Segundo Domingo do Advento do Ano A, a liturgia nos apresenta novamente o horizonte da esperança messiânica. A primeira leitura, retirada de Isaías 11,1-10, anuncia: “Do tronco de Jessé sairá um rebento; de suas raízes surgirá um descendente” (Is 11,1). É uma imagem poderosa: um tronco abatido, aparentemente morto, mas que volta a dar vida. O profeta descreve o Messias como aquele sobre quem repousará o Espírito do Senhor — “espírito de sabedoria e discernimento, de conselho e fortaleza, de ciência e temor do Senhor” (Is 11,2). Essa promessa aponta para uma renovação profunda, um reinício que não depende de nossas forças, mas da fidelidade de Deus. No Reino anunciado por Isaías, até a criação é reconciliada — “o lobo habitará com o cordeiro” (Is 11,6). A pergunta que se impõe é direta: queremos realmente esse mundo novo ou nos acomodamos ao velho?
O Salmo 71(72) prolonga essa promessa dizendo: “Nos seus dias florescerá a justiça e grande paz até que a lua perca o brilho” (Sl 71). Não é um ideal abstrato: é a marca concreta do Messias, que governa com justiça, defende os fracos, liberta os pobres e faz prevalecer a paz. Por isso, viver o Advento não é apenas entrar no clima natalino; é desejar profundamente que a justiça floresça na vida real, nas escolhas, nas relações e na sociedade.
A segunda leitura, de Romanos 15,4-9, recorda que “Cristo se fez servidor da circuncisão em razão da fidelidade de Deus” (Rm 15,8). São Paulo afirma que tudo o que foi escrito no passado foi para nossa instrução, a fim de que tenhamos esperança. E nos exorta: “Acolhei-vos uns aos outros como Cristo vos acolheu” (Rm 15,7). No Advento, aceitar esse convite significa incluir, aproximar, reconciliar, exercitar paciência e caridade concretas. Fruto de conversão não é apenas penitência interior: é capacidade de acolher, de criar comunhão, de abandonar hostilidades.
Finalmente, o Evangelho de Mateus 3,1-12 nos coloca diante da figura austera de João Batista, no deserto. Sua pregação é clara: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Advento não é tempo de sentimentalismo espiritual, mas de decisão. João não tolera aparências religiosas. Ao ver fariseus e saduceus aproximando-se, diz: “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar?” (Mt 3,7). O critério é objetivo: “Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt 3,8). Não basta dizer “temos Abraão por pai” (Mt 3,9). Também nós não podemos nos apoiar apenas em costumes religiosos, em cargos, em imagens de piedade ou rotinas espirituais. Deus quer frutos, não justificativas.
João alerta ainda: “O machado já está na raiz das árvores; toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Mt 3,10). É uma palavra que corta nossas ilusões. E anuncia um Messias que não é domesticável: “Ele traz a pá na mão e vai limpar sua eira; recolherá o trigo no celeiro e queimará a palha num fogo que não se apaga” (Mt 3,12). Cristo vem para salvar, mas também para purificar. Seu amor é exigente.
Diante dessas leituras — Is 11,1-10; Sl 71; Rm 15,4-9; Mt 3,1-12 — o Advento se revela como chamado urgente à mudança real. É tempo de examinar que frutos temos produzido, quais áreas continuam estéreis, quais desculpas repetimos. O Natal só será verdadeiro quando encontrarmos coragem de remover o que impede a ação de Deus em nossa vida.
O rebento que nasce do tronco ferido nos lembra que Deus faz novas todas as coisas. Mas para que isso aconteça em nós, precisamos permitir que Ele corte, limpe, purifique, transforme. Advento é verdade, não aparência; é decisão, não acomodação; é conversão, não mera emoção religiosa.
Que neste segundo domingo possamos acolher a Palavra com sinceridade e produzir os frutos que o Senhor espera de nós, para que Cristo encontre em nosso coração não um terreno abandonado, mas uma terra preparada, limpa e fecunda. Assim, o Natal deixará de ser apenas celebrado e passará a ser verdadeiramente acolhido.


