A liturgia dominical nos convida a refletir sobre o futuro que nos espera e para o qual nos devemos preparar durante a nossa peregrinação na terra (Isaías, 66,18-21, Salmo 116, Hebreus 12,5.11-13 e Lucas13,22-30). A pergunta que desencadeia os ensinamentos de Jesus Cristo, enquanto prosseguia o caminho para Jerusalém, é: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” A pergunta revela uma tendência muito presente no instinto humano. A tentação de sentenciar e dividir os homens entre salvos e condenados. Os que estão ao nosso lado consideramos salvos e os que não estão, são condenados.
Jesus responde não de forma direta, nem indica quantidade de salvos. Porém a resposta é surpreendente. Ela é distante dos esquemas pré-concebidos e da lógica humana. Diz que diante dos homens existe uma porta estreita e outra larga, uma porta aberta que paradoxalmente se fecha diante de homens aparentemente justos e uma porta que se escancara diante de homens desconhecidos. Estamos diante de um tema exigente e envolvente. Falar de salvação é entrar no mistério divino. A salvação pertence ao mundo de Deus. Aqui encontramos os limites da condição humana e do nosso conhecimento: a possibilidade de salvar-se, o número dos salvos e a identidade dos salvos.
Diante da pergunta sobre o número dos salvos, Jesus interpela os que o seguem colocando-os diante de uma decisão. A metáfora usada é a “porta estreita”, através da qual é necessário “fazer todo esforço” para alcançar a salvação. Dar ou não a salvação compete a Deus. O homem é chamado a uma escolha decisiva de caminhar com Jesus e viver a seu modo. É transformar em vida e em fatos os ensinamentos aprendidos. É uma tarefa contínua e se faz necessário começar cada dia.
Em seguida Jesus usa a metáfora da porta que se fecha. Os que ficaram do lado de fora usam vários argumentos para que lhes seja aberta. “Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!” Recebem como resposta: “Não sei de onde sois. “Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça”. Estes consideram a salvação um direito ou um privilégio. Argumentam que conhecem os ensinamentos, participaram de atividades, de festas com o dono da casa. A resposta que recebem que não vivenciaram o que aprenderam, além de praticar a injustiça. Não foram justos e nem bons.
A terceira porta revela que a salvação é aberta para todos. “Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa do Reino de Deus”. O plano de Deus de ver toda humanidade junto a ele não conhece lacunas no tempo. Pela boca de Isaías Deus anuncia: “virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória”. Todos serão convidados a se dirigirem “até o meu santo monte em Jerusalém”.
Portanto, a salvação é uma oferta universal, pois Jesus veio ao mundo para salvar toda humanidade. Jesus tornou ainda mais claro desejo eterno de Deus de salvar. Todos podem entrar na vida, mas a condição para entrar na vida celeste é única e universal, a “porta estreita”. Jesus recorda que no último dia seremos julgados, não com base em presumíveis privilégios, mas segundo as obras. O “bilhete de identidade” que qualifica a pessoa para entrar foi construído pela bondade do coração, com a humildade, com a mansidão, a misericórdia, o amor pela justiça e a verdade, o compromisso sincero e honesto pela paz e pela reconciliação.
A Carta aos Hebreus reflete o tema de Deus como educador. Ele educa, por isso repreende, corrige e castiga. Faz isso porque ama seus filhos. A correção, mesmo que cause alguma dor, é necessária. A educação “produz um fruto de paz e de justiça” habilitando o educando para passar pela “porta estreita”.