos concretamente aquela caridade que nos impele a amar a Deus acima de tudo e de nós mesmos, a amar as pessoas com quem partilhamos a vida diária. E amaremos inclusive quem nos poderia parecer, por si mesmo, pouco amável. É um amor que se torna serviço e dedicação, sobretudo pelos mais fracos e os mais pobres, que transforma os nossos rostos e nos enche de alegria”.

    Para concluir, quero recordar as palavras do Santo Padre: “Sabei que o Papa confia em vós, que a Igreja confia em vós! E vós, confiai na Igreja!”. Com a devida vênia, faço minhas as palavras do Papa voltada à nossa realidade diocesana: Sabei que o seu Bispo confia em cada um de vocês, esta Igreja particular do Rio de Janeiro confia em vocês e quer, sem medir esforços, ajudá-lo(la) a caminhar com fé, esperança e amor, sendo o diferencial na conturbada sociedade de nossos dias e sendo uma diferença positiva na vida de muitos irmãos e irmãs.

    Participe do momento arquidiocesano!  Aqui em nossa Arquidiocese celebramos a jornada da juventude no sábado que antecede ao Domingo de Ramos. Assim facilitamos a participação dos jovens em suas paróquias para animar a juventude a refletir sobre a mensagem do Papa para essa ocasião. Neste ano nós iniciaremos o evento as 13 horas deste sábado dia 24 de março, junto à Estação Estácio do Metrô. As 15 horas daremos a bênçãos dos Ramos e iniciaremos a procissão até a Matriz de São Francisco Xavier onde teremos a Missa do Domingo de Ramos com a juventude reunida. Todas as expressões jovens são convidadas para participarem desse momento arquidiocesano e, assim, unidos, continuarmos nossa missão de ser sal da terra e luz do mundo como igreja em saída que anuncia o Reino e se torna construtores da cultura da paz superando a violência e construindo um mundo de irmãos. Não tenhamos medo, a graça de Deus faz maravilhas em nós e através de nós como fez em Maria.

    Com o coração aberto abençoo a todos e, ao fazê-lo, estendo esse mesmo afeto paterno e fraterno a quantos lhe são queridos(as). Deus, por intercessão da Virgem Maria, o (a) proteja e guarde, hoje e sempre. Amém.

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