A cura do surdo mudo, narrada por São Marcos, oferece detalhes que mostram Jesus, Médico divino, que curava o corpo, mas sempre deixando mensagens para robustecer espiritualmente o agraciado (Mc 7,31-37). Os hermeneutas, sobretudo, neste episódio salientam o estilo de repórter deste evangelista. Ele emprega frases curtas, minudências vivazes, palavras percucientes, sumamente expressivas. O modo como Cristo agiu perante aquele doente poderia parecer estranho no contexto atual que ostenta uma medicina tão avançada. Ele “colocou os dedos nos ouvidos e com a saliva tocou-lhe a língua”. Estes gestos, porém, eram muito comuns naquele tempo, não somente em Israel, mas em todo o mundo greco-romano. Entretanto, o que nos deve chamar a atenção é o fato de que ao mesmo tempo Jesus elevou os olhos ao céu, suspirou e disse “Effatá”, ou seja, que os ouvidos se abrissem e a língua se soltasse, acabando a deficiência da oralização que impedia de emitir sons. Jesus olhou longamente para o céu para bem significar de onde viria a cura, isto é, do poder de Deus, para quem nada é impossível. Além, dito, ele suspirou, não que Ele estivesse cansado de fazer milagres a favor dos pobres padecentes, mas, com este suspiro ele estava a lembrar os lamentos da humanidade sofredora. Naquele surdo mudo Ele contemplava a longa série de doentes crônicos, angustiados. De acordo com o que profetizara Isaías, Jesus era o Servo de Deus que “tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou-se com as nossas dores” (Is 53,4). Ele se apiedou daquele surdo mudo e pronunciou uma palavra misteriosa que São Marcos conservou tal qual era usada no aramaico popular então falado: “Effatá”. Foi uma ordem e um programa de vida. Um único vocábulo pelo qual o divino Taumaturgo agiu em duplo nível, pois curou o corpo e legou ao miraculado a certeza de que Ele era verdadeiramente o Filho do Deus Onipotente de cuja humanidade “saia uma virtude que curava a todos” (Lc 6,19). Com isto Jesus firmava a fé de seus seguidores através dos tempos. Ele continua a dizer a todos os que padecem na solidão “Effatá”, abre o coração para Deus que está sempre ao lado dos que sofrem. Ele está a falar a todos que conservam o rancor dentro de si “Effatá”, rasga a cortina do ódio e envolva a todos no perdão cordial. Aos que se enclausuram na depressão ele conclama “Effatá’, vença as cadeias do desânimo, abre-te ao otimismo, higienize tua mente, olhe novos horizontes, proclame os portentos que Deus espalhou por toda parte. É preciso, de fato, abrir os ouvidos para escutar os gemidos dos que padecem a nosso lado e deixar de ser mudo quando uma palavra prudente e oportuna pode consolar o próximo. Cumpre a todo cristão abrir-se sempre para a perfeição que Jesus propõe a cada um. É necessário abrir continuamente os ouvidos à palavra de Deus e proclama-la com entusiasmo. Muitos são mudos porque são surdos e não se abrem às inspirações do Divino Espírito Santo. Mister se faz ser permeável às inspirações do Alto e ardente para o louvor a Deus e para o testemunho de suas maravilhas. É com Jesus e por Jesus que se realiza em nós a abertura do coração, dos olhos, dos ouvidos e da boca. É por Ele que se estabelece nossa comunicação com Deus e o próximo. Ele é o mediador que nos permite entrar em diálogo com o Pai que está nos céus. Ele que curou o surdo-mudo quer sanar todos os seus seguidores de toda e qualquer moléstia psicossomática. Finalmente, é de se notar que, segundo São Gregório Magno, a saliva que Jesus usou ao curar o surdo mudo significa a sabedoria de todas as palavras que saem da boca de Deus. Estas palavras se acham na Bíblia, nas orientações do Papa, dos Bispos dos Sacerdotes, nos conselhos dos pais aos filhos, dos bons amigos a seus amigos, dos mestres tementes a Deus a seus discípulos. Mensagens de Deus transmitidas também pelos jornais, revistas, redes de televisão católicas. O importante é ter ouvidos atentos para as escutar e, em seguida, as propagar por toda parte num apostolado que fará surdos ouvirem e mudos falarem!