Sepultar os mortos e rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos

    Neste Ano da Misericórdia é de bom alvitre recordar que uma  das obras de misericórdia é enterrar os mortos e rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. O ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus e, no caso de quem foi batizado, ele se tornou o templo vivo da Santíssima Trindade, uma vez que a alma unida ao corpo participa da própria vida divina. Jesus foi claro: “Se alguém me ama, obedecerá à minha Palavra; e meu Pai o amará, e nós viremos até ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23).  No Antigo Testamento vemos que grande era o respeito para com o ser humano falecido Assim, por exemplo, no Livro do Gênesis está registrado que “Abraão expirou: morreu numa velhice feliz, idoso e de bons anos, e foi reunido aos seus antepassados. Seus filhos, Isaque e Ismael, o sepultaram na gruta de Macpela (Gên 25,8-9). Este livro mostra também que “Isaque viveu cento e oitenta anos e expirou. Ele morreu e reuniu-se à sua parentela no mundo dos mortos, idoso e farto de dias; seus filhos Esaú e Jacó cuidaram de seu sepultamento” (Gên 35 28-29). Célebre se tornou Tobias que “com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos” (Tb 1,20). Até hoje em Jerusalém se destaca o túmulo de Davi a que faz referência o Primeiro Livro dos Reis no versículo décimo. No Novo Testamento um dos túmulos mais venerados e visitados é o do próprio Cristo o qual, como rezamos no Símbolo dos Apóstolos ”foi crucificado, morto e sepultado”. Os cemitérios cristãos continuaram também este significativo costume bíblico. Todos nós inúmeras vezes visitamos as sepulturas de nossos parentes e amigos e, sobretudo, no dia 2 de novembro rendemos aos mortos especiais homenagens. Além disto, rezamos sempre pelos falecidos Daí a importância da oração pelas almas do purgatório. A alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada, deve expiar durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória eterna. Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque cometeram faltas leves e não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem como no caso dos pecados mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória terrena, não pode entrar no céu. Essas almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a justiça divina reclama a purificação no purgatório. O dogma da comunhão dos santos mostra que se pode, de fato, abreviar as penas dos que sofrem nesta antecâmara do céu. Aliás, todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram. Saibamos, porém, sufragá-las com nossas preces e sacrifícios durante todo o ano,  pois, se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós. Nunca se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados” (12, 45). É preciso , porém, rezar também pelos vivos.  A oração do cristão é uma voz poderosa que penetra até o céu e abre os tesouros divinos. Tal a promessa explícita de Jesus: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7). Aliás, o divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua assertiva, dado que também disse: “Tudo que pedirdes em meu nome, fá-lo-ei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13). Desta forma, Cristo empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo conceder a quem piedosamente orasse. Nunca se reflete demais sobre a importância das preces do pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais precisam ter confiança plena, total, absoluta no valor de suas orações pelos filhos na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. Os filhos também devem rezar pelos pais, atraindo a proteção de Deus, sobretudo quando surgem os problema. Quantos filhos e filhas pelas preces têm tirado o pai da bebida ou de outros erros e conseguido de Deus graças sem número para suas mães. Todos devemos rezar, outrossim, pela conversão dos pecadores, tendo consciência do  valor imenso do apostolado da oração. Orar pelos missionários, pela Igreja, pelo Papa, pelo êxito das obras pastorais sobretudo da comunidade na qual se vive. Santa Teresinha do Menino Jesus afirmou no seu Livro História de uma Alma: “Ah! A oração eis aí o segredo de toda a minha força, eis aí as minhas armas invencíveis; mais eficazmente que as palavras, sei-o por experiência, tem elas o poder de conquistar os corações”. Com suas preces ela conquistou centenas de  conversões e muito ajudou os missionários na obra da evangelização. Pela sua entrega total ao amor Misericordioso de Deus, pela sua constante ânsia em que ardia por “salvar almas”, pelos laços de fraternidade espiritual que cultivou com alguns missionários no campo de missão, ela foi escolhida como Padroeira das Missões. No Carmelo de Lisieux, Prisioneira por amor e do Amor, desejou ardentemente percorrer o mundo inteiro para levar a Cruz de Cristo por toda parte. Isto ela, porém, muito fez pelo poder de sua oração. Creiamos no valor da veneração dos mortos, rezemos com fé e piedade pelas almas do purgatório e por todas as nossas necessidades espirituais e corporais e pelas de nosso próximo e coisas maravilhosas acontecerão em nossas vidas! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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