O Irmão Carlos de Foucauld

    “Mística”, uma palavra usada no século V no mundo ocidental, dentro do nosso contexto cristão, empregada pela primeira vez nos escritos atribuídos a Dionysius, o Areopagita, com a finalidade de se voltar ao absoluto de Deus. Só é possível compreendê-la quando as pessoas se sentem profundamente voltadas e assinaladas pela graça de Deus. As palavras de Dom Aloísio Lorscheider, antes de morrer (23/12/2007), penso que podem ajudar na compreensão da mística cristã, quando falou sobre a outra vida: “Estou preparado. Sou curioso, quero ver o outro mundo. Viver face a face com Deus, sem dúvida, é diferente”. Eis aqui um exemplo da verdadeira esperança e mística cristã, a partir do homem de Deus, que, além de nos inspirar, faz-nos inspiradores.

    Neste dia 13 de novembro, nessa mesma esperança, recordamos a beatificação do Bem-aventurado Charles de Foucauld (13/11/2005). Tudo começou no século XIX, na providencial data de 30 de outubro de 1886, quando se submeteu à vontade de Deus. Quão abençoado e sagrado foi o encontro, em Paris, com o Padre Huvelin, vigário da Igreja de Santo Agostinho! Numa conversa com ele, fez a seguinte confidência: “Padre, não tenho fé, peço-te que me instrua”. O padre, rispidamente, disse-lhe: “Ajoelha-te e confesse teus pecados! Então, crerás!”. Obediente, experimentou uma alegria indizível: a alegria do filho pródigo.

    Dom Helder Câmara foi maravilhoso, no prefácio do livro de René Voillaume, “Fermento na Massa”, edição brasileira comemorativa do centenário de nascimento de Charles de Foucauld (1858-1958): “Aquilo que ele começou, e jamais conseguiu realizar em vida através de seguidores, é hoje realizado através dos irmãozinhos e das irmãzinhas que se espalham pelo mundo inteiro, escolhendo de preferência os pontos da terra onde residem criaturas em situação infra-humana ou em estado de rejeição ou abandono”. Que Jesus de Nazaré, aquele que entrou em cheio no Irmão De Foucauld, nos sensibilize a falar bem alto e mesmo a gritar o Evangelho com a própria vida, na mesma esperança de filhos de Deus, irmãos uns dos outros.

    Na mais viva esperança de vermos novas todas as coisas, somos agradecidos ao bom Deus pelo dom da vida do Irmão Charles de Foucauld, místico, referencial e patrimônio espiritual para o nosso mundo cristão, na experiência do absoluto de Deus. Igualmente, somos convidados, a partir da Oração do Abandono, a levar a sério o Evangelho da Cruz, longe dos primeiros lugares, nunca perdendo de vista a conversão permanente, tendo o Cristo eucarístico como eixo da nossa vida cristã. Amém!

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