72 anos da CNBB

    A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) completa 72 anos em 2024, consolidando-se como um dos principais pilares da Igreja Católica no Brasil. Fundada numa das salas do Palácio São Joaquim no Rio de Janeiro, em 14 de outubro de 1952, a CNBB tem desempenhado um papel fundamental no fortalecimento da Igreja no país, atuando não apenas na pastoral cooperativa entre as dioceses, mas também na orientação dos fiéis em temas sociais, políticos e religiosos.

    Uma conferência episcopal é uma instituição permanente da Igreja Católica que reúne os bispos de um território ou nação, para exercerem funções pastorais em conjunto. As conferências episcopais são um instrumento de colaboração, consulta e intercâmbio de opiniões entre os bispos, contribuindo para a unidade da Igreja.

    A CNBB foi criada em um contexto em que a Igreja Católica no Brasil provavelmente se organizou melhor para enfrentar os desafios de uma sociedade em rápida transformação. No início dos anos 1950, o país experimentou um processo de urbanização e industrialização acelerado, que trouxe consigo mudanças sociais profundas. A Igreja, por sua vez, buscou um novo caminho para manter sua influência e relevância em um cenário de crescimento.

    A fundação da CNBB foi uma resposta a essa necessidade de organização e unidade dentro da Igreja. A CNBB tem como objetivo principal promover a comunicação e a cooperação entre os bispos brasileiros, permitindo-lhes atuar de forma coordenada na evangelização e no cuidado pastoral do povo de Deus. A missão da CNBB foi sempre a de ser um instrumento de serviço à Igreja no Brasil, auxiliando os bispos na execução de seus ministérios pastorais e no discernimento de caminhos que pudessem atender às necessidades

    Desde seus primeiros anos, a CNBB teve um papel importante na construção de uma Igreja mais próxima do povo. No início a sede estava no Rio de Janeiro, bem próximo do Palácio São Joaquim. As dioceses brasileiras, espalhadas por um território extenso e com realidades culturais muito diversas, enfrentavam desafios específicos. O diálogo promovido pela Conferência ajudou os bispos a trocar experiências e desenvolver estratégias pastorais que atendessem às diversas necessidades regionais. Assim, a CNBB tornou-se uma peça na promoção de uma unidade eclesial no Brasil, ao mesmo tempo em que incentivava a diversidade cultural e pastoral das dioceses.

    Um dos momentos mais marcantes na história da CNBB foi sua participação ativa na recepção e melhoria das orientações do Concílio Vaticano II (1962-1965). Este Concílio, convocado pelo Papa João XXIII, representou uma renovação profunda para a Igreja Católica, com o objetivo de se aproximar das realidades do mundo moderno e torná-la mais aberta ao diálogo com a sociedade.

    A CNBB, desde o início, abraçou com entusiasmo as diretrizes do Vaticano II e desempenhou um papel crucial na adaptação dessas reformas ao contexto brasileiro. Sob a liderança de grandes figuras do episcopado a CNBB se destacou como uma das conferências episcopais mais atuantes na América Latina na implementação das mudanças conciliares. O esforço não foi apenas de caráter teológico, mas também pastoral e social, buscando aproximar-se da Igreja das pessoas, especialmente das populações mais pobres e marginalizadas.

    A CNBB ajudou a tornar a liturgia mais acessível e compreensível para os fiéis, fortalecendo o sentido de comunidade e participação ativa nas celebrações. Além disso, a Conferência incentivou a formação de lideranças leigas e o envolvimento dos leigos na vida da Igreja, promovendo uma Igreja mais participativa

    Outra área de grande importância foi a evangelização. A CNBB passou a promover a formação de pequenas comunidades eclesiais, como forma de levar o Evangelho às periferias urbanas e áreas rurais, onde o acesso à presença institucional da Igreja era limitado. Essas comunidades não apenas evangelizavam, mas também promoviam a solidariedade e a ação social, em uma síntese de fé e vida que marcou a espiritualidade católica no Brasil. Sabemos que essa iniciativa foi de D. Eugênio Sales, nosso predecessor quando estava no Nordeste.

    O papel da CNBB também se destaca pelo seu esforço em promover uma espiritualidade autêntica e enraizada nas realidades do povo brasileiro. Ao longo de seus 72 anos, a Conferência buscou articular uma evangelização que dialogasse com a cultura popular, respeitando as tradições e expressões religiosas locais. Isso pode ser visto na valorização de festas populares, como as romarias e procissões, que são manifestações de fé profundamente enraizadas na cultura brasileira.

    A CNBB sempre incentivou que a evangelização se fizesse presente em todos os aspectos da vida das pessoas, promovendo uma espiritualidade integral que englobasse tanto o culto quanto o compromisso social. O conceito de “opção preferencial pelos pobres”, tão presente nos documentos da CNBB, é um exemplo dessa abordagem pastoral. Inspirada nas orientações da Igreja latino-americana, especialmente após a Conferência de Medellín (1968), a CNBB se comprometeu a promover uma evangelização que teve os pobres como prioridade, levando não apenas o consolo espiritual, mas também uma ação concreta.

    Outro aspecto importante da ação religiosa da CNBB é a promoção da catequese. Ao longo dos anos, a CNBB tem sido responsável pela organização de numerosos encontros de formação catequética, passando a preparar melhores agentes pastorais para a tarefa de educar na fé as novas gerações. A formação de catequistas e a produção de materiais educativos têm sido parte essencial desse esforço, garantindo que a mensagem do Evangelho chegue de forma clara e significativa a todos os cantos do país.

    Entre suas atividades mais conhecidas está a Campanha da Fraternidade (que também nasceu com D. Eugênio Sales, no Nordeste), lançada anualmente durante a Quaresma, com temas que buscam sensibilizar a sociedade para questões de cunho social, ambiental e humanitário. Temos também a Assembleia Geral da CNBB, que é o principal evento deliberativo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reunindo os bispos de todo o país para discutir e tomar decisões sobre questões pastorais, religiosas e sociais que afetam a Igreja e a sociedade brasileira. A assembleia ocorre normalmente uma vez por ano e é uma oportunidade para os bispos debaterem temas importantes para a Igreja, emitirem documentos, orientações e decisões, além de elegerem os líderes da conferência, como o presidente, vice-presidentes e secretário-geral, quando necessário.

    Ao completar 72 anos, a CNBB continua a enfrentar desafios que dizem respeito à evangelização em um mundo em rápida mudança. Em um contexto em que a religiosidade se diversifica e novos movimentos religiosos emergem, a Igreja Católica, por meio da CNBB, precisa encontrar formas de continuar sendo relevantes e presentes na vida das pessoas. A secularização crescente e as transformações tecnológicas exigem uma nova abordagem pastoral, que integre a tradição cristã com os meios contemporâneos de comunicação e interação social.

    Nos últimos anos, a CNBB tem incentivado o uso das mídias digitais como ferramenta de evangelização. As redes sociais, vídeos online e específicos ao vivo de celebrações litúrgicas tornaram-se parte da nova realidade eclesial, especialmente após a pandemia de COVID-19 e hoje temos o desafio da IA. Ao mesmo tempo, a Conferência continua a investir na formação espiritual dos leigos e no fortalecimento das comunidades, confirmando que a fé viva em comunidade é um dos principais pilares da Igreja.

    A CNBB segue em seu caminho de serviço, enquanto se mantém fiel à sua missão original de servir à Igreja e ao povo de Deus no Brasil. A Conferência, sob a inspiração do Papa Francisco, tem reafirmado seu compromisso com uma Igreja em saída, missionária e misericordiosa. Aos 72 anos, a CNBB continua sendo um farol de fé unidade, comprometida com a promoção de uma espiritualidade autêntica e um testemunho cristão coerente. Peçamos ao Senhor que siga derramando abundantes graças sobre nossa Conferência Episcopal, sobre seus membros, colaboradores, para que possa estar sempre aberta ao que o Espírito diz às Igrejas e ao serviço da comunhão do povo de Deus.

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