Na Liturgia católica, falamos do Domingo do Bom Pastor. É momento de escutar a voz do Pastor, do Cristo ressuscitado, mas também de entender o que cada realidade do tempo quer falar para a humanidade. O vírus da covid-19 pode ser interpretado perfeitamente como uma voz que está batendo na porta de cada pessoa e de todo o universo como alerta urgente de situação que precisa ser mudada.
Mas não basta simplesmente uma sensibilidade infecunda. O isolamento social já vem produzindo efeito positivo na qualidade do ar nos diversos locais de grandes concentrações humanas. Isto é sinal de que a natureza está revelando sobrecarga na forma como ela tem sido tratada. Um descuido neste momento pode ser fatal para impossibilitar a existência da vida, porque a ameaça recai sobre ela.
Somente escutar e sentir não resolve. A presença de Cristo ressuscitado foi amplamente vivenciada, mas traduzida em mudança de vida, em processo de conversão, de mudança de um passado para nova realidade. O seguimento de uma nova postura supõe desafio, desvestir-se de determinados conceitos para construir um mundo diferente. Passada a pandemia, a história precisa ser outra.
Escutar e seguir. O lidar com o problema do coronavirus tem se apoiado, como se vê, em questões extremamente técnicas. A ciência está realmente muito evoluída e perfeita, capaz de atingir objetivos e resultados extraordinários. Mas isso deve ser amplamente usado também para construir a história do pós-pandemia. O mundo não pode continuar subjugado ao mercado liberal excludente.
As novas gerações têm perdido seu sentido. Os avanços tecnológicos, principalmente na área virtual, distanciam as pessoas do contato com a natureza e com o calor humano. Com isto a vida acaba sendo descartada com muita facilidade, porque a dignidade individual e coletiva está sendo ferida por uma cultura que massifica as pessoas. Elas acabam não se dando conta de seu valor.
Como então peregrinar por novos caminhos? Isso é quase impossível se não houver uma transformação na qualidade de nossas lideranças. A seara política precisa ser diferente, menos agarrada ao poder, ao acúmulo e concentração de renda. Diminuir as brigas por interesses particulares e trabalhar com coragem para o bem do país. O modelo é encontrado na vida e prática do Bom Pastor, Jesus.