São Pio de Pietrelcina

    São Pio de Pietrelcina ocupa um lugar muito especial no coração da Igreja e na devoção de milhões de fiéis espalhados pelo mundo. Ao recordar sua vida, sua missão e a sua presença mística no seio da comunidade cristã, somos convidados a contemplar um homem simples que, ao se abandonar inteiramente à vontade de Deus, tornou-se testemunha luminosa da misericórdia divina. Nascido em 1887 em Pietrelcina, na Itália, Francisco Forgione, como foi batizado, desde muito cedo demonstrou um espírito profundamente voltado para as coisas de Deus.

    A sua infância marcada pela oração, pela disciplina espiritual e por uma fé enraizada no seio familiar preparou o caminho para a sua consagração total ao Senhor na vida capuchinha. Ao ingressar na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, assumiu o nome de Pio, em homenagem ao Papa São Pio V, e logo se destacou pela intensidade de sua vida interior.

    Sua vida sacerdotal foi marcada por inúmeros sofrimentos físicos e espirituais, mas também por dons extraordinários que o aproximaram do povo simples. Estigmatizado em 1918, o Padre Pio viveu por mais de cinquenta anos com as marcas da Paixão de Cristo em seu corpo, oferecendo-as como sinal de união mística com o Redentor e como testemunho do poder da cruz. Mas, para além dos sinais visíveis, o que mais impressionava nos encontros com ele era sua profunda capacidade de escuta, de discernimento e de acolhida. Milhares de pessoas buscavam sua confissão e muitos testemunharam ter experimentado conversões radicais, curas interiores e o renascimento da fé a partir de sua orientação espiritual.

    Não se pode esquecer, também, que São Pio de Pietrelcina não foi apenas um místico distante do mundo, mas alguém que concretizou sua fé em obras de misericórdia palpáveis.

    Uma de suas maiores realizações foi a fundação da Casa Sollievo della Sofferenza, hospital erguido com a colaboração dos fiéis, voltado para o cuidado integral dos doentes. Essa obra permanece até hoje como sinal de que a fé verdadeira se manifesta em gestos concretos de compaixão e de serviço.

    A devoção a São Pio cresceu de modo impressionante durante sua vida e após sua morte em 1968. Canonizado em 2002 por São João Paulo II, ele tornou-se um dos santos mais amados da Igreja contemporânea, justamente porque encarna a proximidade de Deus com os pequenos, com os sofredores, com os que buscam sentido em meio às dores da existência. Ele nos recorda que a santidade não é privilégio de alguns, mas caminho aberto a todos os que acolhem o chamado de Cristo com radicalidade.

    No Brasil, o amor ao Padre Pio encontrou terreno fecundo. Diversas paróquias, capelas e comunidades lhe são dedicadas, e muitos fiéis se inspiram em sua vida para renovar a prática da confissão, a devoção à Eucaristia e o compromisso com os pobres. Para nós, que vivemos numa sociedade marcada por tantas desigualdades e sofrimentos, olhar para a figura de São Pio é redescobrir que a fé cristã não é teoria, mas força transformadora capaz de curar feridas profundas.

    Particularmente para mim, como Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, foi motivo de grande alegria e emoção receber em nossa Arquidiocese as relíquias de São Pio de Pietrelcina em maio de 2024. O contato direto com suas relíquias não é apenas uma aproximação física com o santo, mas uma experiência espiritual que toca a comunidade inteira. Vi em nossos fiéis a comoção sincera, a esperança renovada e a fé fortalecida ao venerarem aquele que se tornou sinal vivo da presença de Cristo entre nós. O coração, o véu com sangue e outras relíquias que chegaram até nós testemunham não só os sofrimentos que ele carregou, mas sobretudo a vitória da graça sobre a fragilidade humana. Foi um momento de profunda santidade para a nossa cidade, que se abriu ainda mais à intercessão daquele que tanto sofreu e tanto amou.

    Recordo-me de ver pessoas que se aproximavam das relíquias com lágrimas nos olhos, mães que traziam seus filhos pequenos, idosos que buscavam consolo para suas enfermidades, jovens em busca de orientação para suas vidas. Todos encontravam em Padre Pio não uma figura distante, mas um amigo próximo, um intercessor fiel, alguém que compreende as dores humanas porque as experimentou em plenitude. A presença de suas relíquias em nossa Arquidiocese reforçou em todos nós a certeza de que não caminhamos sozinhos: a comunhão dos santos nos sustenta e nos acompanha.

    São Pio de Pietrelcina nos ensina que a fé se vive no cotidiano, na perseverança da oração, no silêncio diante das perseguições, na entrega confiante ao Senhor mesmo quando as explicações humanas falham. Lembremos que o Padre Pio sofreu muitas perseguições e manteve-se sereno diante das incompreensões humanas que infelizmente aconteciam no seu tempo e continuam a acontecer hodiernamente. Ele nos mostra que a santidade não é ausência de dificuldades, mas fidelidade inabalável em meio a elas. Seu testemunho deve inspirar nossas comunidades a valorizar mais a vida sacramental, a cultivar a oração constante e a exercitar a caridade concreta.

    Que todos nós, ao olharmos para a vida deste grande santo, possamos redescobrir o valor da simplicidade evangélica, a força da cruz de Cristo e a esperança que nasce da fé. E que, como Igreja no Rio de Janeiro, possamos continuar a colher frutos abundantes da presença espiritual de São Pio entre nós. Sua intercessão, sua história e seu legado permanecem como sinais de que Deus nunca abandona seu povo e continua a suscitar, em cada tempo, homens e mulheres que sejam faróis de esperança.

    Assim, com gratidão profunda, louvo a Deus por ter-nos dado a oportunidade de receber suas relíquias, de experimentar a comunhão dos santos e de renovar nossa confiança no Senhor da vida. Que São Pio de Pietrelcina continue a interceder pelo Rio de Janeiro, pelo Brasil e por toda a Igreja, ajudando-nos a viver com autenticidade a fé que professamos. Que ele, testemunha fiel da cruz e da ressurreição, nos ajude a trilhar o caminho da santidade.

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