Na pregação Jesus tratou dos temas fundamentais da condição humana para que todos tinham vida em abundância, entre eles a administração dos bens que a liturgia dominical trata. (Amós 8,4-7, Salmo 112, 1 Timóteo 2,1-8 e Lucas 16,1-13). Não podemos reduzir os bens a coisas materiais e ao dinheiro. São bens tudo que contribui para a dignidade humana, tudo que está a serviço do bem comum, sejam bens materiais ou imateriais. Nesta parábola, como em outras, Jesus deixa claro isto quando interroga “quem vos confiará o verdadeiro bem?” se não sois injustos com coisas materiais?
A parábola fala do administrador dos bens de um homem rico. Desponta uma primeira característica sobre os bens: somos administradores, portanto não nos é facultado gerenciar o que recebemos de modo injusto, desonesto e corrupto. Os bens devem ser administrados pelos princípios determinados pelo dono. Por exemplo, a natureza deve ser administrada e cuidada de tal modo que seja permanente geradora de vida para esta geração e as futuras; os bens públicos devem promover o bem comum; os bens pessoais, além de servir a pessoa física ou jurídica, também deve promover o bem comum.
A Doutrina Social da Igreja tem por fundamento primeiro e último os ensinamentos de Jesus, também no que se refere na administração dos bens. Diante das mudanças na história a Doutrina Social, dialogando com outras ciências, oferece princípios para iluminar o agir do cristão no tempo presente. O capítulo VII do Compêndio da Doutrina Social da Igreja ensina sobre este tema, dos quais recordo alguns. “À luz da revelação, a atividade econômica deve ser considerada e desenvolvida como resposta agradecida à vocação que Deus reserva a cada homem. […] Uma boa administração dos bens recebidos, também dons materiais, é obra de justiça para consigo mesmo e para com os outros homens” (n. 336).
Somos somente administradores dos bens, por isso eles devem ser partilhados. “Os bens, ainda que legitimamente possuídos, mantêm sempre uma destinação universal: é imoral toda a forma de acumulação indébita, porque em aberto contraste com a destinação universal consignada por Deus Criador a todos os bens”. […] As riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os outros e para a sociedade” (n. 328).
Existe uma íntima relação entre ética e economia. “A relação entre moral e economia é necessária e intrínseca: a atividade econômica e comportamento moral se compenetram intimamente. A distinção entre moral e economia não implica uma separação entre os dois âmbitos, mas, ao contrário, uma importante reciprocidade. Também na vida econômica-social a dignidade da pessoa humana, com sua vocação integral, bem como de toda a sociedade, deve ser honrada e promovida. O homem com efeito, é o autor, o centro e o fim de toda vida econômico-social” (n.331).
São Paulo, na 1ª Carta de São Paulo a Timóteo recomenda que se “façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; e pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda a piedade e dignidade”. Sobre os governantes legitimamente instituídos pesa uma responsabilidade muito grande na administração dos bens, sejam materiais ou imateriais. A justo administração dos bens reverterá para o bem comum, gerando vida tranquila, serena e dignidade humana. “Ao lado do bem individual, existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o bem daquele “nós-todos”, formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social. Não é um bem procurado por si mesmo, mas para as pessoas que fazem parte da comunidade social e que, só nela, podem realmente e com maior eficácia obter o próprio bem. Querer o bem comum e trabalhar por ele é exigência de justiça e caridade. Comprometer-se pelo bem comum é, por um lado, cuidar e, por outro, valer-se daquele conjunto de instituições que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente a vida social, que deste modo toma a forma de pólis, cidade. Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê respostas também à suas necessidades reais” (Bento XVI – Caritas in Veritate, n.7).