Celebramos no dia 23 de setembro a memória do Beato Padre Francisco de Paula Victor, popularmente conhecido simplesmente como Padre Victor de Três Pontas. Neste ano, recordamos a significativa data de 120 anos de sua entrada no céu. Ao celebrarmos a sua memória, peçamos a Deus a sua intercessão e que, em breve, aconteça mais um milagre por sua mediação, de modo que ele seja canonizado pela Igreja.
Nós, no Brasil, somos privilegiados, pois temos diversos santos e beatos que nasceram ou viveram aqui, como Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, Santa Madre Paulina, Santa Dulce dos Pobres, a Beata Nhá Chica, a Beata Madre Assunta, o Beato Padre Mariano e o Beato Padre Victor. Neste dia dedicado a Padre Victor, peçamos ao Senhor que, por sua intercessão, nos conceda um milagre que leve à sua canonização — quem sabe até mesmo em favor de nós ou de alguém de nossa família.
Padre Victor viveu em um tempo difícil da nossa história, na transição do século XIX para o XX. Muitas vezes precisou enfrentar os poderosos e aqueles que se julgavam donos da vida dos outros. Por isso, pregava com autoridade, como Jesus, vivendo aquilo que anunciava. Assim como o Mestre, caminhava na contramão da sociedade de sua época e acolhia em sua igreja os pobres, humildes e escravizados, que eram humilhados e excluídos.
Peçamos, portanto, a proteção e a intercessão do Beato Padre Victor por cada um de nós e por todos os que ainda hoje são marginalizados. Tenhamos a mesma coragem que ele demonstrou para anunciar a verdade, denunciar as injustiças e viver a autenticidade do Evangelho, proclamando a Palavra de Salvação com autoridade e sinceridade.
Podemos dizer que o Beato Padre Victor é um profeta de nosso tempo, pois anunciava a verdade e denunciava as mentiras e injustiças. E, como aconteceu com tantos profetas — inclusive com o próprio Jesus —, as autoridades, movidas pela inveja, preferiam afastar esses homens de Deus de seu caminho.
Padre Victor nasceu em 12 de abril de 1827, no município da Campanha, em Minas Gerais, e faleceu em Três Pontas em 23 de setembro de 1905. Mais de cem anos se passaram até que fosse beatificado pela Igreja, em 14 de novembro de 2015, em celebração presidida pelo Cardeal Angelo Amato, SDB, delegado do Papa Francisco. Sua festa litúrgica é celebrada em 23 de setembro, data de sua páscoa definitiva.
Foi um sacerdote exemplar, de grande zelo pastoral, que cuidava com carinho das coisas sagradas e acolhia de coração aberto todos que o procuravam. Essas atitudes lhe conferiram fama de santidade, especialmente por receber em sua paróquia os escravos e os mais humildes, rejeitados pela sociedade. Suas homilias eram ricas de catequese e sabedoria, sempre fundamentadas na Palavra de Deus.
Em um tempo em que a escravidão ainda dominava o Brasil, Padre Victor acolhia e defendia os escravizados, o que provocava grande irritação nos fazendeiros da região. Estes o questionavam constantemente, mas ele não cedia e continuava firme no Evangelho de Cristo, que não exclui ninguém. Por causa disso, sofreu perseguições e ficou conhecido como o “Anjo Tutelar” de Três Pontas.
Ele conhecia de perto o sofrimento dos escravos, pois era filho de uma família escravizada. Foi, assim, o primeiro beato ex-escravo nascido no Brasil. Desde pequeno, cultivava o desejo de ser sacerdote, servir a Deus e colaborar para a transformação da realidade de seu povo.
Teve a graça de assistir à abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, embora tenha vivido as consequências das resistências e injustiças que ainda permaneceram após a lei. Faleceu em 1905 com a consciência de ter combatido o bom combate.
Ingressou no Seminário da Boa Morte, em Mariana, em 5 de junho de 1849, e foi ordenado sacerdote em 14 de junho de 1851. Permaneceu como coadjutor em Campanha e, em 1852, foi transferido para Três Pontas, onde exerceu o ministério por 53 anos, até sua morte.
Em Três Pontas, exerceu o sacerdócio de modo exemplar: zeloso no altar, fervoroso na Eucaristia e incansável no atendimento ao povo. Ensinava que, assim como Cristo vem ao nosso encontro, devemos também ir ao encontro do próximo, defendendo uma justa partilha dos bens. Pregava a igualdade entre todos os homens e o fim da escravidão, o que aumentava a oposição dos fazendeiros, que chegavam a impedir a participação dos fiéis na Missa, inclusive dos escravos. Ainda assim, Padre Victor perseverava com firmeza em sua missão.
Criou a escola “Sagrada Família”, a primeira da cidade, oferecendo educação sobretudo aos escravos e seus filhos, que não tinham condições de estudar em outros centros. Entregava tudo o que possuía em favor dos necessitados, o que reforçou seu título de “Anjo Tutelar de Três Pontas”.
Faleceu em 23 de setembro de 1905, deixando um imenso legado de santidade e caridade. Logo após sua morte, o povo já o aclamava santo, reconhecendo que ele viveu plenamente o Evangelho, sendo padre não apenas no templo, mas também no meio do povo. Fundou escolas, ajudou na edificação de hospitais e anunciou incansavelmente a misericórdia de Deus.
Celebremos com alegria a memória litúrgica do Beato Padre Victor de Três Pontas no dia 23 de setembro. Supliquemos ao Senhor que, em breve, ele seja canonizado pela Igreja e declarado santo. Que sua intercessão nos ajude a trilhar o caminho da humildade, da justiça e da caridade, sobretudo em favor dos mais pobres, pequenos e excluídos da sociedade.