Aquele pobre coitado, endemoniado e assustado com o confronto da presença de Deus, ali, naquele Templo de Cafarnaum, representa, e bem, nossa humanidade hoje. O confronto com a verdade afasta as legiões demoníacas que sempre buscaram nossa posse, nossas almas. “Que queres de mim, ó Filho de Deus”? Ou, como muitos hoje se perguntam: Onde estás, Senhor, que nos permite tanta dor, tanto sofrimento? Essas são as questões de vida ou morte dos que buscam novos caminhos, novos rumos para suas vidas, mas ainda se sentem presos diante da realidade dos males que nos afligem, da possessão demoníaca que nos afasta das graças e bênçãos celestes.
De que nos adiantou tanto progresso, ciência, tecnologia, se deles não podemos usufruir com segurança, satisfação, prazer? Por que tantas contradições diante de perspectivas materialistas capazes de oferecer ao ser humano tudo do bom e do melhor que essa vida nos oferece? Progresso em retrocesso? Ou contundente prova de que nosso sucesso material nada significa sem a paz espiritual, sem a vitória da vida sobre a morte?
Meu parceiro e companheiro nesta tarefa introspectiva, nessas reflexões além das fronteiras materiais, o Fonseca, nos oferece algumas pistas. Diz em um e-mail bem oportuno: “A causa da morte do capitalismo é o seu irrefreável sucesso”. Como assim, meu amigo? Se há sucesso não pode existir fracasso, diz nossa lógica terrena. Mas aqui está nosso engano materialista. Ele mesmo vai adiante, citando alguns exemplos. “Quando uma única empresa como a Apple tem capital maior que o PIB do Brasil, alguma coisa irrefreada está acontecendo”. Quando não podemos usufruir das riquezas e bens que produzimos, de fato, algo de podre cheira mal no reinado de Narizinho. Ou seja, plantamos, mas não podemos colher. “Que queres de mim, Senhor”, ousamos ainda questionar.
Então Fonseca mostra a cobra: “O vírus não brinca em serviço… ele mata impiedosamente mil pessoas por dia (média atual no Brasil). Quase vinte ônibus com 50 pessoas caindo nas ribanceiras de nossas estradas, todos os dias… É assustador”. Mas é real. Diante do caos e das vidas que se vão alienatoriamente, sem privilégios ou escolhas de classes sociais, sem separações religiosas ou políticas, muitos se refugiam e se negam a compreender o que está bem evidente: neste mundo nada somos. Dele só levaremos nosso progresso espiritual, nosso aprendizado constante e consolador da preciosidade que temos para Deus, da vida plena que Ele nos oferece através de seu Filho. Precisamos exorcizar nossas almas, purificar-nos das contaminações materialistas, que nos prendem à realidade meramente transitória. Precisamos nos libertar das possessões do progresso individual e olhar um pouco mais para o progresso coletivo, a responsabilidade social, o cuidado com o outro, a fraternidade mesmo em dias de isolamento.
Talvez seja esse o momento mais apropriado para expulsarmos de nossas vidas o demônio da prepotência, aquele mal maior que nos isola num individualismo sem futuro. A humanidade sofre. O isolamento nos divide. A segregação social evidencia nossa fraqueza, o nada que somos diante do tudo que aqui temos. O vírus não brinca… Mas o Demônio também. Ele quer nossa derrota. Então, numa inusitada ação de profilaxia e purificação total, eis que surge a figura de Jesus Cristo, a promover sua libertação plena, sua cura total que muitos ainda rejeitam. “Que queres de mim”? Essa é a pergunta crucial que devemos nos fazer hoje. Sua resposta vai depender de nossa disponibilidade para vencer os desafios que hoje se apossam de nossas existências. Libertar-nos dessas amarras, expulsar de nossas vidas os demônios da incerteza, da falta de fé… eis o primeiro passo para a imunidade que buscamos. Imunidade do corpo e da alma.