Quatro semanas nos separa do Natal, a festa cristã mais celebrada no mundo. Tempo de promover a fraternidade e buscar o arrependimento depois de mais um ano de lutas, conquistas e decepções. Terminou o Ano Litúrgico, mas outro se reinicia com a renovada esperança que coroa o simbolismo da manjedoura cristã. Isso é Natal. Tempo de contínua espera, de advento das muitas expectativas que iluminam corações e faz resplandecer as muitas luzes da eterna esperança por dias melhores. Essa é nossa fé.
Por isso, Advento é um tempo de luz. Por isso, a liturgia cristã celebra essas quatro semanas com um simbolismo da radiante alegria, que reflete e circunda todas as esperanças humanas ao redor do berço cristão. O menino que vai nascer torna-se síntese das boas expectativas que todo “homem de boa vontade” alimenta e acalanta em seus sonhos. Daí também a razão das quatro velas acesas semanalmente em nossas liturgias, perfazendo um círculo ornado por galhos verdes e tenros, formando uma guirlanda de luzes. Ao enfeite damos o nome de coroa do Advento. Poderia ser a coroa das expectativas, da chegada de um novo tempo, da renovação de nossas esperanças, da vinda do verdadeiro reino, da alegria ou tudo mais que a vinda de Cristo possa significar para nossas vidas.
Aos poucos, semana a semana, passo a passo, as velas são acesas, a expectativa aumenta. Sua luz representa a presença divina – “Eu sou a luz do mundo” – ou o próprio ato da criação – “As trevas cobriam a face do abismo. E Deus disse: Exista a luz”, ou ainda a parte que nos concerne a vinda do Espírito em forma de luz – “Apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e pousou sobre cada um deles”. Do Pai procede a luz. Ao Filho a transmissão dessa luz. A nós, o bom uso e proveito, bem como a responsabilidade de manter acesa essa chama entre nós. Não é, portanto, um mero simbolismo, mas um chamado à missão, à nossa missão no mundo, como convidados que somos a mergulhar nessa mística de fé e esperança. Tenho dito em muitas pregações – e já o disse nesse espaço – que se o mundo vai mal é porque nós cristãos estamos péssimos. Ainda não valorizamos como deveria aquela afirmativa de Cristo de que o cristão também é luz. Ora, se temos esse privilégio em vida, porque ainda não transformamos o mundo com nossa presença, nosso testemunho? O cristão é emissário da luz em meio às trevas do abismo existencialista de muitos.
Como vemos, a coroa de luzes que enfeita nossas igrejas durante o Advento ultrapassa sua mística para nos recordar um acontecimento sem igual na história que vivemos. As duas primeiras semanas nos convidam a uma atitude de vigília e esperança – a mesma que preenche os corações de qualquer combatente em suas trincheiras. Não à toa as leituras desses domingos abordam exatamente esses temas. A terceira vela – terceira semana – nos recorda com muitos detalhes as visões proféticas sobre o Messias, o libertador ansiosamente esperado pelo povo de Deus. Continua a nos embalar com a expectativa de sua segunda vinda. A quarta semana nos fala de Maria e de sua alegria ante a eminente vinda de seu filho, que carregava em seu ventre num processo de exílio momentâneo em terras estranhas. Assim nasceu o Cristo. Assim Ele continua a renascer em nossos corações, apesar do sentimento de exílio que permeia muitos dos cristãos no mundo de hoje, estranhos à terra, ao mundo… sem Deus. Quando, mais uma vez, conseguirmos acender essas quatro velas, mais uma vez faremos brilhar neste mundo a coroa de luzes que nos guia, o esplendor da nossa fé, o Deus-menino entre nós!