Para alem do programa Bolsa Família

    É inútil discutir se foi d. Ruth Cardoso, que planejou o Bolsa Escola, ou se foi Lula que, mudado sabiamente o nome para Bolsa Família, é a origem desse Programa. O fato é que se visava eliminar a fome das classes menos favorecidas do Brasil. O sucesso é inquestionável. Com essa ajuda muita gente transpôs os umbrais humilhantes da miséria. Passados 10 anos a situação de fato melhorou. Mas temos ainda 18% de subalimentados. Isso envergonha um país que quer ser de primeiro mundo. A fome não acabou. A Reforma Agrária foi colocada no freezer pelos dois últimos Presidentes. O INCRA sumiu do horizonte. É preciso louvar o Bolsa Família, porque ajudar o semelhante é obra boa em qualquer circunstância. Mas já deu o que podia. Falta dar um passo adiante. Esse Programa é limitado por ser assistencialista. Em vez de formar homens livres, forma eleitores cativos. Ele não é libertador. Um técnico suíço da ONU, Jean Ziegler, prevê que, mesmo prolongando por mais 50 anos, não se resolvem os problemas.

    O que então é preciso fazer? Empatar nos agricultores. Eles são a chave do progresso verdadeiro. Os pequenos agricultores são mais eficientes que os grandes ruralistas. Tem capacidade de produzir mais, matam a fome de milhões de brasileiros, reduzem o desemprego, garantem  o cuidado pelo solo, tornam-se homens verdadeiramente livres. Não recrimino os ruralistas quando conseguem financiamentos para seus projetos. Mas agora é hora de proteger e ajudar melhor os pequenos agricultores. Eles merecem mais financiamentos, garantias de bons preços para seus produtos, boas estradas para o meio rural, aperfeiçoamento da escolaridade. Se isso não for feito, as nossas cidades continuarão inchadas de pessoal sem qualificação profissional, e a fome se fará presente (escondidamente) nos bairros e favelas. Está na hora, não de acabar com o Bolsa Família, mas de ir além. Os olhos da nação se devem voltar para aqueles que desanimaram de levar desvantagem com as secas, as enchentes, as dívidas, as doenças e com os inescrupulosos aproveitadores. Preferem abandonar suas terras, ou arrendá-las para os grandes monopólios. Ainda vai demorar para se cumprir o que dizem as Escrituras: “O Senhor te levará a uma terra onde não será racionado o pão para comer, onde nada faltará. Comerás à saciedade, e bendirás a Deus pela boa  terra que te deu” (Deut 8, 9-10).