Vim para servir

    Neste dia mundial das missões com a respectiva coleta pelas missões católicas no mundo, dentro do Sínodo dos Bispos sobre a juventude celebramos o 29º domingo do tempo comum. Escutemos como Jesus apresenta sua missão: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”. Aqui Nosso Senhor sintetiza de modo impressionante tudo quanto veio fazer por nós. Ele é o Filho do Homem, Ben-Adam, isto é, aquele que se fez simples homem frágil, feito um de nós, “capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”. No misterioso plano do Pai do céu, a nossa salvação tinha de passar pela vinda do Filho, feito pobre homem entre nós, pobres mortais. E não só: toda a humana existência do Filho foi um serviço, um serviço só: “dar a sua vida como resgate para muitos”. Podemos imaginar toda a vida de Jesus, desde a humildade dos nove meses no ventre da Virgem, passando pelos trinta anos escondido no silêncio em Nazaré, pelas andanças, pregações, cansaços, incompreensões, momentos de solidão e de provação… Nada disso foi por acaso, nada disso sem sentido, nada disso sem significado. Era o Senhor dando a vida, era o Senhor nos servindo por uma vida amorosamente entregue ao Pai por nós, humildemente gasta como uma vela que se consome por amor ao mundo. Sua paixão e morte de cruz nada mais foram que a conclusão de uma existência feita toda amor e sacrifício em louvor ao Pai e em benefício dos irmãos!

    Com este pensamento, escutemos novamente as impressionantes palavras do Profeta Isaías (Cf. primeira leitura – Is 53,10-11), falando de Jesus, o Servo Sofredor: “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor”(Cf. Is 53,10-11). A vontade do Pai incluía, de modo misterioso, que nos escapa, essa pobreza, que entrega toda a vida para o perdão dos nossos pecados. Num mundo que por auto-suficiência, por orgulho e cega paixão procura viver a vida do seu modo, pisando no amor de Deus e desprezando seu convite a buscá-lo, o Filho Jesus fez um caminho totalmente inverso: de abaixamento, de amor, de doação, de entrega em nosso favor: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita e justificará a muitos”(cf. Is 53,11). Foi assim, na obediência, no desapego de si próprio, que Jesus se tornou nosso Sumo-sacerdote, nosso Advogado, nosso Salvador, aquele que nos justifica diante de Deus (cf. segunda leitura Hb 4,14-16). É ele quem, nos céus, se compadece de nossas fraquezas e nos dá seu divino auxílio. Ele, com seu sangue, isto é, com sua vida derramada a vida toda, intercede amorosamente por nós e é a garantia da nossa salvação! Por isso, aproximemo-nos, com confiança, do trono da graça divina!

    Mas, todo este caminho do nosso Salvador indica-nos um caminho, um modo de viver, um critério de discernimento (Cf. Evangelho de Marcos 10,35-45). Se o nosso olhar se dirige a Jesus, é como ele que devemos caminhar; devemos andar como ele andou: saindo de nós, de nossos projetos de inspiração tão mundana, para abraçar o pensamento e os modos do nosso Mestre e Salvador.

    Qual é a nossa tendência? Qual o nosso primeiro impulso? Aquele dos discípulos: buscar o que nos agrada, procurar os primeiros lugares, ir ao encalço da nossa própria conveniência e comodidade, dar vazão aos nossos prazeres, fazer sempre a nossa vontade… Qual o caminho que o Senhor propõe? A primeira coisa que ele faz é nos convidar a segui-lo, bebendo na vida o seu cálice e sendo mergulhado cada dia no seu batismo. Em outras palavras: o cristão deve estar disposto a viver sua vida com os mesmos sentimentos de Jesus, isto é, fazer da existência um serviço de amor adorante ao Pai e de entrega aos irmãos. Como isso é difícil! É o contrário das nossas tendências, é o inverso do que aprendemos do mundo: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não será assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo, e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos”(cf. Mc 10,42-44). São palavras que nos chocam, porque mudam totalmente o nosso modo de pensar e a lógica do nosso coração! E, no entanto, este é o caminho – o único caminho – de Jesus! Na nossa relação com Deus e nas nossas relações com os outros, não pode existir outro modelo, outra medida, outra lógica, que não aquela que o Senhor mesmo nos apresenta com sua existência entregue por nós.

    É por isso que ser cristão exige um perene caminho de conversão, de sair de nós do nosso jeito para chegar a nós do jeito de Jesus. Aí, sim, seremos realmente livres, seremos realmente discípulos e encontraremos o gosto verdadeiro da vida! Infelizmente o mundo nos tenta seduzir com o prazer sem limite, com a ânsia do poder, com a ilusão do sucesso, com a ganância do ter, do consumir, do supérfluo… Como ser felizes vivendo na superficialidade? Como encontrar a vida verdadeira, colocando o afeto em bobagens? Como ser livres de verdade sendo escravos de tantas trivialidades? Vede que o Senhor nos indica um caminho não fácil, não comum, trivial, óbvio… Ele nos indica o seu caminho, o único que conduz à vida! E nos promete seu socorro, sua ajuda, como diz a segunda leitura de hoje: Ele é “capaz de s e compadecer de nossas fraquezas”, nele podemos conseguir misericórdia e alcançar um auxílio no momento oportuno.

    Coloquemos nossa esperança em Jesus, agarremo-nos a Ele, agasalhemo-nos no Seu coração pela oração, a escuta da sua Palavra, a contemplação da Sua adorável pessoa, a participação nos Seus sacramentos! Deixemos de lado a preguiça, a descrença, a pasmaceira espiritual e corramos com ânimo e alegria seguindo o Senhor! E que ele nos faça sentir, desde agora, a felicidade de viver o seu amor e fazer da vida um cântico de amor a ele, que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém!

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