Rasgai os vossos corações!

    Com a imposição das cinzas estamos iniciando mais um tempo quaresmal. Serão 40 dias que nos separam do Tríduo Pascal e da celebração jubilosa da Ressurreição de Jesus, antecipação da Ressurreição de todos os batizados.

    Duas são as notas fundamentais do tempo que se inicia: a penitência e o arrependimento dos pecados.

    Lembremos que todos nós somos pecadores e precisamos da misericórdia do Pai. Não vamos apontar o dedo em riste para os pecados alheios, sendo que muitas vezes nós escondemos “feiuras” muito significativas e nos colocamos como salvadores da Pátria. Abertos à misericórdia de Deus, na alegria deste itinerário quaresmal em que somos chamados a viver a penitência, o jejum e a abstinência de carne, não apenas para “aparecer”, mas para uma mudança radical de vida que se abre à Divina Misericórdia.

    Na primeira leitura(Jl 2,12-18) o profeta, em nome de Deus, convida o povo a percorrer o caminho da esperança, fazendo penitência; os apóstolos recebem de Deus o ministério da reconciliação; a Igreja repete a boa nova: “É este o tempo favorável é este o dia da salvação” (2 Cor 6, 2). Com todo o povo de Deus, somos convidados a arrepiar caminho, a voltar-nos para o Senhor, a deixar-nos reconciliar, a dar a Cristo ocasião de tomar sobre Si o nosso pecado, porque só Ele o conhece e pode expiar.

    Renovados pelo amor, podemos viver alegre e confiadamente na presença de Deus, nosso Pai, cumprindo humildemente tudo quanto Lhe agrada e é útil para os irmãos. E a presença do Pai, no mais íntimo de nós mesmos, garante-nos a verdadeira alegria.

    No Evangelho(Mt 6,1-6.16-18), mostra-nos qual deve ser a nossa atitude quando praticamos obras de penitência, que são três: a esmola, a oração, o jejum; e insiste na retidão interior, garantida pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude e a orientação do próprio Jesus em todas as suas palavras e obras. Nada fazia para ser admirado pelos homens. Nós podemos ser tentados a fazer o bem para obtermos a admiração dos outros. Mas essa atitude, por um lado, fecha-nos em nós mesmos, por outro lado projeta-nos para fora de nós, tornando-nos dependentes da opinião dos outros.

    O Evangelho nos apresenta as três práticas quaresmais: o jejum, a oração e a esmola. Jesus adverte-nos acerca do espírito com o qual somos convidados a viver estas ações: com humildade diante de Deus, tomando todo o cuidado de não realiza-las para sermos vistos, elogiados pelas pessoas.

    O jejum nos predispõe a oração, pois podemos ficar sem alimento corporal por um período, mas não podemos ficar sem buscar a intimidade e a presença de Deus: “Não só de pão vive o homem mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”(Mt 4,4).

    Jesus deseja que a nossa oração seja um voltar-se para ele de todo o coração(Jl 2,12).

    O jejum, também, nos abre à caridade fraterna, à esmola: o que deixamos de comer, ou de beber, ou economizamos pela nossa abstinência do supérfluo, ao longo da Quaresma, doamos aos mais necessitados. A caridade, fruto do nosso jejum, torna-nos mais semelhantes ao Senhor: benignos e compassivos(Jl 2,13), dando não somente o que temos de sobra, mas o fruto do nosso sacrifício.

    Somos chamados a fazer o bem porque é bem, e porque Deus é Deus, e nos dá oportunidade de vivermos em intimidade e solidariedade com Ele, para bem dos nossos irmãos. Estar cheios de Deus, viver na sua presença, é a máxima alegria neste mundo, e garante-nos essa mesma situação, levada à perfeição, no outro.

    Com a imposição das cinzas, nós rogaremos, insistentemente a Deus pai que abençoe com a riqueza de sua graça as cinzas que vamos colocar sobre as nossas cabeças em sinal de penitência. As cinzas significam que nós nos humilhamos e nos reconciliamos pedindo perdão de nossas faltas para iniciarmos a observância da Quaresma para que possamos celebrar de coração purificado o mistério pascal de Jesus Cristo.

    O convite que Joel dirige aos seus ouvintes deve ressoar a todos nós! Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão. E assim, quase respondendo às palavras do profeta, fizemos nossa a invocação do refrão do Salmo responsorial: “Misericórdia, ó Senhor, porque pecamos”. Proclamando o Salmo 50, o grande Salmo penitencial, apelamos à misericórdia divina; pedimos ao Senhor que o poder do seu amor nos volte a dar a alegria de sermos salvos.

    Com este espírito, iniciamos o tempo favorável da Quaresma, como nos recordou São Paulo na Segunda Leitura(2Cor 5,20-6,2), para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. O apóstolo apresenta-se como embaixador de Cristo e mostra claramente como precisamente através d’Ele, seja oferecida ao pecador, isto é, a cada um de nós, a possibilidade de uma reconciliação autêntica. “Aquele que não havia conhecido o pecado – diz o apóstolo – Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus” (2 Cor 5,21). Só Cristo pode transformar qualquer situação de pecado em novidade de graça. Eis por que assume um forte impacto espiritual a exortação que Paulo dirige aos cristãos de Corinto: “Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus”; e ainda: “Este é o tempo favorável, é este o dia da salvação” (5,20; 6,2).

    O apelo à conversão e à penitência ressoa hoje com toda a sua força, para que o seu eco nos acompanhe em cada momento da vida. Abençoada Quaresma para você, meu querido irmão e minha querida irmã.

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