Nos domingos comuns deste ano litúrgico, fora dos tempos festivos, a liturgia nos oferece a leitura contínua do Evangelho de Marcos. Mas ela tem consciência de que o singelo Evangelho de Marcos se tornou objeto de reflexão e de atualização. Logo nos primeiros anos do cristianismo. Exemplo de tal “releitura” é o capítulo 6 do Evangelho de João. Escrito algumas décadas depois do evangelho de Marcos, oferece-nos um exemplo de meditação eclesial sobre o tema do pão que já desenvolvido na “seção dos pães”.
A liturgia interrompe, por isso, a leitura de São Marcos e, no ponto onde Marcos traz a multiplicação dos pães, nos faz ouvir a versão de João deste evento e “o discurso do Pão da vida” do Evangelho de São João, como os biblistas chamam o conjunto das palavras de Jesus sobre o significado do dom do pão, em João 6,25-59. Sabe-se os evangelhos são uma “condensação” da vida de Jesus, de seus gestos e de suas palavras. O molde em que que os evangelistas fundiram os evangelistas João medita as palavras de Jesus sobre o dom do pão, em forma de uma discussão de Jesus com seus conterrâneos, na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6,59).
O pão e comunhão em torno da mesa eram símbolos centrais da primeira comunidade cristã. Na Igreja, vivia fortemente a lembrança da comunhão de mesa com Jesus, o Messias. As lembranças mais vezes narradas da vida de Jesus, nos Evangelhos e nas cartas de Paulo, são a multiplicação dos pães e a Último Ceia. Nas reuniões de banquete fraterno, chamadas ágape, era como se o Senhor mesmo estivesse presente no meio deles. Presença real! A lembrança do banquete messiânico à beira do logo, em Genesaré, se revestia de atualidade sempre nova. Em nenhum escrito do Novo Testamento aparecem tão claramente as ressonâncias mais profundas dessa memória como no Evangelho de João.
Começamos a seguir o texto de João a partir da volta de Jesus a Cafarnaum, depois da multiplicação dos pães (Jo 6,24). Os conterrâneos procuram Jesus, querem saber como de repente ele está de volta em Cafarnaum, se não embarcou com os discípulos na noite anterior. Jesus lhes faz sentir que, apesar de terem presenciado o milagre do pão, não enxergaram neste um sinal daquilo que ele representa e é: a realidade de Deus oferecida ao mundo. Apenas se saciaram de pão. São como um motorista que pensa que o sinal vermelho é apenas enfeite.
Jesus diz que a única obra que Deus espera deles é que acreditem naquele que ele enviou (6, 29). Percebendo que Jesus está falando de si mesmo, pedem suas credenciais, como condição para onde nele acreditarem. Moisés, no tempo dos antepassados, esse tinha credenciais! No tempo de Moisés, no deserto, os “pais” comeram o maná, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu de comer” (6,31). Jesus responde que não foi Moisés que deu o pão do céu: aquele que desce do céu e dá vida ao mundo. Jesus alimentou a multidão, mas seus interpelantes não reconhecem esse “sinal”. Ficam racionando no trilho do pão material: “Dá-nos sempre esse pão” – para não mais precisarem trabalhar. Então, Jesus diz abertamente o que significava a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: o pão, aquele que desce do céu, é ele mesmo! Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (6, 35).
Quem conhece as Escrituras reconhece nestas palavras a proclamação de um discípulo de Isaías, que escreveu no tempo do Exílio babilônico a segunda parte do livro que leva o nome do grande profeta. Em meio à idolatria da Babilônia, esse discípulo dirige o coração dos exilados judeus para o único Senhor, que vale muito mais que o sistema babilônico com seus deuses e vãs ilusões. O que se consegue com os babilônios não vale nada, exatamente como o que se compra nas lojas: é pão que não alimenta! Mas quem escuta a voz do Senhor recebe a sabedoria da vida, a Aliança duradoura com Deus, o cumprimento de suas promessas (Is 55,1-3). É isso que Jesus lembra quando fala que ele é o pão da vida e que não sofrerá sede nem fome quem se dirigir a ele.
Ao celebramos este Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum queremos meditar sobre o valor da Eucaristia e nossas vidas. Hoje também nos alegramos, pois, celebramos o primeiro domingo que agosto. Agosto é o mês das vocações. Neste primeiro domingo de agosto recordamos a vocação sacerdotal. Ao comemorarmos São João Maria Vianney, padroeiro de todos os padres, queremos pedir que Deus nos conceda sacerdotes santos, configurados ao Coração de Cristo, e disponíveis para serem dispensadores dos mistérios sagrados da nossa salvação. Padres que gastem a sua vida em favor do Povo de Deus e pela edificação do Reino de Deus entre nós! Padres que vivam a santidade e resplandeçam a santidade de Cristo, o Bom Pastor, que Deus a sua vida pelas ovelhas. Sabemos que a Igreja é feita da Eucaristia e para isso precisamos de sacerdotes para atualizarem os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Que nossos padres recebam do povo de Deus a gratidão e as orações para sustentá-los em sua missão. Deus abençoe nossos padres! Peçamos, com muita fé, que Jesus Nosso Senhor envie mais operários para sua messe! E ilumine também todos os padres de nossa Arquidiocese e do mundo inteiro. Deus conceda muitas alegrias e graças aos nossos padres!