Acima de todo nome

    Jesus não quis o sofrimento, nem para si nem para ninguém. Ao contrário, lutou generosamente para combater os males, as doenças, as injustiças da humanidade marginalizada. Busca uma única coisa: o reino de Deus e sua justiça. Vemo-lo identificado com a perseguição e também com o martírio, mas em fidelidade ao projeto do bom Deus. Por isso mesmo, vive num clima desfavorável, pela insegurança, conflitos e ameaças, sem jamais se distanciar ou se afastar da morte.
    O belíssimo hino do apóstolo Paulo, na sua carta aos Filipenses, exorta-nos, em tônica expressiva, forte e ao mesmo tempo sintética, sobre a vida e a missão de Jesus de Nazaré: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz” (cf. Fl 2, 6-7).
    Como é bom parar diante da liturgia da Quinta-Feira Santa, quando os sacerdotes, ministros da Igreja, ficam cingidos com uma toalha, para lavar os pés de pessoas de suas comunidades. É claro que pode surgir a pergunta, que vale para todos: Estamos dispostos, no exemplo de Jesus, a lavar os pés uns dos outros, isto é, a ajudar na cruz dura e pesada de cada dia de muitos irmãos? Também num mundo tão complexo e diverso como o nosso, temos disposição interior, no sentido de diminuir preconceitos, intolerâncias e intransigência para com nossos irmãos, vendo neles o rosto do Filho Amado do Pai?
    Já na Sexta-Feira da Paixão, o sacerdote, presidente da celebração, prostra-se diante do altar, num gesto indizível e de profundo e inaudito simbolismo, do ponto de vista da reverência, humildade e penitência. A expressão da Igreja, na celebração da Paixão do Senhor, é muito forte no seu significado, levando os cristãos a se voltarem para a grandeza de Deus envolvido em mistério. Nada mais apropriado e de melhor sentido do que as palavras do Servo de Deus, Dom Helder Câmara: “Que eu possa aprender afinal, cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas, o mistério da redenção”.
    Que a liturgia da Semana Santa possa, de verdade, permear nosso imaginário do sagrado, numa ardorosa busca sempre maior, da nossa intimidade com Cristo, culminando na conversão do coração. Somos todos convidados a refletir, do mais íntimo do íntimo, sobre a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu me entrego, Senhor, em tuas mãos, e espero pela tua salvação”.

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