QUANTO VALE UMA OFERTA

                Na perspectiva humana, valores monetários são inflados pela cotação diária de uma bolsa ilusória. Há um lastro a ser seguido, de acordo com os humores e oscilações do mercado. Seu peso e medida nunca são os mesmos, dependendo da ótica daqueles que regem ou administram os interesses financeiros dum mundo globalizado. São os donos da bolsa, os que ditam as regras! Um cofre com fundo falso…

                Mas na perspectiva divina a realidade é outra. Nesta não existe ostentação, nem ilusões passageiras, nem moedas virtuais. Os valores são outros. Imaginem então a cena que se segue. “Jesus estava sentado no templo, diante do cofre de esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre” (Mc 12,41). Penso no quão triste era para Ele essa observação. Quanta decepção! Ali acontecia um desfile de exibicionistas diante de uma multidão que se dizia cumpridora das leis. Grandes quantias eram as provas cabais de uma proteção dos céus, que envaideciam os mais ricos, exatamente aqueles que gostavam “das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes”. Vaidade, pura vaidade!

                Então, timidamente, eis que se aproxima uma pobre viúva. Envergonhada e cabisbaixa, deposita “duas pequenas moedas, que não valiam quase nada”, e se afasta com rapidez, temendo ser interpelada por alguém ou coisa assim.

                De imediato, Jesus chama a si seus discípulos, apontando a mulher. “Estão vendo essa pobre coitada! Nesse templo, hoje, ela fez a maior de todas as ofertas, pois depositou de sua miséria, deu tudo o que tinha para sobreviver”!

                Esse é o real valor de uma oferta. Dar não o que nos sobra, mas o que nos pode fazer falta, aquilo que julgamos essencial para nos manter vivos! Essa é a perspectiva com que Deus avalia nossos gestos de oferta diante de seus altares, a coragem de apresentar uma oferta maior do que nossos tesouros materiais, nossas ilusórias riquezas corroídas pela traça e ferrugem. O que temos não importa a Deus, mas o que somos, sim. Porque na integridade de uma alma sensível e disposta a agradar a Deus é que residem os maiores valores da essência humana. Esse é o dom maior, a verdadeira riqueza donde podemos tirar a maior das ofertas que os olhos misericordiosos de Jesus esperam de nós: dar da nossa pobreza, oferecer da nossa insignificância. Um gesto de amor capaz de agradar muito mais do que nossa prepotência de nos julgarmos donos do mundo, senhores do universo. Nada disso somos, nada disso temos. Ao contrário, se não nos abandonarmos plenamente nas mãos do Criador, para que Ele realize em nós seus projetos, em vão serão nossas conquistas terrenas. Insignificantes as nossas ofertas. Mais do que ofertar das “sobras”, precisamos ofertar nossas “misérias”.

                Não se trata de uma simples inversão de valores num ato de oferta que fazemos diante de Deus. Se recebemos mais, se temos melhores condições para gestos concretos de doações, não podemos fugir dessa responsabilidade maior. Quem tem mais, deve sim ser mais generoso. Mas não está dando mais do que aquele que recebeu menos. Pois, na medida de Deus, o que conta não é o valor depositado, mas a generosidade do coração que doa. E, para este, não existe dinheiro que pague um gesto de amor. Quem recebeu mais não estará dando mais do que aquele que recebeu menos. A medida de Deus é a medida do coração que ama.

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