Visita do Papa ao FIDA. Sem solidariedade internacional crescerá a indiferença

Grande expectativa pelo discurso do Papa na visita ao FIDA em Roma. Serão dois dias de trabalho sobre inovações e empreendimentos nas áreas rurais dos países mais pobres do mundo. Entrevista com o Observador permanente da Santa Sé junto ao FIDA Mons. Fernando Chica Arellano

Cidade do Vaticano

Na quinta-feira (14/02) o Papa Francisco abrirá a 42ª Sessão do Conselho Diretivo anual do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) um organismo da ONU presente em 181 países do mundo. O FIDA investe na população rural, empoderando-a para reduzir a pobreza, aumentar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e fortalecer a resiliência.

Inovação, jovens e capacidade empresarial

Depois da cerimônia inaugural – que será na sede da FAO por razões logísticas – os trabalhos prosseguirão em sessões interativas sobre o tema da inovação e da capacidade empresarial com um foco específico dedicado aos investimentos em favor da juventude rural também na ótica de reduzir a migração forçada da África. Durante os encontros que irão até o dia 15 de fevereiro, está previsto o lançamento de um novo fundo de impacto inovador para estimular os investimentos nas áreas rurais dos países em desenvolvimento e emergentes, tendo como objetivo desenvolver as pequenas empresas e criar novos empregos.

Esperando Papa Francisco

São temas centrais do magistério do Papa Francisco que com o seu discurso ao FIDA, completará a visita aos organismos de alimentação e agricultura das Nações Unidas com sede em Roma. O primeiro foi à FAO em novembro de 2014 e em outubro de 2017 e depois ao PAM em junho de 2016.

“Há muita expectativa pelas palava do Pontífice”, declara ao Vatican News, Mons. Fernando Chica Arellano, Observador Permanente da Santa Sé junto à FAO, ao FIDA e ao PAM. Sua visita “nos ajudará a evidenciar que o diálogo, a cooperação e a solidariedade devem ser revigorados senão aumentará apenas a indiferença e o mundo não irá adiante”. Nas palavras de Mons. Arellano, estão presentes não apenas as raízes da instituição do FIDA, mas também a forte ligação da Santa Sé e as finalidades e as áreas de interesse do FIDA desde a sua instituição em 1977.

Mons. Arellano: O FIDA é um organismo instituído em 13 de dezembro de 1977, e é uma instituição financeira internacional que tem como objetivo aumentar a produção agrícola e alimentar, melhorando as condições de vida dos beneficiários. Por isso financia programas de desenvolvimento destinados – e isso é muito importante – para os mais pobres entre os pobres da terra que vivem nas zonas rurais:  cerca de 70% da população mundial, muitas vezes esquecida e carente de ajuda. O interesse da Santa Sé pelo FIDA está presente desde a sua instituição: já Paulo VI em 1964, lançou ao mundo um grande apelo, ou seja o de instituir um fundo, possivelmente subtraindo ao que se investia em armamentos, para dedicar aos pobres da terra, para financiar projetos para serviços e insumos, ou seja sementes, utensílios, fertilizantes, sistemas de irrigação, depósito de produtos, infra-estruturas nas áreas rurais. Portanto a Santa Sé segue de perto este trabalho porque tem a convicção da necessidade de ajudar os pobres da terra.

Esta atenção aos pobres, ao direito das pessoas, a cooperação, assim como o respeito da terra são temas que estão no coração do Papa…

Mons. Arellano: São temas que ele leva adiante desde quando era jovem. E também não podemos esquecer que na visita ao FIDA o Papa encontrará também os indígenas, porque será celebrado em concomitância  a IV Reunião Mundial do Fórum dos Indígenas, convocada pelo FIDA. E no mês de outubro deste ano teremos o Sínodo da Amazônia. Portanto, são temas que fazem parte do pensamento do Papa Francisco que sempre foi próximo aos mais pobres da terra.

No programa desta sessão especial há também um papel particular designado aos jovens, ou seja, a promoção do trabalho para os jovens nas zonas rurais para que criem raízes no território e não abandonem o campo.

Mons. Arellano: Estas zonas rurais foram muito despovoadas porque os jovens buscam um futuro, e muitas vezes não é possível em seus povoados. Por isso é preciso investir: investir nos jovens é investir no futuro, é investir na paz. Para os jovens é necessária também a formação: dar-lhes acesso à tecnologias, à informática, porque atualmente a agricultura está muito próxima desta inovação que permite cultivar a terra de maneira adequada, correta e possivelmente sustentável.

Sob o ponto de vista do FIDA, qual é a realidade da cooperação: há um apoio, há uma verdadeira coordenação nas ações para projetos concretos?

Mons. Arellano: Certamente. Desenvolver a cooperação, desenvolver a coordenação dos financiamentos é uma das grandes finalidades do FIDA. A cooperação deve ser a palavra chave para pensar em desenvolvimento. Dizer cooperação é dizer solidariedade, e sem solidariedade não há desenvolvimento possível. E isso é um tema que está no coração do Papa: a solidariedade como motor de desenvolvimento. Enfim, é o amor social: sem amor, o mundo verdadeiramente não caminha porque no final o que salvará o mundo é o amor. Não o dinheiro, mas o amor.

De fato recordamos que durante a visita do Papa à FAO em outubro de 2017, ele lançou a ideia de introduzir na linguagem da cooperação a categoria do amor, declinada exatamente como gratuidade, como igualdade no tratamento. Solidariedade: cultura do dom…

Mons. Arellano: O Papa lançou este apelo porque o amor é a plenitude da humanidade, e acredito que as suas palavras sejam muito esperadas, porque o diálogo internacional, a cooperação internacional devem ser revigorados. Sem a solidariedade internacional não cresce, o que crescerá é a indiferença.

Quando se fala de empreendedorismo deve-se falar de um desenvolvimento que seja saudável e enraizado no território?

Mons. Arellano: Fala-se principalmente de um desenvolvimento que ocorra de maneira coordenada e associada. Falar dos empreendedores quer dizer falar de uma soma de forças, ideias, perspectivas, sinergias. Este é o verdadeiro empreendedorismo que precisa ser fortificado.

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