Sermão do Encontro

    Terça-feira Santa – Semana Santa

    Irmãos e irmãs, paz e bem!

    Hoje, nesta Terça-feira Santa, a Igreja nos reúne para celebrar um dos momentos mais comoventes da Paixão: o Encontro de Jesus com sua Mãe, Maria Santíssima, no caminho do Calvário. É uma cena silenciosa, mas poderosa. Uma troca de olhares entre o Filho ensanguentado e a Mãe de coração dilacerado. Nenhuma palavra é registrada nas Escrituras. Mas o silêncio deste momento fala mais alto que mil discursos. Hoje somos convidados a entrar nesse silêncio sagrado. A caminhar com Maria. A chorar com Ela. A seguir Jesus.

    O caminho da cruz: dor e fidelidade

    Jesus carrega a Cruz. Seu corpo está ferido, Seu rosto ensanguentado, Seus passos vacilantes. A multidão O empurra, os soldados O humilham, e alguns O observam com desprezo. É o justo condenado, o inocente entregue.

    De repente, no meio do caminho, um olhar o encontra. É o olhar da Mãe. Maria está lá. Não fugiu. Não se escondeu. Ela quis vê-Lo. Quis estar com Ele. Mesmo sabendo que cada passo d’Ele era uma espada que transpassava seu coração.

    E Jesus A vê. E Ela vê o Filho. Olham-se. Compreendem-se. Sofrem juntos. Ali se encontra o amor mais puro com a dor mais profunda. O Filho que entrega a vida pela salvação do mundo. A Mãe que entrega o Filho, aceitando a vontade de Deus. Que encontro! Que mistério!

    Um amor que não abandona

    O Encontro de Jesus com Maria é também o encontro da dor com a fidelidade. Maria é a imagem da Mãe que permanece. Que não abandona o Filho mesmo quando tudo parece perdido. Que não foge da cruz, mas caminha com o crucificado.

    Quantas mães hoje se encontram com seus filhos feridos pela violência, pelas drogas, pela injustiça, pela pobreza! Quantas Marias ainda percorrem as ruas, hospitais, presídios, necrotérios… procurando, chorando, abraçando seus filhos!

    O Encontro de hoje é também um clamor: não deixemos os crucificados sozinhos!

    A presença de Maria ao lado de Jesus nos ensina que, mesmo sem poder tirar a cruz do outro, podemos estar presentes. Podemos consolar. Podemos amar até o fim.

    A dor do silêncio

    Notemos, irmãos, que o Evangelho não nos dá nenhuma palavra desse encontro. Jesus e Maria se olham. E o olhar basta. Não é necessário falar. É um encontro de almas. É um amor que compreende sem precisar de palavras.

    Quantas vezes também nós não temos o que dizer diante da dor de alguém… Mas podemos estar presentes. Podemos abraçar. Podemos chorar junto. Maria não diz nada. Mas sua presença é tudo.

    Maria, modelo de fé e esperança

    Maria não compreende plenamente o que está acontecendo. Mas ela confia. A mesma que ouviu do anjo: “Alegra-te!”, agora vê o Filho esmagado pela dor. Mas ela se lembra das promessas. Ela acredita. Ela espera. Ela sabe que, mesmo no meio da dor, Deus é fiel.

    Quantos de nós, em momentos difíceis, perdemos a esperança, murmuramos contra Deus, questionamos Seu amor… Maria nos ensina a esperar no silêncio, a confiar no meio da noite. Porque o domingo da ressurreição virá. E o Filho que hoje cai com a cruz será glorificado.

    Um convite à compaixão

    O Sermão do Encontro é, também, um chamado à compaixão.

    Maria, ao encontrar Jesus, sente com Ele. Isso é compaixão: sofrer com o outro.

    Hoje, a liturgia nos convida a fazer o mesmo:

    – Sofrer com os que sofrem.

    – Chorar com os que choram.

    – Estar com os que carregam cruzes pesadas.

    Quantas vezes, porém, somos como a multidão indiferente, que apenas assiste de longe? Ou como os soldados, que zombam? Ou como Pilatos, que lava as mãos? O Encontro nos convida a nos comprometer com o sofrimento do outro.

    Maria, Mãe do Encontro

    Neste momento, podemos imaginar o olhar de Maria para o Filho.

    É um olhar de dor, sim. Mas também de amor, de entrega, de confiança.

    É o olhar de uma Mãe que aceita participar da redenção do mundo.

    Por isso, a Igreja a chama de Colaboradora da Salvação, Mãe Dolorosa, Mãe da Esperança.

    Neste dia, peçamos que Maria caminhe conosco.

    Que Ela nos ensine a estar com os que sofrem.

    Que nos dê coragem para abraçar nossa cruz.

    E que, quando o peso for demais, possamos olhar para Ela e lembrar: “Maria também caminhou esse caminho.”

    Que Maria, a Mãe das Dores, socorra os bispos e padres que sofrem perseguições, dentro e fora da Igreja. A misericórdia não pode ser só um discurso para os não crentes!

    Conclusão

    Meus irmãos e minhas irmãs,

    O Encontro entre Jesus e Maria é também o nosso encontro com Deus.

    Um Deus que sofre conosco. Que caminha ao nosso lado.

    E uma Mãe que nos ensina a confiar mesmo quando tudo parece perdido.

    Hoje, diante desse mistério de dor e amor, façamos um propósito:

    – De não fugir da cruz.

    – De acompanhar os crucificados do nosso tempo.

    – De carregar com fé a nossa própria cruz.

    – De nunca abandonar quem sofre.

    E quando chegar a noite escura da vida, lembremo-nos deste encontro. Lembremo-nos de que o amor é mais forte do que a dor, e que a cruz, mesmo pesada, nos conduz à vida nova.

    Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

    Jesus Cristo, Salvador do mundo, tende piedade de nós!

    Amém.

     

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