Este é o último Domingo do Tempo Comum, e a Igreja contempla, adora e proclama o seu Senhor, Jesus Cristo, como Rei e Senhor do universo! Depois de termos percorrido todo o Ano Litúrgico, chamado de Ano B aos domingos, começando lá atrás, com o Advento que nos preparava para o Natal; depois de termos atravessado a penitência quaresmal e o júbilo pascal, depois das trinta e três semanas do longo Tempo Comum, eis-nos agora, ao final do ano da Igreja, proclamando que o Senhor do universo, o Rei do tempo e da eternidade é o Cristo nosso Deus!
Rei do Universo! Título pomposo, esse! E pode nos levar à descrença e ao engano. À descrença, quando olhamos em torno a nós e constatamos que cada vez mais Cristo parece reinar menos! Como é Rei? Nossa sociedade é pós-cristã e neopagã, os traços do cristianismo e as marcas de respeito pelo Senhor Jesus vão se diluindo e desaparecendo rapidamente… Jesus não mais é rei nas famílias, Jesus não mais é rei nas nossas escolas, Jesus não mais é rei nos nossos ambientes de trabalho, não mais é rei nas nossas leis nem dos nossos legisladores e governantes… Hoje reina o relativismo, hoje reina a banalização do que é sagrado… Não será, então, uma tremenda ilusão, uma alienação de quem não quer ver a verdade dos fatos, dizer que Cristo é Rei? Não estaria a Igreja tão tonta de ilusão, que pensa ainda como se fora dois ou três séculos atrás? O mundo nos grita aos ouvidos: “Não! Cristo não é nosso Rei! Não queremos que esse aí reine sobre nós! Que reine a nossa ciência; que reine a nossa vontade na terra; que reine nosso prazer; reinemos nós mesmos, como senhores do bem e do mal, do certo e do errado, da vida e da morte!” É assim, meus irmãos, que olhando a realidade atual, a festa de hoje pode nos levar à descrença, a uma tremenda tristeza, a um inapelável desânimo! Parece que o Reino no qual apostamos não passa de um conto de fadas desmentido pela realidade tão dura, rude e poderosa.
A primeira leitura – Dn 7,13-14 – ecoam as palavras da primeira leitura desta Celebração não são uma brincadeira nem uma fábula: “Entre as nuvens do céu vinha um como Filho do Homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença”. Os poderosos atormentam o Povo de Deus, mas Jesus é o Senhor da História; a palavra final cabe a Ele pronunciá-la. Jesus, na sua aparência humana, foi apresentado ao Pai que o revestiu de poder, de glória e realeza e todas as nações do universo o servem e adoram como o seu Rei! Foram-lhe dados poder, glória e realeza e todos os povos, nações e línguas o serviam. Seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. Certamente, a glória do Senhor se manifestará de modo claro, palpável e inapelável ante todos nós e toda a humanidade; certamente o Senhor haverá de nos julgar a todos e a cada um de nós; certamente, a nossa história e a história humana toda serão passadas a limpo no Cristo.
Na segunda leitura – Ap 1,5-8 – Jesus voltará definitivamente para instalar o Reino de Deus. Virá com glória e todos o reconhecerão como o verdadeiro Messias, para alegria dos bons e desespero dos maus. Será o tribunal divino: Salvação para os bons e condenação para os maus. Jesus, agora glorificado pelo Pai – “o Ancião de muitos dias” – é reconhecido pelo universo todo, inclusive, por aqueles que o “traspassaram” e todas as tribos do universo baterão no peito por causa de sua teimosia e rejeição!
No Evangelho – Jo 18, 33b-37 – Jesus é Rei, mas o seu Reino não é deste mundo. De fato, Ele é Rei e veio para dar testemunho da verdade; escutemos a sua voz, pois Ele é Senhor e Rei de todo o universo! Quando afirmamos que Cristo é Rei, de que Reino estamos falando? De que modo de reinar? De que tipo de Rei? No Evangelho de hoje, Pilatos perguntou a Jesus: “Tu és Rei?” E Jesus confirma, mas esclarece: “O meu Reino não é deste mundo. Meu Reino não é daqui!” Eis! Um Reino que não é como os reinos deste mundo; um Reino que não tem de modo algum os critérios dos reinos daqui. Um Reino que não se vê pela dimensão do território, não se conta pelo poder de suas tropas… “Meu Reino não é daqui!” Trata-se, como diz o Prefácio da Missa de hoje, de um “reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. Jesus é Rei não porque manda em tudo e em todos; é Rei não porque o mundo o reconhece e o adora… Nada disso! É verdade que, ao fim da história humana, toda a criação e toda a humanidade serão por ele julgadas e nele transfiguradas.
O Reino de Cristo deve aparecer sobretudo na vida da Igreja e na vida dos cristãos. Ali, onde o amor de Cristo é acolhido com doçura e bondade; ali, onde reina o amor e a caridade; ali onde o serviço e o perdão estão presentes; ali, onde se reza e se busca realmente levar a cruz com Cristo até a morte!
Eis a grande lição da Festa deste hoje: o tempo, a história, o cosmo. tudo corre para Jesus: ele é o Alfa e o Ômega, o A e o Z, o Primeiro e o Último! É nele, no critério da sua Cruz, que tudo será avaliado, tudo será julgado! Ao Reinado de Cristo, um Dia – no seu Dia – tudo estará plenamente submetido! Mas, nunca esqueçamos: aquele que é nosso Rei e Juiz é o nosso Salvador, o humilde Filho do Homem, que se manifestará revestido de glória porque morreu por nós: “Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogênito dentre os mortos, o Soberano dos reis da terra”. A Jesus Cristo, eterno e imortal, sejam dadas glórias pelos séculos dos séculos. Amém.