Depois de treze dias caminhando e peregrinando por todos os cantos e recantos de nossa amada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levando a réplica da imagem histórica de nosso padroeiro, celebramos no sábado, dia 20 de janeiro, a Solenidade de São Sebastião, padroeiro da cidade e da arquidiocese. Que este santo, leigo que morreu mártir porque não aceitou renunciar publicamente a sua fé em Jesus Cristo Ressuscitado, nos ajude a espalharmos o amor e a construir a paz em nossa cidade.
A Missa da manhã foi no Santuário Arquidiocesano e Basílica Menor de São Sebastião no Bairro da Tijuca aqui no Rio de Janeiro, que guarda o sepulcro de Estácio de Sá, fundador da cidade; a imagem histórica de São Sebastião, trazida pelo fundador; e o marco português da cidade. Louvamos ao Senhor pelos passos já dados em nossa caminhada histórica nesta cidade e que possamos festejar a nossa cidade e rezar pelo Rio de Janeiro e que façamos tudo por amor.
Os homens e mulheres de Deus não esquecem de viver a santidade e a tenacidade do apostolado que Jesus viveu em sua vida pública e legou a cada um de nós, em que temos São Sebastião como uma das mais iluminadas testemunhas pelo seu glorioso martírio.
Neste dia de São Sebastião temos dois aspectos que nos unem: de um lado esse seguidor de Jesus Cristo, um leigo, militar, com uma carreira brilhante, uma pessoa comum como a grande maioria dos batizados, que deu nome à nossa cidade, com o seu exemplo e a sua coragem; com esta graça de seguir a Jesus Cristo, de testemunhar até o fim, de colocar em prática a palavra de Deus em gestos concretos, particularmente de acolhida do peregrino, de cura dos doentes, de solidariedade aos que sofrem e por aqueles que faltam o básico para viver uma vida digna, repleta de dignidade e de paz.
Na liturgia da palavra da missa solene do dia, três trechos bíblicos: quem tem uma vida voltada para o Senhor, daqueles que matam o corpo não podem matar a alma; felizes quando vos perseguirem por causa do Reino de Deus, porque destes será o Reino dos céus. Por fim, como a maneira como os cristãos foram condenados e morreram pelo Reino de Deus, testemunhando a sua adesão a Jesus Ressuscitado.
São Sebastião sofreu violência por duas vezes: por flechadas e por pauladas, dando testemunho do Ressuscitado. Depois da primeira tentativa, depois que voltou à saúde, ele nada reclamou, ao contrário ele se levantou das flechadas e se apresentou diante do Imperador Diocleciano pedindo-lhe que se convertesse e que mudasse de vida. E fez isso sem ódio, revanche ou rancor, superando tudo com amor. Será que nós, nos dias de hoje, teríamos a mesma coragem do Mártir São Sebastião?
Por outro lado, nós vemos a nossa cidade, identificada desde o seu nascimento com um seguidor de Cristo, por isso chamada a seguir a Cristo também, conforme o desejo de Estácio de Sá que fundou a Vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, que depois se transformou nesta grande e bela cidade que desde os primórdios foi iluminada a sua trajetória pelo testemunho de um seguidor de Cristo, São Sebastião.
A vocação e o chamado de São Sebastião, com seu testemunho diante das flechadas e pauladas, ele segue e testemunha Jesus Cristo, que está presente vivo no meio de nós.
Neste ano, na trezena, a Arquidiocese buscou um aspecto da vida de São Sebastião para viver este tempo de graça: “São Sebastião superou tudo por amor!”.
São Sebastião viveu a perseguição por ser cristão. Ele, na família, na carreira militar e na comunidade, soube colocar a sua vida e a sua postura de testemunha do Senhor Ressuscitado, sendo uma presença de Deus na sociedade e principalmente junto aos cristãos torturados e perseguidos. Ao ser questionado sobre a sua fé, São Sebastião não a renega e sofre as dores do martírio. Depois da primeira tentava cruel de mata-lo vagarosamente. quando ele se recompõe se apresenta diante do Imperador, chamando o mesmo a conversão. Mais tarde ele será martirizado e seu corpo jogado no esgoto de Roma. Porém, tanto da primeira vez teve cristãos que junto com Santa Irene o socorreram, da segunda e definitiva vez Santa Luciana e outros buscaram o seu corpo e o sepultaram. Ou seja, junto com a graça de Deus sempre supõe a presença e a ação dos cristãos no mundo para que superemos a maldade e as dificuldades de cada dia.
Vivendo em tempos de perseguição e muito difícil, São Sebastião soube mesmo depois das flechadas, retomar a atividade evangelizadora. Ao invés de vingar aqueles que o flagelaram São Sebastião foi apenas pregar a conversão e a mudança de vida, ele ajudou a transformar a sociedade com amor. Superou tudo com Amor!
O tema da trezena e da festa é que São Sebastião superou tudo com amor. É inegável que hoje nós vivemos tempos difíceis, em relação a questões religiosas, sociais, emprego, desemprego, saúde, educação, nas questões de ideologia, de um ódio que vai se criando na sociedade, em que não há lugar para o arrependimento e para a conversão. Tempos de divisão e de ódios sem perdão.
O Brasil iniciou sua caminhada cristã com a pregação missionaria do evangelho e sempre procurou viver pacificamente e sabendo conviver com os diferentes. Nós nascemos pelo Evangelho, sob o signo da Cruz, e pela prática da Palavra de Deus. Mesmo com as dificuldades o Brasil foi se solidificando pela construção de pontes, de diálogo, de perdão, de acolhida e pautados pela graça divina. Porém hoje, com a mudança de época, com ideologias que pregam violência, grupos que são intolerantes e um afastamento do verdadeiro Deus vemos que começamos a trilhar caminhos difíceis.
Na nossa vida pessoal e na nossa vida familiar, com todas as questões sociais que envolvem a sociedade de hoje, bastante cheia de divisões e de ódios, os cristãos católicos devem dar o exemplo e o sinal, na grande cidade, violenta como é e, ao mesmo tempo, bonita como é, com todas as suas potencialidades, que o povo de Deus, especialmente os cristãos leigos e leigas, batizados de todos os cantos e de maneiras, serem presença e como São Sebastião chame a conversão, à mudança de vida, superando tudo por amor.
São Sebastião só conseguiu amar porque tinha Deus no seu coração e fez tudo pelo amor de Cristo. Ele assim viver no longínquo século III e superou as pressões e até o martírio e sofrimentos.
Quem tem Deus no seu coração, que aderiu o Senhor na sua vida, saberá amar os irmãos, até mesmo os inimigos. Jesus, no Evangelho, diz que devemos amar nossos inimigos e fazer o bem a quem nos odeia. Queremos uma transformação para um horizonte de mais paz, vida, de respeito a todos, em que os cristãos devem dar testemunho para superar tudo por amor como foi São Sebastião.
Humanamente o coração dos homens e das mulheres querem a vingança. Mais o ódio chama ódio. Violência chama violência. A maneira de mudar tudo isso é a superar tudo com o amor de Deus. O amor que vem de Deus, que é oblativo, que é dar a vida pelo outro, que é revolucionar o nosso tempo e o nosso mundo.
Se queremos tempo novos, como São Sebastião, superar tudo como amor, é um caminho para 2018, que é a superação da violência, como pede a Campanha da Fraternidade, viver como irmãos, porque batizados pelo mesmo Evangelho devemos preservar e promover a vida. Para isso apresentamos hoje a nossa carta Pastoral sobre o assunto.
Dentro dos questionamentos de hoje vemos que a origem das guerras e os conflitos estão no coração do homem. Devo, no dia de nosso padroeiro, ressaltar três fontes que acompanham os mártires de ontem e de hoje: primeira fonte são os próprios carrascos, que faziam as inquisições dos mártires e que tornavam públicos as atas para que os demais renunciassem ou desanimassem da fé cristã. As atas relatam as execuções, mas não contam a vida e sim ressaltam o sofrimento para desanimar os cristãos. Os pecados e as dificuldades dos cristãos hoje são divulgados para desanimar o seguimento cristão. Essa técnica na verdade fez efeito contrário: esses relatos que falavam do martírio tornou-se um anúncio de Cristo, pois o sangue dos mártires são sementes de novos cristãos. Devemos viver a nossa vida, sem medo de acolher Cristo em nossos corações, de abrir nossos corações para Cristo, como nos foi pedido com insistência São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco: Não tenhamos medo de abrir nossos corações para o Cristo Redentor!
Segunda fonte: as testemunhas oculares, que viram o martírio, o exemplo dos cristãos, a doação pelo outro, fazem com que as pessoas, diante das dificuldades e perseguições, ajudam a ver o bem que fizeram por serem de Cristo. Ou ainda, escritores de épocas posteriores que citam os mártires, como em nosso caso, o grande Sano Ambrósio.
Terceira fonte: são os relatos poéticos que a história vai atribuindo e acrescentando na vida dos santos, que é o testemunho dos benefícios que receberam da vida dos santos, o seu testemunho pessoal na sua intimidade com o Ressuscitado pelos valores dos mártires. Porém, na base está um fato histórico.
O importante que diante de tudo que vimos e ouvimos, pelos relatos dos contemporâneos de São Sebastião, pelo que as atas marcaram na vida do santo, com o testemunho da tradição e de séculos e séculos, a memória do glorioso Mártir é um alento para continuarmos em frente no seguimento de Cristo, fazendo o bem, levando as pessoas a encontrar a Cristo, a ter um compromisso com o Cristo Ressuscitado.
Que esta cidade, nascida há 453 anos sob a égide do glorioso mártir, seja uma cidade exemplo de superação para não desanimarmos desta caminhada. Como Sebastião vamos nos levantar, vamos nos curar, e vamos testemunhar um novo mundo que é possível, quanto mais vivemos e seguimos o caminho do Senhor. Que São Sebastião, nesta cidade presente desde de 1565, como nosso patrono, nosso grande exemplo de vida cristã, seja para nós um grande sinal e venha de Deus, no limiar do ano que iniciamos, para olharmos para frente com esperança e com caridade.
Neste ano do laicato, em que a Igreja relembra a todos os batizados que todos somos “Sal da terra e Luz no mundo” (cf. Mt 5,13-14) sejamos abertos à graça da conversão, da mudança de vida e de nos colocarmos a serviço dos irmãos, com disponibilidade e alegria, Amém!
São Sebastião nos livre de toda a peste, a fome e a guerra, em especial do pecado e intercedi pela sua cidade do Rio de Janeiro.