Você quer mudar algo em si? Ok, mas primeiro é preciso aceitar

O autodesenvolvimento é um processo que geralmente não tem um final definido

Há certas palavras que, na minha opinião, são poderosas para nos manter no foco, como por exemplo a chamada oração pela serenidade do espírito, recitada regularmente por membros da comunidade dos Alcoólicos Anônimos.

Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa, e sabedoria para que eu saiba a diferença

Na realidade, esses três pontos, simples na teoria, são um problema na prática, não apenas para os dependentes, mas também para a maioria de nós.

Como fazer mudanças em nossa vida? O que devemos mudar e o que devemos aceitar? A aceitação significa que não haverá mudança?

Como reconhecer se uma mudança em uma determinada área é possível? E como aceitar, se não for? São perguntas com que nos deparamos de tempos em tempos, e que são particularmente frequentes entre meus pacientes nas sessões de terapia.

Tudo vai mudar?

Muitas vezes me encontro com uma expectativa, ou melhor, com um desejo por parte dos pacientes de que, sob a influência da terapia, tudo mude. Sua vida e até mesmo sua personalidade. Que eles parem de temer completamente o contato com outras pessoas, que ajam como um relógio planejando seu trabalho perfeitamente, mesmo que se tornem robôs, nos quais cada mecanismo possa ser controlado.

Quando digo que isso é impossível, sua reação típica é surpresa e decepção. Bem, porque se algo não funciona como queremos, isso significa que temos que consertar. Ou quem sabe cortar, descartar, eliminar. Mas será mesmo?

Aceitação não é passividade

A aceitação, infelizmente, ainda é erroneamente identificada com permissividade e passividade. Portanto, temos medo de que, se nos aceitarmos, aqui e agora, nos acomodaremos e pararemos de perseguir qualquer objetivo.

No entanto, ninguém pode responder à pergunta de por que isso deveria acontecer. Porque, por exemplo, só por que aceitamos nosso cônjuge como nosso parceiro na vida, não chamaríamos sua atenção caso ele fizesse algo errado?

E, ao aceitar meu filho incondicionalmente, isso significa que eu permito tudo? É possível aceitar o que você é e, ao mesmo tempo, identificar áreas a serem desenvolvidas e procurar maneiras de melhorá-las.

Mas então, se eu me aceitar, por que vou querer mudar? Este é outro mito frequente: acreditamos que, para termos a motivação para mudar, devemos odiar nossas imperfeições.

O problema é que, na maioria dos casos, essa mudança nunca chega. Às vezes é simplesmente impossível (como aumentar a altura, reduzir a sensibilidade ou se livrar da ansiedade) e, muitas vezes, porque não há condições que possibilitem isso. E raiva, aversão, repulsa certamente não criarão tais condições.

Reconheça os fatos

Mesmo que você não aceite que esteja chovendo, mesmo que fique bravo e brigando contra a chuva, terminará todo molhado, bravo e exausto, e a chuva não vai parar.

Em vez disso, você tem a opção de aceitar que está chovendo e cuidar de si mesmo usando um guarda-chuva.

O simples reconhecimento dos fatos e a compreensão das limitações que deles decorrem proporcionam a oportunidade de disparar mudanças reais.

O mesmo princípio funciona em relação a si mesmo. Então: “eu tenho que aceitar o estado real para poder mudar”.

Como?

Como identificar as áreas nas quais realmente vale a pena trabalhar? A boa notícia é que, se nos abordarmos com compreensão e bondade, a resposta geralmente aparece sozinha.

Porque em vez de impor padrões abstratos, como “não tenho o direito de estar triste” ou “eu deveria ser mais magro”, podemos nos perguntar: “o que é mais difícil para mim?”, “com o que posso lidar?”. Isso estabelecerá as direções corretas para o autodesenvolvimento.

Com essa abordagem, é muito mais fácil implementar mudanças, porque não nos bloqueamos pela autocrítica e nem nos sentimos demasiado culpados.

Finalmente, vamos lembrar que o desenvolvimento é um processo que geralmente não tem um fim definido. Por isso, não nos concentremos em alcançar objetivos imaginários, mas em favorecer uma melhor convivência consigo mesmo.

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