Ser Coroinha

    Tivemos no último final de semana, em nossa Arquidiocese, um encontro com os cerimoniários e coordenação de coroinhas, além de um outro grande encontro deles em um vicariato. Refleti sobre minha bela experiência de coroinha, e a alegria de encontrá-los nas celebrações em nossa Arquidiocese. O patrono deles aqui em nossa Arquidiocese é São Tarcísio. Ele pertencia à comunidade cristã de Roma, era acólito, isto é, coroinha na Igreja. No decorrer da terrível perseguição do Imperador Valeriano, muitos cristãos estavam sendo presos e condenados à morte. Nas tristes prisões à espera do martírio, os cristãos desejavam ardentemente poder fortalecer-se com Cristo Eucarístico. O difícil era conseguir entrar nas cadeias para levar a santa comunhão.
    Nas vésperas de numerosas execuções de mártires, o Papa Sisto II não sabia como levar o Pão dos Fortes à cadeia. Foi então que o acólito Tarcísio, com cerca de 12 anos de idade, ofereceu-se dizendo estar pronto para esta piedosa tarefa. Relativamente ao perigo, Tarcísio afirmava que se sentia forte, disposto antes morrer que entregar as Sagradas Hóstias aos que iriam ser martirizados por causa do ódio aos cristãos.  Comovido com esta coragem, o Papa entregou, numa caixinha especial, as Hóstias que deviam servir como conforto aos próximos mártires. Mas, passando Tarcísio pela via Ápia, uns rapazes notaram seu estranho comportamento e começaram a indagar o que trazia, já suspeitando de algum segredo dos cristãos. Ele, porém, negou-se a responder, negou terminantemente. Bateram nele e o apedrejaram até à morte. Seu corpo foi recolhido por um soldado, ocultamente cristão, que o levou às catacumbas, onde recebeu honorifica sepultura. Conta uma pia tradição que só diante do Papa ele teria aberto as mãos que estariam sobre o peito para entregar, assim, o Santíssimo corpo de Cristo.
    Tarcísio foi declarado padroeiro dos coroinhas ou acólitos, que servem ao altar. Encontramos nessa questão a importância da Eucaristia na vida do cristão, e vemos que os santos existem para nos lembrar que eles também viveram o seguimento de Cristo, tendo fé em Deus. Eles são exemplos de fé e esperança que deve permanecer sempre com as pessoas. A exemplo de São Tarcísio, estejamos sempre dispostos a ajudar, a servir. Se cada um fizer a sua parte realmente nos tornaremos um só em Cristo.
    Belo testemunho de São Tarcísio, Padroeiro de nossos Coroinhas! Ser coroinha é estar a serviço: a serviço do altar e do próximo. Servir ao altar não é apenas ajudar o padre, transportar os objetos litúrgicos ou executar as funções que lhe são próprias. Servir ao altar é muito mais: é participar do Mistério Pascal de Cristo, ou seja, da Paixão-Morte-Ressureição de Cristo. Servir ao altar é estar aos pés da cruz, é contemplar o Cristo ressuscitado com os olhos da fé, e viver alegremente o Evangelho.
    Estar a serviço do próximo é estar pronto para a doação e a entrega, é ser amparo e consolo para os que necessitam, é saber amar e viver a caridade. A vida de Cristo foi dedicada a servir o próximo. Da mesma forma, o coroinha é chamado a servir como Cristo.
    Na vida do coroinha a oração é fundamental. É pela oração que o jovem aprende a se relacionar com Deus, a se tornar íntimo do Senhor. Na oração recebem-se as graças de Deus, o auxílio para os momentos difíceis e a força para superar o pecado e as falhas pessoais. Sem oração não se pode servir ao altar, pois como vamos estar com Cristo se não temos intimidade com Ele? É a oração que permite ao coroinha exercer o seu serviço ao próximo e ao altar de forma digna.
    Ser coroinha é viver a Eucaristia, é viver Cristo em todos os momentos da vida. A Eucaristia é a fonte de todas as graças, é alimento que fortalece a alma e nos conduz ao Pai. Ao viver a Eucaristia, o coroinha vive o seu serviço com mais dignidade, dedicação, oração e amor e, assim, santifica-se e aproxima-se cada vez mais de Deus.
    Nessa missão, o coroinha deve buscar sempre a alegria e a disposição, o contato fraterno e amigo, o respeito e a dedicação às coisas sagradas. O jovem deve demonstrar que vive sua fé, que observa os Mandamentos de Deus e que procura sempre ser justo e correto. Deve continuamente dar testemunho de que Cristo é o seu Senhor e Mestre. Sendo bons cristãos nessa época da vida, levarão para sempre uma sincera busca de Deus. Embora celeiro de todas as vocações, temos muitos exemplos de padres que saíram das fileiras dos coroinhas.
    O Papa São João Paulo II, no dia 07 de abril de 2004, em sua tradicional Carta que enviava aos sacerdotes do mundo por ocasião da Quinta-feira Santa, recorda que se deve prestar particular atenção à oração e ao compromisso da Igreja para suscitar vocações à vida consagrada: “Cuidai especialmente dos coroinhas, que são como um “viveiro” de vocações sacerdotais”. “Recorrendo à cooperação de famílias mais sensíveis e dos catequistas, segui, com solícita atenção, o grupo dos acólitos para que, através do serviço do altar, cada um deles aprenda a amar cada vez mais o Senhor Jesus, reconheça-O realmente presente na Eucaristia e saboreie a beleza da liturgia”. “Todas as iniciativas para os acólitos, organizadas a nível diocesano e por zonas pastorais, devem ser promovidas e estimuladas, tendo sempre em conta as diversas faixas etárias”.
    Também o Papa Francisco exortou aos coroinhas: “Queridos acólitos, quanto mais estareis próximos do altar, mais vos lembrareis de conversar com Jesus na oração diária, mais vos alimentareis da Palavra e do Corpo do Senhor, e sereis muito mais capazes de ir até o próximo, levando como dom aquilo que recebestes, dando com entusiasmo a alegria que vos foi dada. Obrigado pela vossa disponibilidade de servir o altar do Senhor, tornando este serviço uma academia de educação na fé e na caridade ao próximo. Obrigado também por terdes começado a responder ao Senhor, como o profeta Isaías: “Eis-me aqui, envia-me”. (http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/august/documents/papa-francesco_20150804_ministranti.html, acessado pela última vez em 15 de outubro de 2016).
    Agradeço a Deus pelos milhares de coroinhas que se santificam nas paróquias e comunidades de nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A missão deles é preciosa em nossa Igreja. Deus lhes pague pela sua dedicação e generosidade ao culto divino. Desejo que valorizem em nossas paróquias e comunidades os nossos coroinhas, pois dali saem cristãos que irão viver a vocação à santidade e transformar o mundo. Também neste Ano Mariano e da Família com enfoque vocacional, desse grupo saem muitas vocações para a vida sacerdotal, religiosa e familiar. O papel do grupo de coroinhas é, antes de tudo, o testemunho do bom odor de Cristo Ressuscitado, e, acima de tudo, formar bons cristãos comprometidos com a Palavra e com o serviço do altar.
    Que São Tarcísio os abençoe, caríssimos coroinhas!

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