Neste 14º Domingo do Tempo Comum, primeiro domingo do mês de julho, quando já passamos da metade do nosso ano, a Palavra do Senhor nos convida à missão, à Evangelização, a estarmos sempre animados para pregar o Evangelho a toda criatura, sempre descobrindo formas de anunciar o evangelho como Boa Notícia atual a todas as pessoas. Testemunhar Jesus Cristo sem triunfalismos, mas com uma postura pautada no serviço e na humildade, marcas fundamentais da ação de Cristo, e que seja o nosso testemunho verdadeiro a comunicar essa verdade.
O Evangelho deste domingo (Lc 10, 1-12.17-20), fala do envio dos 72 discípulos dois a dois para preparar os caminhos do Senhor: O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir (Lc 10, 1). O Senhor quer ir a todos os lugares e alcançar o essencial da vida de cada ser humano. O número “72” pode ser uma alusão aos descendentes de Noé, como nos conta Gênesis 10,1-32, que formavam as nações antes da dispersão de Babel. Com isso, parece assinalar a universalidade da missão de Cristo. Junto a essa universalidade, as palavras de Jesus apontam também para a urgência de evangelizar. Como nos recordava S. João Paulo II (Redemptoris Missio 30): “hoje se pede a todos os cristãos, às Igrejas particulares e à Igreja Universal a mesma valentia que moveu os missionários do passado e a mesma disponibilidade para escutar a voz do Espírito.”
Jesus quer estar presente na história das pessoas. E para tal envia os seus discípulos para preparar seus caminhos. Assim acontece hoje como acontecia naquela época: nós somos os escolhidos para irmos como instrumentos, preparando os corações por meio do anúncio e do testemunho para que a Graça de Deus possa agir, para que os homens do nosso tempo tenham a verdadeira vida. Que usemos dos sinais de despojamento, abertura e simplicidade para que assim levemos ao conhecimento daquilo que é o essencial.
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10,2). Por mais que a Igreja cresça constantemente, o trabalho de evangelização é muito maior do que nossas possibilidades. Por isso a oração contínua para enviar trabalhadores para a colheita. Ao mesmo tempo, o Senhor sabe que nos envia em terra inóspita, em uma tarefa árdua: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (v.3). Envia sem nenhuma barreira ou defesa: Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós.’ Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo! Eu vos digo que, naquele dia, Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade. Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: ‘Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome.’ Jesus respondeu: ‘Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10, 3-12.17-20).
O Senhor pede dos 72 discípulos o mesmo que pede aos 12 apóstolos: total desprendimento e abandono à Providência Divina porque, como dizia S Gregório Magno, “tal deve ser a confiança que o pregador tem em Deus que ainda que não esteja provido das coisas necessárias para a vida, deve estar persuadido de que estes não lhe faltarão, para que não aconteça de que enquanto se ocupe em providenciar as coisas materiais, deixe assim de procurar as eternas.” Podemos dizer que este evangelho deve estar carimbado em nossa existência. O Senhor que envia os seus discípulos para os lugares em que ele quer passar. E nossa segurança não deve estar nas coisas, em nossas habilidades ou em nossas debilidades. Nossa motivação maior é o mandato do Senhor. E nem mesmo nos preocupamos com os frutos da missão, pois estes frutos pertencem a Deus. Nossa maior recompensa é poder já participar da messe, é servir o Senhor. Nosso interesse deve estar centrado no essencial: na boa notícia que o Senhor tem para nós e para todos. Ao mesmo tempo, ao voltar animados por ter visto tantas coisas belas que aconteceram, é momento de nos colocarmos em oração e agradecermos o Senhor por tantas maravilhas realizadas, deixando que elas auxiliem também a nossa conversão. O trabalho de evangelização e missão deve sempre ter como consequência o louvor a Deus e que a vida aconteça no coração das pessoas, na história das pessoas, nessas vidas que tanto necessitam dessa boa notícia. Que encontrando o Senhor, os homens encontrem a verdadeira vida. Encontrando a verdadeira vida, possam também bendizer o Senhor. Sem nenhuma segurança humana e vendo tantas maravilhas, agradecemos o Senhor por tantas graças derramadas.
Por outro lado, na Carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 6, 14-18), segunda leitura deste domingo, temos Paulo falando da sua missão, como alguém que anunciou o evangelho tanto para judeus como não judeus. No contexto de todas as discussões sobre a circuncisão ou não, assim anuncia: Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo.
Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo. Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor; o que conta é a criação nova (Gl 6, 14-15). Encontramos aqui um resumo daquele que é chamado de Evangelho de Paulo: não importa ser judeu ou gentio, pois desde a morte e ressurreição de Cristo o que vale é a nova criação, marcada pela fé que obra pela caridade.
Nessa missão de anunciarmos o Evangelho ao coração das pessoas, devemos leva-lo com a convicção e quem encontrou em Cristo a vida, de que a grande marca que trazemos é a marca da cruz de Cristo e o encontro com o Cristo Ressuscitado, vivo e presente no meio de nós hoje.
Ao mesmo tempo, o profeta Isaías, conforme a primeira leitura da missa (Is 66, 10-14), assim diz: ‘Eis que farei correr para ela a paz como um rio e a glória das nações como torrente transbordante. Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei; e sereis consolados em Jerusalém. Tudo isso haveis de ver e o vosso coração exultará, e o vosso vigor se renovará como a relva do campo. A mão do Senhor se manifestará em favor de seus servos (Is 66, 12-14).
A imagem do carinho de Deus apresentada na profecia mostra de maneira clara o cuidado de Deus para conosco em meio a tantas lutas do dia a dia. Quem crê nunca está só. A imagem da maternidade é um marco neste final do livro do profeta Isaías. Apresenta uma imagem impactante ao apresentar Deus consolando os seus como uma mãe que amamenta seus filhos. O catecismo da Igreja Católica, ao falar sobre esta realidade, assim diz: “Esta ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade, que indica melhor a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura A linguagem da fé vai, assim, alimentar-se na experiência humana dos progenitores, que são, de certo modo, os primeiros representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência diz também que os progenitores humanos são falíveis e podem desfigurar a face da paternidade e da maternidade. Convém, então, lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Não é homem nem mulher: é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade humanas, sem deixar de ser de ambas a origem e a medida: ninguém é pai como Deus” (CIC 239).
O salmo de resposta, (Sl 65/66), é um convite a que toda a terra aclame o Senhor. Anunciar o Senhor trazendo suas marcas em nossas vidas, confiando no cuidado de Deus e levando todos os povos a exaltar o nome do Senhor: “Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, cantai salmos a seu nome glorioso, daí a Deus a mais sublime louvação! Dizei a Deus: ‘Como são grandes vossas obras (Sl 65, 1-3)! O convite ao louvor de Deus que está presente em todo este salmo é uma forma de agradecer tudo o que Deus fez no passado e que continua a fazer por seu novo povo, que é a Igreja. O cristão louva a Deus porque faz sua Igreja permanecer de pé apesar das lutas que esta sofreu ao longo da história.
A Palavra de Deus deste final de semana é um convite à Missão, à confiança no Senhor, à experiência de ver que as coisas acontecem em Deus e à disponibilidade para que as coisas de Deus aconteçam. Convida-nos a proclamar a boa notícia: que possamos confiar na providência de Deus que há de fazer de nós instrumentos eficazes de sua Palavra.
Neste ano em que o Papa Francisco nos convoca para celebrarmos o Mês de Outubro como “mês missionário especial” e anunciando que todo aquele que é batizado é chamado a ser missionário permanente – batizados e enviados! – todos devemos estar preparados para esse tempo especial de motivação para a missão permanente que deve estar na vida de cada católico ajudando a descobrir no tecido social de nossas cidades a presença de Deus que nelas habita. Eis o tempo da missão.