Na história da humanidade a terra sempre foi e sempre será uma questão central. Desde a antiguidade grupos humanos se moveram em busca de novas terras para satisfazerem as necessidades básicas da sobrevivência. É direito primeiro e básico de todo ser vivo, encontrar meios para manter-se vivo e condições para viver bem. A terra, em seu conjunto, oferece os elementos para tal. Mas também a história está marcada por conflitos e guerras pela terra. A motivação principal não estava e não está na sobrevivência digna, mas na cobiça, na ambição, na manifestação de poder e na expansão dominadora.
Com os resultados do avanço das ciências e das tecnologias, que em si são positivas e necessárias, surgiram novos desafios contemporâneos para a questão da terra, inexistentes em épocas anteriores. Em 1971, o Papa Paulo VI classificava esta crise como tendência à “exploração incondicionada” fruto de um longo processo histórico e cultural. São João Paulo II, em um discurso aos participantes do “Congresso sobre ambiente e saúde”, em 24/03/1997, afirmava: “O aspecto de conquista e exploração dos recursos tornou-se predominante e invasivo, e hoje chega a ameaçar a própria capacidade acolhedora do ambiente: o ambiente como ‘recurso’ corre o perigo de ameaçar o ambiente como ‘casa’. (…) parece às vezes que equilíbrio homem-ambiente tenha alcançado um ponto crítico”. Esta reflexão vai sendo aprofundada, novos desafios surgem e, neste contexto, o Papa Francisco publica a Laudato Si.
Assumindo esta causa, no dia 25 de fevereiro de 2020 acontecerá em Mormaço – RS a 43ª Romaria da Terra, que tem por tema: “O bem viver, no campo e na cidade”. Dom Adelar Baruffi, bispo da diocese de Cruz Alta, que acolhe a romaria faz dela a seguinte apresentação:
“O bem viver é uma atitude conscientemente pensada de cuidado com o meio ambiente e o ser humano, sobretudo os empobrecidos. O ser humano, que não é dono, mas administrador da criação, é convidado a viver em harmonia com toda criação, superando a ânsia de instrumentalização da natureza. (…) Com nossos agricultores e povo das cidades, queremos refletir sobre as agressões que são infligidas ao meio ambiente e, consequentemente, aos mais pobres; aprofundar as causas deste modo de se relacionar com a terra e os irmãos e irmãs; incentivar a agricultura familiar como um caminho para uma vida saudável; cultivar uma espiritualidade ecológica baseada na simplicidade de vida; educar-se para um outro estilo de vida, menos consumista e mais feliz”.
A romaria é propositava, pois acredita na sabedoria e na responsabilidade humana de preservar um ambiente íntegro e saudável para todos. Acredita que o homem é capaz de distribuir os bens da terra. Deus deu ao homem a capacidade de encontrar novos meios de produzir alimentos com a tecnologia. Por isso o homem não pode tratar da terra de forma utilitarista, mas com abertura para a transcendência.
No mesmo congresso já citado, São João Paulo II afirmava: “A humanidade de hoje, se conseguir conjugar as novas capacidades científicas com uma forte dimensão ética, será certamente capaz de promover o ambiente como casa e como recurso, em favor do homem e de todos os homens; será capaz de eliminar os fatores de poluição, de assegurar condições de higiene e de saúde adequadas, (…) A tecnologia que polui pode também despoluir, a produção que acumula pode distribuir de modo equitativo, com a condição de que prevaleça a ética do respeito pela vida e a dignidade do homem, pelos direitos das gerações humanas presentes e daquelas vindouras”.