Vencer a violência com o amor!

    A liturgia deste domingo exige-nos o amor total, o amor sem limites, mesmo para com os nossos inimigos. Convida-nos a pôr de lado a lógica da violência e a substituí-la pela lógica do amor.

    A primeira leitura(cf. 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23) apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo, do Rei David, que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão.

    O Evangelho(cf. Lc 6,27-38) reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido, igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos leve a ver em cada homem – mesmo no inimigo – um nosso irmão.

    No seu “Sermão na Planície”(o paralelo em São Luxas ao Sermão da Montanha, no Evangelho de São Mateus), Jesus ensina aos seus discípulos a beleza e o desafio do amor ao próximo. Jesus está delineando a sua maneira pessoal de enxergar e pôr em prática o amor fraterno. Podemos ter certeza de que este projeto necessitava da força e constância até da parte do próprio Jeus. Nunca na história do mundo houve um programa tão coerente, tão abrangente e tão exigente. Consideremos o ponto central do seu programa: Jesus manda seus discípulos amarem seus inimigos(cf. Lc 6,27). Este é o cerne de sua proposta – um amor universal e incondicional, um amor que se baseia não no tratamento que recebemos nem nos sentimentos que tal tratamento possa despertar em nós, mas no compromisso de amar. O que leva Jesus a propor que devemos amar nossos inimigos? Primeiro que Jesus percebe neste amor que se estende até os inimigos a vivência mais conforme a nossa identidade de “filhos do Altíssimo”(cf. Lc 6,35), criados em sua imagem e semelhança. Em segundo lugar Jesus reconhece que quando seres humanos se comportam assim, Deus, seu Pai, é glorificado. Terceiro: Jesus vê no amor dos inimigos a cura da ferida fraticida infligida em nós todos por Caim quando matou seu irmão Abel. Em quarto lugar, Jesus simplesmente amava os seres humanos. Para Jesus, “inimigo” era uma designação errônea. Não há inimigos: só amigos cuja amizade precisa ser recuperada. Grandes teólogos do passado e do presente afirmam que Jesus nos salvou na cruz, não tanto pela sua dor, mas pelo perdão que pediu do Pai para seus carrascos – isto é, pelo amor que mostrou para com os seus inimigos. A Carta aos Hebreus chama Jesus aquele que “vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição”(cf. Hb 12,2). Que ele faça a mesma coisa com nosso amor, levando-o à perfeição de estendê-lo a todos.

    Jesus não dá lições de filantropia, mas convida os seus interlocutores a erguer os olhos para Deus seu Pai, a fim de se tornarem semelhantes a Ele. Porque Deus é bom para com os ingratos e os maus, o homem deve procurar ser bom para com todos. Porque Deus é misericordioso, o homem é convidado a perdoar. Não é uma lição de moral, mas fundamentalmente um ato de fé do qual decorre um conjunto de comportamentos. Jesus, o Filho de Deus Altíssimo, veio tirar o homem de tudo aquilo que o pode afastar da semelhança com Deus, o pecado. Jesus é a perfeita imagem de Deus. Dirá mesmo: “Quem Me viu, viu o Pai”. As suas palavras são palavra de Deus, os seus gestos são gestos de Deus. O desafio está em procurarmos ser semelhantes a Jesus, ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.

    A segunda leitura(cf. 1Cor 15,45-49) continua a catequese iniciada há uns domingos atrás sobre a ressurreição. Podemos ligá-la com o tema central da Palavra de Deus deste domingo – o amor aos inimigos – dizendo que é na lógica do amor que preparamos essa vida plena que Deus nos reserva; e que o amor vivido com radicalidade e sem limitações é um anúncio desse mundo novo que nos espera para além desta terra.

    Somos da família de Deus, que é bom para os ingratos e os maus. Então, somos convidados a imitar a maneira de agir do nosso Pai. Ele não ama apenas aqueles que O amam. Ama a todos, bons e maus. E mesmo quando os homens O colocam à margem da sua vida, Ele não deixa de os amar. Jesus, que é o Filho bem-amado, a perfeita imagem de Deus, conformou-Se à moral de seu Pai. Na cruz, rezou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Amou os seus inimigos. Nunca rejeitou ninguém. O que Jesus nos diz hoje não são normas culpabilizantes e impraticáveis. São convites, urgentes e exigentes, é verdade, para que manifestemos, pela nossa maneira de agir, que somos da família do nosso Pai dos céus. Cristãos, somos convidados a colocar a nossa vida na luz de Jesus e da sua palavra, a não nos contentarmos do que fazem os pecadores. É somente num estreito acompanhamento com Jesus que recebemos do Espírito a força de ir sempre mais além no caminho, rude, mas exaltante, do amor, como o de Jesus e do Pai.

     

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