Reflexões diante do Calvário

    O sermão do Descendimento da Cruz é realizado na Sexta-Feira Santa da paixão do Senhor, ao final da tarde, seguido da procissão com a imagem do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores pelas ruas da paróquia. Para este momento devocional os fiéis são convidados a se reunirem diante do Calvário, na Igreja ou na frente da Igreja e da entrada da Igreja, e, no local mais elevado o padre profere o sermão do Descendimento da Cruz.

    Após o sermão do descendimento da Cruz todos os fiéis são convidados a participar da Procissão do Enterro e na chegada da Igreja Paroquial entrar no Templo e venerar a imagem de Nosso Senhor morto e Nossa Senhora das Dores. Também nesse dia fazemos a nossa contribuição para sustentar os lugares santos.

    O Descendimento da Cruz nos faz lembrar aquilo que José de Arimateia fez ao pedir a Pilatos permissão para tirar o corpo do Senhor da Cruz e lhe conceder um sepultamento digno. Através o Sermão do Descendimento do Senhor da Cruz seguimos passo a passo e compreendemos melhor o que significa cada chaga que o Senhor recebeu.

    É preciso resgatar esses momentos que sustentam a fé popular do povo, é importante observar que toda a liturgia da Igreja tem uma sequência, nada é colocado de maneira aleatória, uma celebração está ligada a outra. Sobretudo na Sexta-feira Santa, às 15h tem a celebração da paixão e adoração da Cruz, chamada de Ação Litúrgica. No início da noite tempos o Sermão do Descendimento da Cruz e em seguida a procissão com a imagem do Senhor morto e Nossa Senhora das Dores.  Neste dia atualizamos de certa maneira tudo aquilo que aconteceu há mais de dois mil anos atrás.

    Participemos com fé e piedade desse momento e relembremos aquilo que José de Arimateia fez, porque dessa forma podemos nos imaginar na cena. Escutar com atenção tudo aquilo que o padre profere durante o sermão. Ao vermos o Senhor sendo sepultado lembremos de tantas de mães que tem que sepultar os seus filhos antes do tempo, de tantos inocentes que morrem por causa das guerras e da violência nas grandes cidades, e ainda tantas pessoas que morrem sem o devido apoio e são enterradas sem reconhecimento, de forma indigna.

    Além do sermão proferido pelo sacerdote, esse momento na medida do possível é encenado, usa-se uma Cruz própria – ou seja, se refaz a cena do Calvário, com o Cristo na Cruz ou um grupo de fiéis encena esse momento. À medida que se encena dá mais vivacidade para o momento. Normalmente em algumas paróquias os jovens preparam uma encenação para esse momento e todos participam com muita atenção e emoção. Em muitos lugares há o próprio Sermão tradicional – seguido da encenação pelos fiéis. Temos em muitos lugares o Auto da Paixão.

    Por mais que nos dias de hoje vemos o Senhor na Cruz, sabemos que Ele ressuscitou, venceu a morte e está ao lado do Pai. Jesus nos abriu o caminho para a vida eterna e do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos.

    A Sexta-feira Santa é um dia de oração e reflexão, dia de jejum e abstinência, não é um dia de luto, mas pelo contrário, um dia para pensarmos na finitude da vida, e que não importa a maneira como morreremos, um dia estaremos na vida eterna ao lado de Deus. Ao longo da Sexta-feira Santa somos convidados a meditar nos últimos passos da vida de Jesus, desde a sua agonia no horto, condenação, prisão, caminho até o calvário, crucificação e morte. Nessa Sexta-feira somos convidados a rezar mais. A tarde somos convidados a participar da Ação Litúrgica da paixão do Senhor e adoração a Cruz, seguida do sermão do Descendimento da Cruz procissão e depois a procissão enterro. Um dia inteiro de oração desde a manhã até a noite. Um dia de silêncio, meditação, jejum e abstinência.

    Peçamos que os nossos pecados tenham sido pregados na Cruz e possamos ressurgir para uma vida nova na vigília da ressurreição. Essa é a ideia da quaresma e da Páscoa, deixar morrer em nós o velho homem e ressurgir para uma vida nova. É a passagem da morte para a vida, ou seja, do pecado para a vida eterna, deixar de lado a escravidão do pecado e passar para a liberdade da vida em Deus.

    Ao participarmos da celebração da paixão do Senhor e adorar a Cruz, cremos que o sofrimento acabou ali e que Jesus venceu a morte e abriu para nós o caminho para a vida eterna. Em setembro celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, nessa festa não adoramos simplesmente o madeiro da Cruz em si, mas adoramos aquele que nela morreu e ressuscitou por amor a nós. É comum entoarmos esse cântico na Sexta-feira Santa: “Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás”. A Cruz que para muitos é derrota ou o fim, inclusive para os judeus, mas para nós é vitória e o início de uma nova vida. Desde o nosso batismo somos marcados com a Cruz de Cristo e a fé na Cruz de Cristo nos acompanhará ao longo de toda vida, até ao dia de nossa morte.

    Iniciemos o descendimento da Cruz para tirar o corpo de Jesus da Cruz. José de Arimatéia pediu autorização para Pilatos, mas para sepultar o corpo do Senhor e, é necessário fé e coragem para transportar o corpo do Senhor. Nossa Senhora sua mãe, acompanhava tudo de perto, com dor no coração, mas crendo na misericórdia de Deus. É preciso acreditar que Ele está vivo, e intercede junto ao Pai por nós.

    Em primeiro lugar tiremos a inscrição “INRI”, que significa: Jesus Nazareno Rei dos Judeus, escrito em hebraico, latim e grego. Essa inscrição se torna para nós uma profissão de fé e rezamos diariamente no Pai Nosso: “Venha a nós o vosso reino”. O Reino de Deus só se fará presente em nossa vida, a partir do momento que fizermos a vontade de Deus. Ele é o caminho, a verdade e a vida.

    Agora, tiremos a “coroa de espinhos”, essa coroa não era digna de um rei, ainda mais um rei como Jesus. Puseram uma coroa falsa naquele que era o verdadeiro rei. Os espinhos simbolizam as consequências do pecado. Muitas vezes nós cravamos essa coroa em Jesus, quando não realizamos a sua vontade e cometemos pecados.

    Em seguida, passemos para o corpo do Senhor propriamente, por primeiro “Desprendamos o braço direito”, ao ser crucificado recebeu pregos em suas mãos e pés. Imaginemos a dor que Jesus sentiu ao receber esses pregos. Nós também colocamos esses pregos em Jesus toda as vezes que pecamos e que não fazemos a sua vontade em nossa vida. Ferimos Jesus todas as vezes que não permitimos que as nossas crianças tenham uma educação de qualidade.

    Em seguida, “Desprendamos o braço esquerdo”, é preciso desatar os braços do Mestre, o braço que foi esticado e preso na Cruz, o braço que foi feito para fazer o bem, não pode ficar preso na Cruz. Que todas as vezes que o nosso braço nos levar a pecar, lembremos das feridas que Jesus sofreu ao ter seu braço preso na Cruz.

    Meus irmãos, já desprendemos os braços, agora desprendamos os pés, “Desprendam os pés”, os pregos de seus pés com certeza eram maiores ainda que os pregos de suas mãos, pois pregaram seus dois pés juntos. Imaginemos a tamanha dor que Jesus sentiu, e ainda tendo que suportar a dor do flagelo que sofreu, da coroa de espinhos e dos pregos das mãos. Que todas as vezes que impedirmos alguém de caminhar, ou privar alguém de liberdade, possamos pensar o que Jesus sofreu ao ter seus pés pregados.

    Por fim, “desçam o corpo de Jesus”, nesse momento façamos um profundo silêncio em sinal de respeito, ao Mestre que falecido é tirado da Cruz. Imaginemos a cena do corpo de Jesus sendo entregue a Maria, sua mãe (Pietà). Lembremo-nos nesse momento de tantas mães que recebem os seus filhos “mortos” em seus braços. Mortos pela violência, balas perdidas, tráfico, doenças etc. Que o Espírito Santo conforte o coração dessas mães, do mesmo modo que confortou o coração de Maria Santíssima.

    Após tirar o corpo do Senhor da Cruz, o sepultemos, mas crendo que Ele ressuscitará no terceiro dia. Que Jesus sepulte todos os nossos pecados e ressurjamos com Ele para uma vida nova na Páscoa. Se agora as trevas tomam contam do mundo, no sábado de madrugada, na vigília da ressurreição a Luz iluminará o mundo todo.  Que com a ressurreição de Jesus o mundo se abra para a paz e a harmonia, e não haja mais guerras e fome.

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